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Tipos Regionais do Nordeste
Vendedor de Palha
Vendedor de Palha
Vendedor de Palha -  Ilustração de Barboza Leite
O aproveitamento das folhas de numerosas palmeiras e de certas gramíneas, na construção da brasileira, é um dos aspectos mais significativos dos elementos culturais indígenas transmitidos ao caboclo brasileiro.

Nas malocas, nos tapiris ou tapuís da Amazônia; nos copés da fronteira meridional paraguaia; nos mocambos ou palhoças das margens do Atlântico às lindes ocidentais do Brasil - a palha de palmeira ou de determinadas gramíneas, além de outras aplicações variadas e interessantes, encontra, sem dúvida, sua maior utilidade, na edificação de casas rústicas ou simples abrigos, cuja riqueza de denominações, graças aos regionalismos, constitui, com as devidas restituições, uma das sinonimizações mais extensas, contidas nos dicionários brasileiros da língua portuguesa:
arríbana, cabana, caluje, capuaba, choça, choupana, colmada, colmo, ipuba, maloca, mocambinho, mocambo, moquíço, palhal, palhar, palhoça, palhota, quimbembe, rancho, tapiri e tapuí (itapuí, tapuisa). Quando não conta com a palha ou ripas do fuste da palmeira, como recurso local, o caboclo recorre às gramíneas: sapê, capim-açu, taquara e até à folha de cana e, na zona dos pinheiros, onde rareiam as planícies e gramíneas altas, a palha cede lugar às tábuas, tabuinhas ou lascas de tronco do pinheiro. Portanto, a casa do caboclo reflete, em sua feitura, os recursos naturais mais acessíveis ou mais econômicos do meio em que vive, traduzidos, muitas vezes, num perfeito retrato ecológico.

O vendedor de palhas, com a curiosa maneira de transportá-la, é um dos tipos mais interessantes do complexo ecológico nordestino.

Revestido de estranha armadura de palhas ou palmas de coqueiro, cujas pontas dos feixes posteriores arrastam pelo chão, o cargueiro dócil e lento, algo de fantástico, porquanto dele mal se lobriga a cabeça, quando visto de flanco - segue o itinerário da zona dos mocambos, da beira de um alagado ou da periferia dos manguezais do Recife.

O destino da palha é normalmente a cobertura de mocambo e servir de porta e janela, da mais rústica e paupérrima habitação nordestina.

Não se trata de vendedor ambulante, à procura de freguês, visto que ele vai satisfazer uma encomenda, cuja unidade de venda é o cento de palmas ou o feixe de palhas. A palha mais usual é a do coqueiro (Cocos nucifera, Lin.) , daí ter de ser cumprida a árdua tarefa do "trepador de coqueiro" ou "tirador de palha", aliás atentatória à estética da palmeira, por reduzir praticamente a copa, apenas ao palmito e um penacho de folhas incipientes.

O vendedor procede o carregamento do animal, cavalo ou égua (o muar ou o jumento, devido às pernas curtas, não se presta ao transporte de palmas longas) , distribuindo e amarrando os feixes de palhas no cambito, com o cuidado de manter o equilíbrio da carga.

Algumas vezes a carga excessiva recobre toda a cangalha e o condutor tem de caminhar a pé, seguido do animal.

Entretanto, este não é o caso do flagrante fotográfico que serviu de base à ilustração de Barboza Leite, continuador de Percy Lau, consagrado artista do bico de pena, que tanto vinha enriquecendo as páginas de Tipos e Aspectos do Brasil, imprimindo vigorosa autenticidade às sínteses descritivas, por mais expressivas que elas fossem: complementando-as e descerrando motivos de admiração, observação e estudo.

O tipo de palha utilizado, também define, de certo modo, uma região ou sub-região, zona ou subzona fitogeográfica do país.

