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Monoteísmo no Antigo Egito

Monoteísmo: (do grego monos, único + theos, Deus). Crença em um só Deus.

O primeiro registro sobre Monoteísmo (um único Deus, invisível, criador do céu e da terra, e de todos os seres viventes) vem da XVIII (18ª) dinastia do Egito, durante o reinado do faraó Amenófis IV - Akhenaton (1367-1350 a.C.).

Akhenaton compôs um poético hino que aparece entre os escritos mais belos da literatura egípcia, do qual colhemos alguns trechos:

“...Quão numerosas são as tuas obras!
Elas são irreconhecíveis aos olhos (dos homens)
Tu, Deus único, afora de ti nenhum outro existe.
Tu criastes a terra ao teu desejo,
Quando Tu estavas só,
Com os homens, o gado, e todos os animais selvagens.
E tudo o que há sobe a terra - e anda sobre seus pés -
E tudo aquilo que está no espaço - e voa sobre suas asas.
E os países estrangeiros, a Síria, a Núbia, e a terra do Egito.
Tu colocaste todo homem em seu lugar
Proveste as suas necessidades
Cada um com seu alimento” (versos 70 a 81)

“...E todos os países estrangeiros e distantes,
Tu fazes que também vejam.” (versos 92-93)
Akhenaton
Akhenaton e sua família cultuando o Deus Aton
Arte reproduzida em papiro

