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Tipos Regionais do Nordeste
Tirador de Caroá
Na agressividade de sua paisagem, nem sempre o sertão nordestino é ingrato ao homem que nele habita.

O clima é seco, de chuvas irregulares e por isto morre o gado e secam as roças. A vegetação é espinhenta e rasga as carnes do vaqueiro nas loucas corridas da pega ao boi. Há, porém, nesta caatinga de mil espinhos, o caroá, uma bromélia que ao viajante desavisado passa despercebida pelo seu porte baixo e folhas delgadas em forma de hastes. De forma geral, ocorre em solos superficiais e pedregosos, e quase sempre associada a cactáceas.

Utilizada sua fibra pelo aborígene para a confecção de cordas e fios para redes, foi, por herança, também empregada pelos colonizadores portugueses. Sua importância no folclore nordestino reflete bem a utilidade que a ele se dava, ainda que de uma forma velada e anônima. Encontra-se no Cancioneiro do Norte de Rodrigues de Carvalho, um desafio entre dois cantadores, cujo trecho registramos:

"Seu Romano se arrepende
Vai ao chumbo, vai à bala,
Vai à corda de caroá;
Coitadinho do seu Romano
Onde veio se socá?
Numa goela de serra
Coberta de cipoá;
Ele entrou por inocente
Mas só sai quando apanhá"

Tirador de Caroá
Tirador de Caroá - Ilustração de Percy Lau
De fato, são de presença obrigatória, nas feiras do sertão nordestino, os artigos confeccionados
com a fibra e onde se salienta a corda, cuja aceitação entre os vaqueiros é provocada pela
resistência fora do comum.

Somente a partir de 1935, entretanto, teve o caroá as merecidas atenções quando se iniciou então
sua industrialização. Em consequência, nasceu uma economia de coleta no sertão, principalmente
em Pernambuco. Esta economia, embora subsidiária, não chegando mesmo a formar um gênero
de vida, tem sido muitas vezes a tábua de salvação dos habitantes' desta região.
O tirador de caroá é, assim, salvo exceções inexpressivas, uma figura instável que faz deste mister, não seu meio de vida, mas ocupação para seus momentos de espera: da chuva, da colheita, ou de juntar o gado.

A coleta do caroá é feita de maneira a mais primitiva possível. O homem escolhe um trecho da caatinga, onde aquela se mostre mais alta e viçosa: de preferência, bem próxima à estrada por causa do transporte. Em seguida, ali penetra com um facão de lâmina comprida "para abrir o mato". Caminhando da beira da estrada para dentro da caatinga, vai arrancando as folhas de caroá com as mãos devidamente resguardadas por luvas de couro ou da própria fibra. Formados os feixes, após secionadas as pontas das folhas, são depois trazidos para a estrada, em pontos já estabelecidos, onde há geralmente uma barra armada com madeiras da caatinga e destinada a sustentar a balança que virá no caminhão da usina. Muitas vezes é o próprio catador que faz o transporte do caroá para as beneficiadoras, transporte este feito em lombo de "jegues". Esta, aliás, seria a regra se todos os catadores tivessem animais de carga, uma vez que as usinas cobram pelo transporte do caroá quase o preço de compra; de tal forma que, em alguns casos, o catador recebe vinte ou trinta centavos por arroba.

Um aspecto que é característico de quase todo o sertão brasileiro e particularmente no do Nordeste é a confiança em que são baseadas as relações entre os homens. Neste caso, o catador não procura presenciar a pesagem do caroá, nem tampouco se preocupa em vigiar os feixes que ficam expostos na estrada, às vezes, dias seguidos, ainda que pouco adiante haja outra barra de pesagem com feixes de outro catador.

A época mais propícia e mesmo capaz para a coleta do caroá é a do estio da seca. Não só porque os homens estão afastados de suas ocupações mais importantes, como também por ser o período em que as usinas pagam melhor. No "inverno", ou período das chuvas, diminui sensivelmente a atividade do tirador de caroá, quando não cessa de todo. Isto é devido ao fato de que o solo úmido não oferece a devida resistência a qualquer movimento para retirar a folha, provocando o arrancamento do indivíduo todo. Além disso, as usinas pagam menos nesta época porque a planta se acha demasiadamente hidratada e portanto com peso bem superior.

É possível distinguir duas modalidades na organização da coleta do caroá:

1) O tirador de caroá que trabalha isoladamente, apenas pequena parte do mês, conforme sua necessidade de dinheiro e tempo disponível. Tem ele um "acerto" ou contrato verbal com a usina mais próxima, contrato este, sem grandes responsabilidades de parte a parte. Torna-se, no entanto, muito sólido devido ao caráter reto do sertanejo. Uma vez empenhada a palavra nada o fará voltar atrás.

2) O tirador de caroá que trabalha em grupos, sob as ordens de um patrão, que é o possuidor do contrato com a usina. Em alguns lugares são conhecidos pela denominação de "catingueiros".

No primeiro caso o tirador de caroá tem sua propriedade, isto é, mexe com a terra, uma pequena roça, e tem o "criatório" característico de caprinos. Esporadicamente "vai ao mato catar caroá". Compreende este tipo a grande maioria dos tiradores de caroá do sertão nordestino.

No segundo caso, os catingueiros fazem disto seu mais expressivo meio de vida, uma vez que só abandonam a coleta do caroá na época das chuvas - "o inverno" - e em pequena escala na colheita, principalmente do algodão. Não pode ele tratar diretamente com a usina em virtude do contrato que estas mantêm com os patrões. Este é aí apenas um intermediário a explorar o trabalho sertanejo. Recebe ele de cada catador uma comissão por arroba de caroá.

São os catingueiros apenas diminuta parte dos catadores de caroá. Embora sejam, em número, relativamente poucos, já refletem um estágio mais evolvido para fazer da coleta do caroá um verdadeiro gênero de vida. Esta é a tendência observada, consequência do crescente desenvolvimento da indústria desta fibra no Nordeste do Brasil.

Veja também : Usinas de Caroá


Fonte :  Tirador de Caroá / Ney Strauch  in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia /
Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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