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O Habitar
O Habitar O primeiro sentido de habitação é a casa, o obrigo, o estar protegido.
Examinada através da história, a habitação ganha significação humana mais nítida. Como espaço organizado pelo homem, a habitação expressa a sua maneira de ser.
Habitar é estar em segurança, estar envolvido dentro daquilo que nos é parecido.
Habitar não só a casa, mas habitar no trabalho, no lazer, na cidade.
Habitação é a organização e o arranjo dos espaços para a vida.
Estar em casa - se sentir bem, ter o domínio da situação, estar em paz, estar à vontade, no aconchego familiar.

Nos três primeiros séculos da colonização, o aspecto das moradas, nas vilas e nas cidades, apresenta-se bastante simples e pobre, uma vez que eram povoadas por pessoas com poucos recursos, e visitados ocasionalmente pelos proprietários de sítios e fazendas que necessitavam apenas de um abrigo para estadias passageiras.
A morada rural no Brasil consistia em uma choupana de paus toscos e palhas de pindoba, mobiliada com duas ou três esteiras, mesa e três pedras servindo de fogão.
O trabalho árduo para a sobrevivência não deixava muito tempo livre para se pensar em requintes na moradia.
As construções urbanas eram casas de tamanho reduzido, de apenas um andar, nas quais predominavam os materiais disponíveis na região, como barro, madeira ou pedras.
Os sobrados e as vivendas, ocupadas pelos membros da elite, surgiram mais tarde, em consequência da diversificação da economia e do crescimento urbano. Já no início do século XIX, o viajante inglês Luccock registrava no Rio de Janeiro a sobrevivência das casas dos primeiros tempos: “Muitas das casas possuem somente um andar”, Leithold e Rango confirmavam que a maioria das casas eram térreas, mas que, além destas, havia outras de dois, três e quatro pavimentos com balcões de ferro ou madeira.
Segundo Carlos Lemos, a morada urbana se manteve mais fiel à arquitetura portuguesa, pelo menos na aparência, embora não descartasse as influências indígenas e as adaptações dos colonos quanto ao modo de morar; já nas propriedades rurais, a falta de uniformidade foi mais marcante.

No campo ou na cidade, nas casas dos rico ou dos pobres, a morada colonial não se restringia às áreas edificadas, ou à construção principal; quintais, jardins, pomares e hortas, além de anexos, estes cobertos de telhas ou palha, eram geralmente circundados por muros baixos que delimitavam o espaço doméstico. Na São Paulo dos bandeirantes, os inventários de seus moradores referem-se com frequência a esses espaços.
Um dos inventários dizia: “sítio com casas de taipa cobertas de palha, com seu quintal plantado de feijões, bananeiras, com uma parreira”.
Essas áreas destinadas ao convívio, ao cuidado dos animais e à indústria doméstica forneciam também produtos para a subsistência. Era das hortas e pomares que vinham muitas vezes os alimentos básicos para a mesa dos colonos, uma vez que a economia colonial voltada para o exterior impunha a cultura de certos produtos para o dia a dia.
Essas casas cobertas de telhas no quintal devem ser os anexos que encontramos de sul a norte do país, ao longo de todo o período colonial. Alguns rústicos, simples telheiros, outros melhor edificados, abrigavam a casa da farinha, o monjolo ou a moenda. Serviam também para guardar utensílios e alimentos de toda a espécie e era nessas dependências de trabalho que se passava boa parte do tempo, principalmente as mulheres da casa.
As casas eram voltadas para dentro, às vezes com pequenos jardins ne frente, e era na parte dos fundos que a vida doméstica se desenvolvia intensamente. O clima quente predominante e as poucas portas e janelas que permitiam o arejamento, levavam a família e demais ocupantes do domicílio para suas partes externas, tanto nas horas de lazer como de trabalho. Nas casas mais amplas e abastadas, o alpendre nos fundos, ou uma varanda propriamente dita, servia de espaço para as refeições.

Banheiro ou privada: Além das áreas de serviço, o quintal podia conter a senzala e a secreta. Esta última era uma edificação com fins de higiene existente em algumas casas mas que consistia muitas vezes apenas num buraco na terra, embaixo do qual podiam se instalar os chiqueiros.
Na maioria das vezes, todavia, era o urinol e os potes ou tigres que recebiam os excrementos, esvaziados depois pelos escravos, nas praias ou nos terrenos distantes.

Quanto aos cativos, quando por falta de espaço não dispunham de uma senzala ou galpão, estucavam à noite suas esteiras em qualquer lugar, inclusive na cozinha, próximas ao fogão. Tal era o costume nas casas mais simples da cidade, que dispunham de um ou dois escravos para todos os serviços. Nos sobrados do século XVIII e XIX, os escravos dormiam no porão ou no rés do chão.

No mundo rural, as senzalas sempre presentes nas grandes fazendas abrigavam um número bem maior de escravos. Porém, como as demais habitações, as senzalas variavam muito, cobertas de palha ou telhas, erguidas com tijolos, madeira ou pedra. Algumas dispunham de divisórias internas, outras abrigavam apenas mulheres, mas estavam sempre presentes quando o número de escravos era relevante.