Ao lermos este hino pela primeira vez, associamos seu conteúdo a outros muito conhecidos: Os Salmos de Davi e o Cântico das Criaturas de São Francisco. Mas afora o indubitável valor poético, aliás associativo a outros hinos sagrados egípcios, se observarmos os versos 72, 78 e seguintes e 92-93, percebemos logo que não se trata apenas de nomear um Deus pra o império. Akhenaton foi além: Aton é o Deus único de todos os homens; não apenas isso, ma sírios e líbios são enumerados antes dos egípcios, razão por que, conhecendo o seu orgulho nacional, o hino assume um caráter absolutamente inédito: este Deus dispensador de benefícios para a humanidade inteira é muito mais ecumênico que o futuro Deus de Moisés, único, sim, mas só para os hebreus.”
Aguardar-se-iam o zoroastrismo e depois o cristianismo para se ter um conceito tão universal da divindade.
Akhenaton
Akhenaton
Akhenaton
“Amenófis IV era um jovem intelectual, ou melhor, pode-se considerá-lo o primeiro intelectual da humanidade. O primeiro problema que se lhe deparou foi o excessivo poder do clero de Amon. Como a constituição do império englobasse povos de todas as raças, arianos, semitas, negros; e de todas as religiões, pensou-se na oportunidade de dar a todos estes povos um Deus do império, o mais alto de todos na hierarquia. No Egito politeísta (que prega a existência de vários deuses) a tarefa não era fácil: os sacerdotes de Heliópolis propunham o velho e glorioso Rá; os de Mênfis, o artífice Ptah; e, finalmente, os de Tebas apresentavam Amon.
Empregando as próprias energias e se dedicando com um sincero misticismo, Amenófis escolheu: Aton, o Sol radiante em sua forma imaterial. Um deus secundário na hierarquia de deuses egípcios. Sem dúvida alguma, o novo culto não agradou aos sacerdotes de Amon.
Amenófis mandou apagar o nome de Amon onde quer que se encontrasse, e, visto que continha o nome de Amon também no seu, mudou imediatamente o seu nome de Amenófis para Akhenaton (Aquele que agrada Aton).
Construiu uma nova capital: Akhetaton (Horizonte de Aton) foi construída totalmente em apenas  três anos. Os templos dedicados a Aton, visto que o culto ao novo Deus se celebrava ao ar livre, eram constituídos de uma série de amplos pátios contendo centenas de altares, além disso, o faraó mandou construir grandes palácios reais, mansões, parques, lagos, porto e bairro operário.
Nefertite
Nefertite  - esposa de Akhenaton
O pouco que resta de Akhetaton está situado nas proximidades do atual povoado de Tell-el-Amarna, do que deriva o nome do movimento religioso e artístico que caracterizou este período chamado de “amarniano”.
O amor pelos homens, pela natureza, pelas pequenas coisas, que encontramos no Hino de Aton, constitui o fundamento que permeou todo o pensamento religioso de Akhenaton. A arte também teria que refletir a nova realidade: as coisas iam sendo vistas como eram, sem convencionalismo... superadas as primeiras perplexidades, surgiram as mais delicadas obras de toda a arte antiga e, sem dúvida, as mais próximas da nossa sensibilidade moderna.
A primeira vítima do novo “naturalismo” foi justamente o seu promotor, que não era de modo algum um Apolo, mas, em homenagem aos novos cânones, devia ser representado como tal; e, em oposição aos tradicionais corpos belos e atléticos, vemos Akhenaton, inconfundível, com os ombros estreitos e caídos, pescoço pequeno, tórax magro, mirrado, barriga grande e pernas desproporcionais.
O governo de Akhenaton foi muito conturbado e o império começou a se reduzir. Pode-se supor que, no início, altivo e atormentado também pelo seu reformismo religioso, tinha subestimado as diversas revoltas públicas que aliás, sempre houvera e que, mais do que o Egito, envolviam o reino dos mitanos com o qual, porém, o Egito tinha um tratado de cordialidade a preservar.
Pode ser também que, coerente com seu credo de paz e de amor para com os homens, lhe repugnasse qualquer demonstração de força: hipótese admitida pelo fato de que a muitos pedidos de ajuda - que muitas vezes se limitavam a trinta ou quarenta soldados - ele respondia com o envio de navios carregados de gêneros alimentícios, mas nenhum homem armado.
E, finalmente, enquanto estava adorando o Deus de um império que já se extinguira, teve que se ver com a derrota de toda a sua política, pois ao surdo rancor dos sacerdotes de Amon associava então os das classes militares que, antes formando fila a seu lado, lembravam então com nostalgia e indignação os tempos de glória.
As tremendas amarguras, a morte de uma filha amada, o afastamento de sua esposa a bela Nefertite, sem dúvida lhe anteciparam o fim que veio prematuramente. Foi sepultado numa esplêndida tumba, que hoje se encontra em total ruína, em Akhetaton. Encontraram-se apenas seus ossos. E com ele apaga-se também Aton.
Com profética intuição, Akhenaton havia projetado a imagem de um Deus universal, mas não tinha conseguido desenvolver-lhe os significados e sintetizar-lhe os atributos... Foi justamente o senso da realidade que faltou a Akhenaton: ninguém estava preparado para segui-lo, bem poucos entenderam o que ele queria... Não obstante, tudo se reduziu a uma religião pessoal do faraó; também pouco ele se preocupou muito em propagá-la ou de converter pagãos fora dos muros de seu palácio.
Não houve nenhuma perseguição; seu fervor iconoclasta ele o realizou invariavelmente em Tebas, para contrariar Amon, onde mandou apagar não só o nome dele, mas também o de Ptah, de Rá, de Osiris e até os hieróglifos que mencionavam a palavra “deus”. Mas afora estas restrições, que se verificaram apenas em Tebas, no resto do país tudo continuou como antes: os templos de Mênfis e de Heliópolis, para citar só os mais poderosos, celebravam pacificamente os seus cultos. E entre os escombros das casas da capital Akhetaton foram encontradas as estatuetas de todos os deuses, sem excluir Amon.
Por muitos modos extraordinários, este homem permaneceu uma figura isolada, nascida com muita antecedência entre os povos. Mas é certo que ninguém antes dele tinha visualizado as coisas tão profundamente.”

Fonte: O Egito dos Faraós - História, civilização, cultura / Federico A. Arborio Mella - São Paulo: Hemus-Livraria Editora Ltda, 1981

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