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Traindo
seus comandados, concordou em negociar com o governo central, que havia
mandado a Belém uma esquadra com cerca de seiscentos homens, e aceitou
o novo presidente da província, Manuel Jorge Rodrigues.
Iniciava-se a terceira etapa da revolução. Antônio Vinagre e Angelim refugiaram-se no interior. Reorganizaram suas forças – tropas de tapuios, índios, caboclos e negros – e voltaram a atacar Belém à frente de 3 mil homens. Após nove dias de lutas, Belém voltou a ficar sob o controle dos cabanos. Com o desaparecimento de Francisco Vinagre, morto em combate, assumiu o governo provincial Eduardo Angelim, com apenas 21 anos de idade. Uma das reivindicações dos cabanos era a libertação dos escravos. Por ser casado com uma fazendeira, Angelim não teve a coragem de dar esse passo. Muitos resolveram então fazê-lo à sua maneira, o que provocou mortes e saques. Por três dias comemoraram esta etapa de luta com danças e discursos pelas ruas. Livres dos opressores e dos legalistas, isto é, dos que apoiavam o imperador, os cabanos tiveram de enfrentar um novo inimigo: a fome. Durante este tempo de guerra as plantações foram abandonadas e a carne que vinha da ilha de Marajó foi bloqueada pelos navios da Marinha. A fome em Belém era tanta que, segundo um escritor da época, o povo só tinha para comer “ervas agrestes dos quintais abandonados, raízes e couro seco, reduzido a uma espécie de cola dura e indigesta”. A violenta repressão Sem muita estrutura e organização, os problemas do novo governo aumentaram. A falta de comida estimulava as intrigas e as divergências. Em abril de 1836, chegava a Belém um novo governador, acompanhado de um grande número de soldados, mercenários estrangeiros e criminosos soltos das prisões do Sul e do Nordeste. Sem condições de enfrentar este novo ataque, Angelim e os cabanos fugiram para o interior, onde a resistência continuou. A repressão desencadeada pelo governador foi terrível. De uma população de 80 mil pessoas que viviam em toda a província, foram mortas quase 30 mil, isto é, cerca de 40% da população. Qualquer denúncia bastava para alguém ser considerado cabano e, em seguida, morto. Os mais atingidos foram os indígenas e os tapuios. Na região de Tapajós, onde, em 1820, havia 30 mil indígenas, quarenta anos depois só restavam 3 mil. Em 1839, o governo do Rio de Janeiro, diante da insistência dos cabanos em continuar a luta, resolveu anistiar os líderes revolucionários, exceto os que cometeram homicídio e os dois chefes, Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, que foram deportados. Ainda hoje, 150 anos depois, o povo se lembra dessa luta e chega a dizer: “a Cabanagem não acabou: veja o povo na rua”. A Cabanagem continua sendo a maior revolta popular do Brasil. |
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