Tanto que, na Amazônia, predomina entre outras palmeiras, o emprego das folhas de bacabas (Enocarpus distichus e Enocarpus bacaba, Mart.), buritirana (Mauritia aculeata, A. B. K), Inajá (Maximiliana Regia, Mart.), açaí (Euterpe edulis, Mart.), umbirana (Geonoma Spixiana, Mart.), juçara (Euterpe oleacea, Mart.), buriti (Mauritia vinífera, Mar t.),  curuá-píxuna (Orbignya pixiuna, Barb. Rodri.) e pupunha-marajá (Guilielma speciosa var Flava, Barb. Rodr.). No Meio-Norte, a carnaúba (Copernícia cerifera, Mart.) , o babaçu (Orbignya Martiana, Barb. Rodr.), cuja palmeira nova é chamada pindova; o buriti (Astrocaryum buriti, Barb. Rodri.) e a piaçaba (Attalea funifera, Mar.) . No sertão do Nordeste, os catolés (Cocos picrophylla e Attalea oleífera, Barb. Rodr.) e o ouricuri ou uricuri (Cocos coronata, Mar t.) . Finalmente, em outras partes do Brasil, onde a utilização da palha das palmeiras não é tão intensa quanto no Nordeste, Meio-Norte e Norte, o pindó ou jerivá (Cocos Romanzofiliana, Cham.), o palmito (Euterpe oleracea, Mart.), os butiás (Cocos odorata, Barb.) e (Cocos coronata, Mart.), apatí, guaviroba ou palmito amargoso (Barbosa Pseudococos, Bece.) , a guaricanga (Geonoma Spixiana, Mart.) , o imburi (Polyandrus caudescens, Barb. Rodr.) , o jataí (Cocos paraguayenses, Barb. Rodr.) , o jataí-guaçu (Attalea guaranítica, Barb. Rodr.), a brejaúna (Astrocarum Ayre, Mart.) e no pantanal de Mato  Grosso, O carandá (Copernicia cerifera, Mart.).

Todavia, é na orla litorânea do Nordeste e do setentrional do Leste Brasileiro, que se vai encontrar a aplicação da palha em maiores concentrações humanas: mocambos de cidades, palhoças praianas e aldeias de pescadores e até afastada do mar, caracterizando a cobertura das casas de vilas isoladas, como na histórica Tejucupapo, em Pernambuco e em Alhandra, na Paraíba.

É que viceja naquela faixa marítima, o "reino dos cocos da Bahia", na expressão de Barbosa Rodrigues, o antigo "inajá-guaçu" dos indígenas, a palmeira exótica (Cocos nucifera de Linneo)

Mas a palmeira não é apenas "a distinção inconfundível, a aristocracia da beleza, o encanto, graça e utilidade", ostentando-se desde a altaneira palmeira--real (Oreodoxa oleracea Mart.), ao indaiá-rasteiro (Attalea exigua, Drude); como a sublimou em Sertum Palmarum Brasiliensium, Barbosa Rodrigues, uma das glórias da ciência nacional.

Realmente, na toponímia brasílica, os nomes vulgares das palmeiras, predominantemente de origem tupi, caribe ou aruaque, abrangem mais de quatrocentas espécies e variedades, permitem a formação de numerosas palavras e é tal a influência paisagística e utilitária deste nobre vegetal que, através de todo o território nacional, define lugares de sua ocorrência ou denomina várias localidades.

Enriquecendo o vocabulário geográfico das cidades, vilas e lugarejos do Brasil, encontram-se com sentido geral os topônimos: Cocal, Cocais, Coco, Cocos, Coqueiral, Coqueiro, Coqueiros, Palma, Palmas, Palmares, Palmeiras, Palmital e Pindorama, significando este último termo, até uma referência ao próprio Brasil: região ou país das palmeiras.

Contudo, topônimos tipicamente palmáceos, avultam em toda a vastidão pátria, como entre outros, Açaí (PR), Anajás (PA), Anajatuba (MA), Babaçu (PI) , Babaçulândia (GO), Bacabal (MA), Bocaiúva (MG, PR, SP), Brejatuba (MG, PR), Buri (SP), Buriti (BA, CE, GO, MA, MG, PI, SP), Buritis (MG) , Buritizal (MT, SP), Buritizeiro (MG) , Butiá (RS, SP), Carandazal (MT), Carnaíba (PE), Carnaúba e Carnaubais (RN) , Carnaubal (CE, PA), Carnaúbas (CE), Carnaubinha (CE), Catolé (CE, PA), Catolés (BA), Cumari (GO), Guaricanga (SP), Dendê (RJ) , Guriri (RJ), Indaiá (BA, SP), Indaial (SC), Indaiatuba (SP), Jeribituba (RJ) , Jericinó (RJ) , Macaiba (RN) , Macaúba (GO), Macaúbas (BA, MG, SP), Muriti (CE), Muritiba (BA) , Pati e Patis (RJ, MG), Ouricuri (PE), Pindobaçu (BA), Pindoba Grande (AL) e Pindotiba (SC). 


Fonte :  O Vendedor de Palha / João de Mello Moraes in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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