As
tropas de bugreiros compunham-se, em regra, de oito a quinze homens. A
maioria era aparentada entre si. Atuavam sob a ação constante de um
líder, que tinha sobre o grupo pleno poder decisão. As referências que
logramos obter sobre essas tropas indicam que a quase totalidade era
formada por caboclos, conhecedores profundos da vida do sertão. Ao
formar um grupo, o líder não tratava apenas de prestar serviços às
colônias e seus habitantes. Também viajantes, tropeiros e agrimensores
utilizavam-se constantemente dessas tropas para sua proteção quando
necessitavam atravessar ou permanecer em territórios onde a presença
indígena era freqüente.
Quando
os bugreiros eram chamados por colonos, pelos administradores das
colônias ou pelo governo para realizarem expedições de afugentamento do
selvagem, eles se preparavam verdadeiramente para uma expedição de
guerra. Eduardo Hoernhan, em relatório apresentado ao Serviço de
Proteção aos Índios, assim os descreve:
“Infinitas
precauções tomam, pois é preciso surpreender os índios nos seus ranchos
quando entregues ao sono. Não levam cães. Seguem a picado dos índios,
descobrem os ranchos e, sem conversarem, sem fumarem, aguardam a hora
propícia. É quando o dia está para nascer que dão o assalto. O primeiro
cuidado é cortar as cordas dos arcos. Depois praticam o morticínio.
Compreende-se que os índios acordados a tiros e a facão nem procuram
defender-se, e toda heroicidade dos assaltantes consiste em cortar
carne inerme de homens acobardados pela surpresa. Depois das batidas
dividem-se os despojos, que são vendidos a quem der mais, entre eles os
troféus de combate e as crianças apresadas”.
(Santos, Sílvio Coelho dos. Índios e brancos no sul do Brasil – a dramática experiência dos Xokleng. Florianópolis: Edeme, 1973. p. 83-4.)