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"Tendia a missão, enquanto impulso expansivo da Igreja Católica, a exercer uma influência mais além do eclesiástico, atacando um sistema colonial fundado na superposição de uma camada de senhores e na exploração do indígena. Não demorou para que alguns discípulos da Companhia de Jesus mostrassem grande interesse em serem enviados ao Novo Mundo. Não contaram, entretanto, com a aquiescência do Papa, a quem o fundador da Companhia havia jurado obediência absoluta. Consideravam-se mais necessários os trabalhos dos jesuítas dentro da própria Europa, onde tanto havia que fazer, como os teólogos mais qualificados da igreja, para deixá-los dispersarem-se pelas missões na conversão de infiéis. Somente por volta de 1565 vieram os primeiros jesuítas para a América espanhola, numa expedição orientada para combater os huguenotes franceses alojados na Flórida. "Se simplifica em demasia o fato histórico, quando se faz derivar exclusivamente da Contra-reforma a expansão mundial da Igreja Católica da Época Moderna, e igualmente quando se supõe que essa expansão foi desencadeado pelos jesuítas. A revivescência e ativação das forças missionários da cristandade ocorreram na Idade Média tardia, por obra das ordens mendicantes, e a reforma desses institutos monásticos, em fins do século XV e começos do século XVI, reavivou o ardor apostólico em suas comunidades. A Companhia de Jesus não só apareceu mais tarde, senão que primeiro teve que fortalecer-se internamente e superar fortes resistências do governo espanhol, antes de poder cumprir sua grande obra de evangelização ." Em Portugal a Companhia de Jesus havia sido favorecido desde 1540, durante o reinado de D. João III, e graças a ele puderam os jesuítas estabelecer-se na América portuguesa sem encontrar os impedimentos colocados aos jesuítas espanhóis por Filipe II e pelo Conselho das Índias." Fonte:
Brasil
História - Texto e Consulta: 1 Colônia / Antonio Mendes Jr.,
Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense,
1979
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"Para
São Francisco dois grandes males afligiam o mundo cristão do seu
tempo: a arrogância dos ricos e a arrogância dos eruditos. Diz-se que
informado de haver certo doutor parisiense, dos finos, dos sutis,
entrando como frade num convento franciscano, teria dito: “Estes
doutores, meus filhos, serão a destruição da minha vinha”. Os jesuítas
tornaram-se precisamente os doutores da Igreja; os seus mais
agudos intelectuais. Os seus grandes homens da ciência.
Tornaram-se
notáveis pelas suas gramáticas, pelos seus compêndios de retórica,
pelos seus relógios, mapas e globos geográficos. E, entretanto, como
observa Freer (Artur S. B. Freer, The early
franciscans and jusuits,
Londres, 1922): “with
all their self-confidence they failed; for,
unlike the Franciscans, their spirit was not the spirit of the coming
ages” (com toda a sua auto-confiança eles falharam; pois,
ao contrário
dos franciscanos, o seu espírito não era o espírito dos séculos
vindouros”). Aos indígenas brasileiros parece teria beneficiado mais a orientação do ensino missionário dos franciscanos. Estes - salienta em sugestivo livro frei Zephyrin Engelhardt - onde tiveram o encargo das missões junto a ameríndios, orientaram-nas em sentido técnico ou prático. Sentido que faltou ao esforço jesuítico no Brasil. Os franciscanos preocuparam-se acima de tudo em fazer dos indígenas artífices e técnicos, evitando sobrecarregá-los de esforço mental que os indígenas odiavam mais do que o trabalho manual. Acrescenta frei Engelhardt sobre o método franciscano de cristianizar os indígenas: “we do not find that Christ directed His Apostles to teach reading, writing and arithmetic" (“nós não achamos que Cristo dirigia seus apóstolos para ensinar a ler, escrever e contar "). E rebatendo a acusação de que os franciscanos só se teriam preocupado nas suas missões em formar aprendizes e técnicos: “they gave the Indians the education wich was adapted to their needs and probable future condition in society” (“eles deram aos índios a educação que foi adaptada às suas necessidades e provável condição futura na sociedade”.) ... Que para os indígenas teria sido melhor o sistema franciscano que o dos jesuítas parece evidente. Gabriel Soares descreve os Tupinambá como tendo “grande destino para saberem logo estes officios”, isto é, os de “carpinteiros de machado, serradores, oleiros”; e “para todos os officios de engenho de assucar”; e, ainda para “criarem vaccas”. As mulheres para “criar gallinhas”, “coser e lavar”, fazer “obras de agulha”, etc. ... O homem indígena, porém, quase que só encontrou, nos adventícios, senhores de engenho para os fazerem trabalhar na lavoura da cana e padres para os obrigarem a aprender a contar, a ler e a escrever; mais tarde a mourejar nas plantações de mate e cacau. Qualquer dessas atividades impostas ao indígena cativo ou catecúmeno vinha torcer-lhes ou desviar-lhes a energia em direções as mais repugnantes à sua mentalidade; a imposta pelos padres afastando-os do contato, que tanto os atraía aos adventícios, das ferramentas européias, para fixá-los na tristeza dos cadernos e dos exercícios de gramática; as outras afetando-os no que é tão profundo nos selvagens quanto nos civilizados - a divisão sexual do trabalho; obrigado-os a uma sedentariedade letal para homens tão andejos; segregando-os; concentrando-os nas plantações ou nas aldeias em grandes massas de gente, por um critério inteiramente estranho a tribos acostumadas à vida comunitária mas em pequenos grupos, e estes exógamos e totêmicos. Quando o que mais convinha a selvagens arrancados ainda tão crus da floresta e sujeitos a condições deletérias de sedentariedade era a lide com as ferramentas européias; um doce trabalho manual que não os extenuasse como o outro, o da enxada, mas preparasse neles a transição da vida selvagem para a civilizada. ... Campeões da causa dos indígenas, deve-se em grande parte aos jesuítas não ter sido nunca o tratamento dos nativos da América pelos portugueses tão duro nem tão pernicioso como pelos protestantes ingleses. Ainda assim os indígenas nesta parte do continente não foram tratados fraternal ou idilicamente pelos invasores, os mesmos jesuítas extremando-se às vezes em métodos de catequese os mais cruéis. Da boca de um deles, e logo do qual, do mais piedoso e santo de todos, José de Anchieta, é que vamos recolher estas duras palavras: “espada e vara de ferro, que é a melhor pregação”. Fonte: O indígena na formação da
família brasileira in Casa Grande e Senzala /
Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.
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