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O Couvade

Couvade: do francês couver, latim cubare, covada, choco.

É o resguardo tomado pelo pai, antes, durante ou depois do parto da mulher. Ele, e não ela, toma as precauções minuciosas de dieta, posição e movimento. A existência do filho dependerá do fiel cumprimento da couvade.
Esse costume, com variadas superstições conexas, está espalhado em todo mundo. Comuníssima às tribos do continente americano, tem área geográfica muito maior. Seu ambiente é universal.
Encontrou-se no México, entre os Klamath do Oregon, entre os zunis do Arizona e do Rio Grande, em Malabar e África de Leste, na África Equatorial, nas ilhas de Andaman, na China, nos papuas da Nova Guiné, na Índia, em Bengala, em Bornéu, na Austrália, entre os Bascos, na Tartária e Turquestão Chinês, entre os ainos, na Ásia Oriental.

Couvade
Casal indígena em Couvade
(Veja texto abaixo)
Diodoro da Sicília (Bibliothèque Historique, II, 14-15, liv. V. Paris, 1912), citando a couvade na Córsega, informa que:
dés qu'une femme a accouché, le mari se couche sur le lit, comme s'il était malade, et s'y tient pendant un nombre fixe de jours comme une accouchée”.

No Brasil, os cronistas coloniais observaram esta tradição.
Frei José de Santa Rita Durão (Caramuru, Canto II, verso LXII) fixa couvade brasileira numa oitava rima:

“Ali chegando a esposa fecundada
A termo já feliz, nunca se omite
De pôr na rede o pai a prole amada,
Onde o parente e amigo o felicite;
E como se a mulher sofrera então se admite,
Qual fora tendo sido em modo sério,
Seu próprio, e não das mães, o puerpério.”

O choco ou couvade colocava o homem em situação de receber, por “doente”, atenções que doutra maneira caberiam só à mulher, com a qual ele se identificava pelos resguardos e cuidados especiais que se impunha: “o marido se deita logo na rede, onde está muito coberto [...] em o qual lugar o visitam parentes e amigos, e lhe trazem presentes de comer e beber, e a mulher lhe faz muitos mimos [...]” (Gabriel Soares, Roteiro Geral).

Sociologicamente talvez represente a couvade o primeiro passo no sentido de reconhecer-se a importância biológica do pai na geração. É preciso considerar o fato de raramente haver conexão essencial para o selvagem entre o intercurso sexual e a concepção. A noção de paternidade ou maternidade, noção antes sociológica, pela qual se estabelecem a descendência e família entre os primitivos, corresponde em geral ao conhecimento apenas aproximado, vago da interferência de um ou outro sexo no processo de geração. Entre várias tribos do Brasil dominava a crença de nascer o primeiro filho da interferência de um demônio chamado uauiara com forma de um peixe, o boto, considerado o espírito tutelar dos demais peixes. (Couto de Magalhães, O Selvagem, Rio, 1876).

Parece , entretanto, que a noção mais geral, ao tempo da descoberta, era a referida por Anchieta de ser o ventre da mulher um saco no qual o homem depositasse o embrião. Von den Steinen, aprofundando-se no estudo da couvade, foi dar com a noção, entre os indígenas do Brasil central, de ser o homem quem deita o ovo ou os ovos no ventre da mulher, chocando-os durante o período da gravidez. O ovo é identificado com o pai; de tal modo que a palavra “ovo” e a palavra “pai” em Bakairi têm igual derivação. O filho não é considerado senão a miniatura. No ventre da mãe só faz desenvolver-se como a semente na terra. Daí supor o selvagem que os males que afetam o pai possam afetar, por efeito de magia simpática, ao filho recém-nascido. Daí resguardarem-se em geral os dois: pai e mãe; ou exclusivamente o pai.

Entre os indígenas:

Jean de Léry (1880), ouviu uma vez uns gritos de mulher. Foi ver o que se passava, acompanhado de outro francês, e descobriram os dois que os gritos eram de uma mulher parindo. O marido servia de parteira: foi ele quem Léry viu cortar com dos dentes o umbigo do menino; ele quem o francês surpreendeu achatando o nariz do bebê em vez de afiná-lo, segundo o costume europeu; lavando e pintando de encarnado e preto o recém-nascido. Este era depois colocado numa pequena rede de algodão ou metido nuns “pedaços de rede que chamam tipóia” e amarrado às costas ou aos quadris da mãe.

Darcy Ribeiro, na primeira expedição em 1950, entre os Urubus-Kaapor, registra o Nascimento e resguardo:

"Pouco antes do mês em que espera o filho, o pai prepara o quarto onde dormem, fechando todas as goteiras com palha, e faz um buraco no chão, redondo, de um palmo de fundura por uns dois de diâmetro.
Assim que a mulher sente as dores, ela se agacha ali, sustentada pelo marido; ele a ampara pelas axilas, entrega-lhe uma garrafa para soprar até que a criança nasça, pousando naquele buraco que foi coberto de folhas de bananeira selvagem. A mãe, então, diz: 'Já pari', ao que o pai responde: 'Já pari também'. Ele vai para a rede e ela toma a criança, retira a placenta e corta o umbigo com uma tala de 'flecha'. Banha o filho ou o faz banhar por uma velha e enterra dentro do quarto mesmo a placenta e o umbigo. Então descansa a criança numa pequena rede e deita-se. Quando a criança chora, ele a leva para à mãe para ser amamentada.
O resguardo do homem (ver couvade) é de cinco dias, ou melhor, dura até a queda do umbigo, que ele toma, enrola num pauzinho, coloca num patuá e, com ele, sai para caçar. Essa moqueca do umbigo do filho lhe dá sorte. Mais longo é o período de cuidados porque ele está muito debilitado pelo parto. Caso precise sair de casa antes dos cinco dias ou mesmo quando vai satisfazer alguma necessidade, amarra um pano à testa, 'para não ficar careca depressa', e leva uma flecha ao ombro, 'para não perder a vista'.
A mãe fica dez dias na rede sem levantar-se. Ao fim desse prazo, pode andar dentro de casa sem fazer grandes esforços; só ao vigésimo dia do parto pode sair, mas ainda por muito tempo estará fraca, não devendo fazer trabalhos pesados.
Durante o resguardo, homem e mulher só devem comer farinha seca e jabuti branco. Quando a mãe levanta, faz uma moqueca de pano bem pequena, coloca dentro o umbigo seco do filho e prende num colar de dentes e chifres de caças lavrados, que o pai dá ao filho."


Fontes : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.


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