Os quintais com pomares e hortas aparecem com frequência nos registros dos séculos XVI a XIX, os jardins despontam com mais assiduidade nos relatos do início do século XIX.

Em Minas Gerais, por exemplo, uma única cobertura abrigava a casa, os quartos de hóspedes, a moenda e até o próprio engenho, diferente do padrão do Nordeste, com suas construções isoladas, gravidando ao redor da casa-grande.

As casas dos homens pobres e livres, no campo e na cidade, consistiam em pequenas choupanas com apenas um ou dois cômodos, nos quais se dormia, cozinhava e que muitas vezes abrigava uma pequena oficina.
O chão batido e a fumaça que enchia o único ambiente, em razão da ausência de chaminés e das poucas janelas. Em meio às panelas e o fogão de pedra, armavam-se as redes ou estendiam as esteiras à noite.

No início do século XIX, Mawe descreve uma cozinha: “...um compartimento imundo, com chão lamacento, desnivelado, cheio de poças d'água onde pousam as panelas de barro, em que cozinham a carne. O lugar fica cheio de fumaça que, por falta de chaminé, atravessa as portas e se espalha pelos outros compartimentos deixando tudo enegrecido de fuligem”.

As casas dos indivíduos com algumas posses dispunha de mais aposentos, geralmente enfileirados. O da frente com janela para a rua, servindo de sala, e os demais acessíveis por um corredor lateral, que serviam de quarto de dormir, consistindo por vezes nas chamadas “alcovas” sem janelas. No final instalavam-se a cozinha e o alpendre, que davam para o quintal. Esse é o padrão geral para quase todo o país e perdurou até a segunda metade do século XIX.
Nem sempre a condição social dos indivíduos determinava que houvesse divisão detalhada dos cômodos. Nota-se que o que poderíamos chamar de sala de estar assumia, à noite, a função de quarto de dormir.

Quanto aos “sobrados”, cujo significado referia-se ao espaço sobrado ou ganho em virtude de um soalho suspenso, o que, portanto, podia indicar que estava acima – forros assoalhados – ou embaixo do piso, chegavam a ter dois ou mais andares.
No interior dos sobrados maiores , a exemplo das vivendas do campo, várias atividades se desenvolviam , tendo o cuidado de separar as diversas atividades. A loja, ou escritório, instalada no primeiro pavimento, no segundo andar a sala e os quartos de tamanhos geralmente reduzidos, e no último a cozinha. Os escravos poderiam estar no sótão ou no porão junto às cavalariças. Os aposentos eram destinados às atividades específicas, como repouso, lazer, alimentação, orações, trabalho, etc. Os quartos se comunicavam entre si, sem a intermediação de uma área de circulação.
As alcovas podiam ser aproveitadas tanto para quartos como para a instalação da capela ou despensa, e eram dispostas no centro das habitações.

Com o tempo a cozinha passou a integrar o corpo da casa. Algumas casas mantinham as duas cozinhas: uma “limpa” dentro de casa e a “suja” ainda do lado de fora, onde se cozinhava os doces por várias horas, e se procediam as tarefas mais pesadas e menos higiênicas. O fogo ou o local onde se encontrava o fogão servia de espaço de aconchego e era em torno dele que a família se reunia. Sempre que possível, os fogões e jiraus foram levados para fora e deixados a cargo das escravas, mesmo nas regiões mais frias, como o sul do país.

As capelas, que existiam nas vivendas no campo, junto aos alpendres fronteiriços, ou até em edifícios separados que reuniam os membros do domicílio, incluindo os escravos, foram sendo substituídos pelos oratórios, colocados em nichos nas paredes ou nos quartos (oratórios portáteis) para uso individual.

O espaço domiciliar reúne, em certos casos, apenas pessoas de uma mesma família nuclear e um ou dois escravos, em outros, somava-se a essa composição agregados e parentes próximos, como mães viúvas ou irmãs solteiras. Por vezes encontramos domicílios compostos de padres com escravas, concubinas e afilhadas, ou então comerciantes solteiros com seus escravos, em outros, ainda, mulheres com seus filhos, porém sem maridos; ou situações em que o casal de cônjuges e a concubina do marido vivendo sob o mesmo teto. Isso sem falar nos filhos naturais e ilegítimos que muitas vezes eram criados como legítimos. Muitas foram as formas que a família colonial assumiu.

As residências não dispunham de água encanada e seu abastecimento era através de poços e cisternas, mas mais frequentemente dos rios e dos chafarizes públicos. A lavagem da roupa e da louça eram efetuadas nas áreas de serviço situadas fora das casas, ou à beira dos rios. Até o banho de rio era preferido às gamelas e jarras. Quando a água encanada finalmente chegou, o hábito se manteve, com a instalação dos tanques nas dependências externas da casa. Enquanto isso não ocorreu, no mundo urbano, o vaivém dos escravos, que se incumbiam do abastecimento de água, propiciava os encontros dos cativos e os inevitáveis mexericos sobre o que se passava nos domicílios.




















Fonte : História da vida privada no Brasil 1 / organização Laura de Mello e Souza. - São Paulo: Companhia das Letras, 1997.


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