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Cavalhada  em Pirenópolis - Goiás : Ciclo do Divino
Cavalhada Pirenópolis

Sob o nome de Arraial das Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, Pirenópolis foi fundada em 1727 pelos bandeirantes paulistas, que desbravavam os sertões da província de Goiás em busca de ouro. A posterior denominação de Pirenópolis se deu graças a um padre espanhol que percebeu a semelhança entre os montes que se estendem junto à cidade e a famosa cordilheira situada entre a França e a Espanha, os Pirineus. Em 1728 foi iniciada a construção da Igreja da Padroeira. A cidade possui um dos mais preservados conjuntos arquitetônicos coloniais do centro-oeste. Esse cenário de fachadas do século XVIII e ruas caom calçamento de pedras compõem-se perfeitamente com os costumes introduzidos ali por jesuítas portugueses, que em 1819 organizaram a primeira Festa do Divino.

No decorrer dos anos, como todo fenômeno folclórico, a festa foi sendo enriquecida com a informações de outras culturas, como é o caso das influências africanas e indígenas, que hoje nota-se através das congadas, da banda de couro e dos mascarados. É, aliás, a presença dos mascarados, o que mais diferencia a Cavalhada de Pirenópolis das demais do Brasil afora, é um dos elementos que a torna mais fascinante. Responsáveis pelo lado cômico da festa, esses fantásticos cavaleiros percorrem as ruas da cidade fazendo grande algazarra, vestidos com fantasias coloridas e grotescas, os rostos escondidos atrás de máscaras que têm como tema, na sua maioria, alegres e expressivas caras de boi. Os cavalos são enfeitados com fitas e flores de papel, e ainda carregam guizos feitos de lata vazias ou algum outro adereço barato e barulhento, criando um som característico que denuncia a chagada dos cavaleiros e o identifica em todos os pontos da cidade. Aproveitando a situação de disfarce, em que não são reconhecidos nem mesmo pelos seus parentes, os mascarados acabam se tornando críticos mosdazes dos usos e costumes locais, e com suas vozes esganiçadas implicam com desafetos, zombam de comerciantes, xingam políticos e falam mal do padre...

O momento mais esperado é o da cavalhada, esse folguedo popular originário da Península Ibérica (onde era elemento de destaque nas festas religiosas e políticas), e que encontrou terreno fértil em diversas cidades do interior do Brasil. Em Pirenópolis a cavalhada foi incorporada poucos anos após a primeira Festa do Divino e representa as lutas travadas entre Carlos Magno, Imperador cristão, e os mouros de fé muçulmana que invadiram a Europa. Durante os três dias de festa se desenrola todo um teatro que envolve embaixadas, duelos, batalhas e torneios, na realidade uma boa justificativa para os cavaleiros desmonstrarem sua destreza e perícia. Os movimentos rápidos e manobras ousadas surpreendem e provocam aplausos entusiasmados e demorados do público.

As lutas são simuladas por 24 personagens. Cada exército possui um rei, um embaixador e dez soldados. Todos Vestem trajes ricamente ornamentados com rendas, arminhos e capas de veludo bordadas com miçangas e canutilhos. Também os animais são bastante enfeitados, tendo medalhas nos peitorais, guizos, fitas e flores pelo corpo e os cascos pintados de dourado. Azul é a cor dos cristãos, vermelho a dos mouros. Armados de lança, espada e pistola, esses grupos incorporam uma atitufe formal e respeitosa durante a festa.

Cavalhada de Pirenópolis
Mascarado

Por volta do meio-dia do Domingo de Pentecostes, os cavaleiros saem de suas casas para forma as alas de mouros e cristãos. As duas filas não podem se cruzar numa mesma rua, pois são inimigos que se dirigem ao campo de batalha. O local destinado para as lutas é uma área gramada, semelhante a um campo de futebol. Ao redor, as famílias abastadas da região constroem palanques que são utilizados como camarotes, enquanto tábuas colocadas à frente das estruturas servem como arquibancadas para as milhares de pessoas que chegam para assistir à refrega.

Recebidos sob intenso foguetório, os 24 cavaleiros se postam na arena, cada grupo em lados oposto, que são chamados castelos, em posição de confronto. No lado dos cristão está escondido um espião mouro. Curiosamente, não é um soldado, mas o onça, um mascarado vestido com pele de felino. Descoberto pelo vigia cristão, o onça é morto, o que provoca o início das hostilidades.

Começa a dramatização, e cada grupo percorre a metade do campo que lhe é destinada, fazendo o reconhecimento da praça, enquanto músicas são executadas pela banda da cidade, fundada em 1893. Em seguida os reis começam com as embaixadas, quando cada embaixador conclama o adversário a mudar de religião. Como não se consegue nenhum tipo de entendimento, segue-se então arrazoado dos reis, onde eles se defrontam pessoalmente.

Diz o mouro: “Eu sou o grande sultão, Senhor da Mauritânia, Senhor de meio-sol e meia-lua...

e responde o rei cristão: “Eu sou Carlos Magno, dos príncipes da Europa o mais poderoso...

É então declarada a guerra, que se desenrola no dia seguinte, segunda-feira. Fica acertado entre os lutadores que o perdedor abraçará a crença do vencedor. O combate é representado pelas carreiras, em que os dois partidos procuram mostrar sua supremacia mediante eficiência e habilidade no desempenho das manobras, obedecendo a complicadas coreografias que recebem nomes diferentes como: “fogo negado”, “guerrilha” e “castelinho”. No intervalo das batalhas, o campo é invadido pos mascarados, que em correrias malucas divertem o público. A apresentação se encerra com a vitória dos cristãos e a imposição do batismo aos mouros

O último dia de festa é marcado por vários torneios e a Cavalhada assume o caráter de jogos. O mais empolgante deles é o das argolinhas, em que os cavaleiros tentam retirar, com as pontas de suas lanças, em plena corrida, pequenas argolas que pendem de um arco fincado num dos lados do campo. O clímax da festa contagia a platéia que agora se divide em torcidas que vibram entusiasticamente pelas cores de suas equipes.

O espetáculo termina com os cavaleiros acenando com seus lenços. Através de lágrimas que correm, tanto dos que assistem, quanto dos cavaleiros nas suas despedidas, percebe-se a força de uma manifestação que, magicamente, atravessa os séculos. Multiplo, irreverente, sagrado, colorido, o universo da Cavalhada de Pirenópolis, expresso na dedicação de homens que se esforçam para manter viva sua identidade, é uma celebração dos caminhos que levam o povo a perpetuar uma tradição de fé, prazer e muita alegria.

Cavalhada de Pirenópolis
Mouros
Cavalhada de Pirenópolis
Cristão

Texto de Rudy Hühold
Fotos de Jacqueline de Oliveria e Rudy Hühold
Cavalhada de Pirenópolis – Festa do Interior in Revista Horizonte Geográfico, Ano 12, nº 65 – Audichromo Editora Ltda, 1999



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