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Tipos Regionais do Nordeste
Baianas
A negra baiana ou simplesmente a  "baiana", como é vulgarmente mais conhecida, é figura das mais características da pitoresca e tradicional capital do estado da Bahia - a cidade do Salvador, dentre os diversos tipos humanos lá ocorrentes, desde o elemento branco até o negro puro, através de vários graus de mestiçagem

Sua origem é africana, como africanos eram todos os negros que vieram povoar a nossa terra. É difícil determinar com precisão quais as "nações" do continente negro introduzidas no Brasil pelo tráfico negreiro. O critério cultural permite-nos, porém,  saber, deste ponto de vista, qual o elemento afro predominante na Bahia. Aí aportaram  indivíduos pertencentes predominantemente ao grande grupo cultural sudanês, com  grande influência maometana, a qual é  refletida na religião e no vestuário. Desse grupo sudanês faz parte a preta baiana, cujo traço mais característico é sem dúvida a indumentária - composta principalmente do turbante muçulmano, compridas e largas saias, vistosos xales e mantas listradas, lembrando o traje marroquino - de  indiscutível origem islâmica. "Na indumentária da escrava balaria", escreve Pedro Calmon, "ficou, característico, o traço berbere. O turbante e o xale da baiana recordam-lhe as populações muçulmanas do Sudão.
Confirmando-lhe a procedência sudanesa, Gilberto Freire acrescenta: "São em geral pretalhonas de elevada estatura - essas negras que é costume chamar de baianas. Heráldicas. Aristocráticas.
A elevada estatura é aliás um característico sudanês, que convém salientar".
Baianas
Baianas - Ilustração de Percy Lau
É pelo vestuário que a baiana se tem celebrizado, sugerindo belas fantasias para os folguedos carnavalescos; seu turbante, pelo arranjo original, já entrou na moda feminina. A graciosidade e faceirice brejeira que possuem quando moças, exteriorizadas pelos requebros da sua coreografia bárbara nos batuques dos "candomblés", bem como o gosto pela música e canto, têm servido demotivo para inúmeras composições populares. Daí sua influência enorme no folclore nacional.
Nas grandes festas do catolicismo (que adotaram, apesar de originariamente fetichistas, por meio de curioso sincretismo religioso), principalmente nas tradicionais procissões e romarias do Senhor do Bonfim, ostentam indumentária riquíssima e extremamente complicada pela variedade enorme de peças e multiplicidade de adereços. Nesses dias exibem saias de beca plissadas à mão; batas rendadas; "camisas de tecido finíssimo,  primorosamente bordadas"; compridos xales multicores de pano da costa. "Por cima das muitas saias-de-baixo, de linho alvo" (gastam cerca de dezesseis metros de fazenda na confecção das mesmas), "a saia nobre, adamascada, de cores vivas". Na cabeça "torsos de seda" (a rodilha ou turbante muçulmano) "de gorgorão preto", tecido branco ou de cores gritantes; "chinelinhas de veludo, lavoradas a canutilho de ouro" na ponta do pé. Quanto aos adereços e pingentes trazem atravessados nas orelhas argolões de ouro; no pescoço, colares de contas brilhantes, de miçangas, de búzios, com a indispensável e mística figa de guiné, amuleto contra o "mau-olhado", nos dedos, nos pulsos, nos braços, "até quase nos cotovelos ... uma profusão incrível de jóias custosas. Além do molho volumoso de balangandãs - berloques, tetéias, bugigangas de ouro, de prata, de azeviche... - pendurado à cintura", como descreve Silva Camões.

É realmente uma figura singular e pictórica. Na gravura vemo-la no desempenho da sua atividade principal: o comércio de quitutes. Sentada diante do seu tabuleiro transportável, é encontrada vendendo os seus preparados saborosos, feitos segundo a receita africana que trouxe da terra natal ou lhe foi transmitida pelas gerações: guloseimas, nas quais a pimenta e o azeite de dendê são os condimentos mais freqüentes. O "acarajé" e o "abará" figuram, no tabuleiro, como pratos principais, seguidos do "vatapá", do "caruru", da "canjica", do "tutu", do "cuscuz" etc. etc.
Doceiras exímias, aí também são encontrados a "cocada", o "pé-de-moleque", o "doce-de-gengibre" etc. etc., sem esquecer o bolinho de tapioca assado na grelha, ao lado do tabuleiro.

A baiana nem sempre foi assim livre, independente, alegre e jovial, tal como a apresentamos. Ela tem longa e triste história; a adversidade somente há meio século deixou de a acompanhar com o seu cortejo de amarguras. Sua raça, seus hábitos e costumes, sua indumentária e atividades nos evocam o sombrio e doloroso episódio da colonização - a escravidão negra.

Com a Abolição passou de vez da "senzala" para a "casa-grande", onde então continuou a exercer tão somente os misteres maternais de "ama-de-leite", de segunda mães dos filhos do "senhor-de-engenho".

Com a gradativa transformação dos nossos costumes familiares a velha mucama "veio para a rua", onde, gozando a liberdade "embora tardia" que lhe fora dada, passou a viver por conta própria, ganhando a vida, independente, mercar diante do clássico tabuleiro os saborosos quitutes e guloseimas. Antes mesmo da libertação, conseguida a "carta de alforria", já se dedicava a esse gênero de vida autônoma, quando não preferia, mesmo "forra" ... trabalhar para o antigo "senhor", o que acontecia na maioria das vezes.
Traje da Baiana
Quando na casa-grande, influi bastante nos costumes da família baiana, ora introduzindo na sua culinária pratos africanos, ora assistindo, desde o berço à formação dos novos membros da grande família patriarcal e ora atendendo a mil reclamos diversos como serva solícita.

Hoje em dia, a popular negra baiana é uma sobrevivência da carinhosa "mãe-preta", da prestimosa e utilíssima "ama-de-leite", dos nossos pais e avós.

Traje da Baiana

No Bahia, no Rio de janeiro, no Recife, o traje africano, de influência maometana, permaneceu longo tempo entre os negros. Principalmente entre as negras doceiras e vendedoras de aluá. E, hoje, como traje típico das baianas, com seus tabuleiros de comidas típicas, em Salvador, ou em ritos e festas religiosas.


Fonte :  Negras Baianas / Lúcio de Castro Soares in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970
Traje da Baiana: Casa-grande & senzala em quadrinhos / Gilberto Freyre; desenhos de Ivan Wasth Rodrigues; quadrinização de Estevão Pinto. - Rio de Janeiro: Ed. Brasil-América, 1985.


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