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Após a ruptura com o judaísmo
oficial (c. 40), os apóstolos decidiram que os pagãos poderiam entrar para a comunidade
cristã sem estarem obrigados aos preceitos rituais do judaísmo. Esta orientação decisiva teve como
autor e promotor principal Paulo de Tarso, ele próprio judeu convertido, que, ao longo de
suas viagens missionárias (entre 45 e 48), implantou ou firmou o cristianismo no mundo oriental
e helênico e mesmo em Roma, onde Pedro, considerado como chefe da Igreja, foi martirizado em
c. 64.
Cada vez mais enraizada no Império Romano, apesar das perseguições, a Igreja cristã, a partir do século III, principalmente, ultrapassou bastante as fronteiras desse Império. Permaneceu, porém, ainda socialmente urbana, o que explica em parte sua organização muito hierarquizada, à romana, sendo o bispo o personagem central em cada cidade. Entretanto, concílios regionais asseguraram as ligações orgânicas e a unidade doutrinal, arbitrada pelo bispo de Roma, cujo primado parece ter sido aceito desde muito cedo. O desenvolvimento doutrinário. fundado sobre o ensinamento de Jesus e na tradição, foi assegurado por uma reflexão comum e pela intervenção dos doutores ou padres da Igreja Como Agostinho, no Ocidente, ou João Crisóstomo, no Oriente. A conversão de Constantino I e o triunfo oficial do cristianismo pelo Édito de Milão (313) permitiram que a Igreja cristã desabrochasse: protegida pelo Império, passou a inspirar cada vez mais profundamente a legislação, mas os imperadores cristãos imiscuíam-se em sua administração e até em suas disputas doutrinárias. A "paz da Igreja" favoreceu a expansão do cristianismo no campo, com a multiplicação das paróquias rurais, das dioceses, de províncias eclesiásticas e patriarcados. Enquanto os concílios elaboravam uma disciplina sacramental e um corpo doutrinário cada vez mais preciso e vasto, a liturgia se organizava em torno da missa e do ciclo anual de festas. principalmente as festas da Virgem. O monaquismo, surgido muito cedo no Oriente., desenvolveu-se rapidamente no Ocidente. As invasões bárbaras, sobretudo as do século V, fizeram da Igreja, face às ruínas do Império Romano, a guardiã da civilização; posteriormente, a conversão dos bárbaros ao cristianismo, dando-lhes acesso à antiga civilização romana, preparou pouco a pouco a formação de um império cristão, efêmero porém brilhante, sob Carlos Magno (800-814), que, como fizeram os merovíngios e como fariam os carolíngios, se apoiava sobre os papas, os bispos locais e sobre os monges celtas para lutar contra a volta aos costumes pagãos. A expansão cristã no norte da Europa acompanhou esta retomada de pulso; no entanto. a derrota política dos carolíngios, a partir do final do século IX, favoreceu o desmembramento do império cristão. Distinguiram-se três blocos, de forma cada vez mais acentuada: a leste, o Império Bizantino, cujo afastamento de Roma culminou no Cisma (século XI ); a oeste, o mundo latino. que o feudalismo decompôs em todos os planos; ao sul, os países submetidos ao Islã, e que se afastaram, seja definitivamente (África, Oriente Médio ), seja por longo tempo (Espanha), da vida da comunidade cristã. No mundo latino, o embargo dos laicos sobre a Igreja atingiu até mesmo Roma, onde. nos séculos X e XI, os papas eram feitos e desfeitos pelos feudos. Uma reforma profunda se anunciou sob Nicolau II, que fixou a eleição dos papas pelos cardeais (1059), e se ampliou nos séculos XII e XIII. Os papas reformadores, principalmente Gregório VII (1073-1085), Alexandre III (1159-1181) e Inocêncio III (1198-1216), elaboraram ao mesmo tempo uma doutrina teocrática que se chocava com o cesaropapismo dos imperadores romano-germânicos; dai surgiram lutas encarniçadas que culminaram com a querela sobre as Investiduras (1075-1122) e a luta do Sacerdócio e do Império (1154-1250). Entretanto, no âmbito pontifical, desenvolveram-se as grandes forças da cristandade: reforma monástica (Cluny, Cíteaux ), rede paroquial, febre da construção de igrejas (românica e depois gótica), cruzadas na Terra Santa e na Espanha, luta contra as heresias. Pouco a pouco, a Igreja animou toda a vida social. Nos séculos XII e XIII, as ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos ) adequaram seu apostolado missionário e popular ao despertar econômico da Europa e ao ressurgimento das cidades, enquanto o direito canônico tornou-se uma verdadeira ciência eclesiástica. Mas o fim do feudalismo e o nascimento de jovens nações cristãs (França, Inglaterra, etc.) provocaram um regalismo que se chocou com a teocracia pontifícia, ilustrada pela luta entre Filipe, o Belo, e Bonifácio VIII (1294-1303). A instalação do papado em Avignon (1309-1376) e o grande Cisma do Ocidente (1378-1417), que assistiu ao enfrentamento de três papas num determinado momento, desconsideraram um papado freqüentemente voltado para ocupações temporais e desgastado pela burocracia e fiscalização. Enquanto os reis se tornavam cada vez mais os verdadeiros chefes de Igrejas nacionais, concílios gerais - principalmente o de Constança (1414-1418) - puseram em questão o primado papal. O sistema beneficial, novamente em uso, deu lugar a um clero que vivia de rendas, em geral dispensado das tarefas pastorais; a escolástica, que tornou São Tomás de Aquino famoso (1225-1274), afundou-se no procedimento de tal forma que se multiplicaram os movimentos reformistas heterodoxos, simultaneamente nas ordens religiosas (os franciscanos entre outros) e na Igreja (Wicliffe, Hus). As guerras, como a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), contribuíram para o abastardamento do sentido evangélico. |
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Nos séculos XV e XVI, desenvolveu-se uma forte corrente de reforma: inicialmente a Reforma protestante, surgida do humanismo próprio da Renascença e de uma necessidade intensa, conforme Lutero (m. 1546), Calvino (m. 1564) e Zwinglio (m. 1531), de uma religião mais interior; e, mais tarde, a Reforma católica, ou Contra-Reforma, que se manifestou com força nas decisões dogmáticas e pastorais do Concílio de Trento (1545-1563) e encontrou, em alguns papas, principalmente Pio IV (1559-1565) e São Pio V (1566-1572), defensores obstinados. Em sua liturgia, pela renovação da piedade popular, pelo cuidado dispensado à disciplina eclesiástica, pela reforma profunda do clericato (seminários), pela multiplicação das congregações e pela espiritualidade visando a uma vida mística ativa, a Igreja Romana conseguiu sair da decadência e assumir uma imagem moderna. O esforço interno de renovação provocou um élan missionário que acompanhou a fundação dos impérios coloniais europeus. Face ao mundo da filosofia racionalista, deísta e anticlerical, que emergiu com vigor no século XVIII, a Igreja Romana encontrava-se doutrinariamente muito despreparada, devido aos abusos que subsistiam no corpo eclesial e à pouca influência de um papado voltado sobretudo para os próprios interesses temporais na Itália. Disso se aproveitaram o jansenismo, o galicanismo, o febronianismo para questionar sua autoridade e até mesmo sua razão de ser. A Revolução Francesa obrigou a Igreja Romana a uma interiorização que seria reforçada pelo desmoronamento do Antigo Regime, na França (1789-1792), e depois, progressivamente, no resto da Europa. Mas, o que perdeu em poder temporal (em 1870, os italianos, fazendo de Roma sua capital, destruíram os Estados Pontificais), a Igreja ganhou em influência espiritual, sendo o século XIX o século das missões, das congregações de toda espécie, da santidade multiforme: a pessoa do papa, sobretudo a partir de Pio IX (1846-1878), tornou-se objeto de uma veneração que muitas vezes se transformava em culto. Mas as pessoas da Igreja não viram que a civilização contemporânea. marcada pela industrialização, urbanização, pauperização operária, também foi marcada pelo laicismo, o positivismo, o cientificismo, o socialismo. Convencida de possuir a verdade, a Igreja Romana permaneceu longo tempo em posições defensivas: o Syllabus de Pio IX (1864) e o espírito do Concílio Vaticano I constituíram formas extremas da rejeição dos "erros" modernos. Leão XIII (1878-1903) favoreceu o ressurgimento dos estudos tomistas e bíblicos. Pio XII (1922-1939) reorganizou a Academia Pontifícia de Ciências (1936); Pio XII (1939-1958) aceitou o controle de natalidade pelos métodos naturais (1951). Os católicos tomaram consciência da necessidade de aliar uma fé viva na Igreja e uma vida cristã autêntica a uma diversidade cada vez maior de tomadas de posição e de engajamentos políticos e sociais, bem como a um ecumenismo enriquecedor. Nisso eram encorajados pelos próprios papas. que dispensavam, face às ideologias (fascismo, nazismo, comunismo), ensinamentos bastante desenvolvidos. Um deslocamento do eixo vital do catolicismo foi observado a partir do início dos tempos contemporâneos: enquanto. graças às numerosas missões estrangeiras, muitas Igrejas nasciam e se desenvolviam fora da Europa, com clero autóctone cada vez maior, nos países de catolicismo antigo o indiferentismo religioso, a ascensão de ideologias anticlericais e a dificuldade por parte da Igreja em influenciar um sistema social injusto (denunciado pela grande encíclica de Leão XIII, Rerum novarum, 1891 ) fizeram com que, após a I Guerra Mundial, a Igreja Romana parecesse ter perdido sua posição de árbitro nos conflitos políticos e ideológicos. Após a II Guerra Mundial, a Igreja se defrontou com novos problemas: uma transformação fundamental da civilização; a expansão do comunismo estatal na Europa e do islamismo na África e no Oriente Médio; a formação de novas ditaduras. Adotou, então, novos métodos: universalização acentuada da hierarquia eclesiástica; constituição acelerada de cleros nativos, independentes da metrópole; renovação da catequese, da pastoral, da vida litúrgica. O Concilio Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII (m. 1963) e prosseguido por Paulo VI (m. 1978), foi um acontecimento fundamental na história da Igreja Católica, que tentou, assim, adaptar sua mensagem à grande crise da civilização do fim do século XX; ao mesmo tempo, através de um ecumenismo ativo, ela juntava seus esforços aos de outras Igrejas e até mesmo de outras religiões. A partir de Paulo VI, e sobretudo com João Paulo II, papa em 1978, os soberanos pontífices. rompendo uma velha tradição, viajam pelo mundo, levando assim em conta o deslocamento das forças católicas para outros continentes, principalmente para a África e a América Latina. |
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