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Contribuição Africana
Embora o indígena tenha sido um elemento importante para a construção da colônia nos seus primeiros tempos, o negro logo o suplantou, constituindo o trabalho de africanos e seus descendentes o pilar mais sólido sobre o qual se erigiu a sociedade brasileira.
Em alguns pontos do território, o indígena chegou a ser mais fundamental que o negro, como mão-de-obra.  Em São Paulo, até ao final do século XVII, quase não se encontravam pretos, e os documentos da época que usavam o termo "negros"  referiam-se na verdade a indígenas, pois a palavra foi comumente utilizada para designar quaisquer elementos das raças dominadas. Nos primeiros tempos do Rio de Janeiro, até à segunda metade do século XVII, a mão-de-obra nativa era também amplamente predominante e sua escravização chegou a despertar polêmicas e conflitos entre os colonos e algumas autoridades eclesiásticas .
O mesmo se deu nas regiões setentrionais do Brasil, Maranhão e Pará, onde o tráfico negreiro só se tomou regular nas últimas décadas do século XVIII.  Lá também o indígena foi muito utilizado, de maneira quase exclusiva, tomando-se objeto de acirradas disputas entre jesuítas e colonos.
Mas o predomínio do escravo negro foi total nas grandes áreas açucareiras da Bahia e da Zona da Mata nordestina, generalizando-se mais tarde para todas as áreas de economia exportadora do Brasil.
O Negro
Nas zonas rurais o negro da Casa-Grande tinha melhor sorte que seu parceiro do campo. Mucamas, babás, cozinheiras, amas, costureiras, cocheiros, pajens, lavadeiras, mobilizados no serviço direto ao senhor, eram mais bem tratados e encontravam maiores oportunidades para obter alforria do que o negro do eito. Viviam mais ou menos segregados dos seus parceiros que labutavam de sol a sol. “Negro do eito, vira copeiro, não oia mais pro seu parceiro”, dizia-se na época.
Engenho
Engenho de cana-de-açúcar com casa-grande - Ilustração de Barleus
Na época do ouro, o poeta Alvarenga Peixoto, embora tenha vivido já no período do declínio das lavras, percebia algo sobre a realidade das relações de produção nelas vigentes.  Para ele "são os escravos duros e valentes" que "mudam aos rios as correntes, rasgam as serras, tendo sempre armados da pesada alavanca e duro malho, os fortes braços feitos ao trabalho. . ." O escravismo atingiu seu esplendor em Minas do século XVIII, quando o tráfico das costas africanas para o Brasil chegou ao auge do período colonial, para que cerca de meio milhão de negros labutasse emorresse nas jazidas.

Os rigores do trabalho do africano também persistiram, e se agravaram, pela insalubridade das condições de trabalho nas lavras e pela violência dos que vigiavam o eito. Cerca de 7 mil negros morriam por ano nas grandes empresas mineradoras, que deveriam gastar pelo menos 4 milhões de cruzados anuais para a substituição do pessoal falecido. Entretanto, devem-se examinar as peculiaridades da escravidão nas Minas, para se verificar como elas permitiram o aparecimento de um número considerável de negros livres, fenômeno incomum na América colonial e mesmo no Brasil açucareiro.
Conjuração dos Alfaiates (Bahia)

No quadro dos movimentos políticos e intelectuais que marcaram a crise do sistema colonial no Brasil, a chamada "Inconfidência Baiana" ou "Conjuração dos Alfaiates" ocupa um papel muito especial. Diferentemente da Inconfidência Mineira, ela não se restringiu a uma elite de letrados e brancos livres, nem a preocupações de caráter puramente político e liberal. Muito mais abrangente, ela incluiu em seu bojo e na sua liderança mulatos, negros livres, escravos, pois, além da preocupação de liberdade e independência, ela objetivava verdadeiras mudanças revolucionárias de caráter social, como a igualdade de raça e cor, o fim da escravidão, a abolição de todos os privilégios.
Entre 1797 e 1798, os incidentes se multiplicaram: em várias ocasiões, soldados e populares invadiram armazéns para tomar à força carne e farinha. No sábado de aleluia de 1797, os escravos que transportavam grandes quantidades de carne destinada ao general-comandante de Salvador foram atacados pela multidão 
Conjuração dos Alfaiates
faminta que povoava as ruas da cidade e seu fardo foi dividido entre os atacantes e as negras de ganho que vendiam quitutes na rua. É interessante notar que tais motins caóticos chegaram, em princípios de 1798, a afrontar diretamente o poder; depois de alguns tumultos, certa madrugada, o pelourinho da praça, símbolo do mando lusitano e branco, foi incendiado.  Em todas essas ocasiões, mulatos e negros realizavam os ataques, expressando não só seu ódio de classe inferior como o de uma raça submetida.
Esse fermento de tensões explica a rápida difusão das idéias de igualdade e liberdade entre os negros, bem como o caráter que distingue a Conjuração Baiana da Inconfidência Mineira.
Nas articulações mais efetivas do movimento, destacavam-se João de Deus Nascimento, de 24 anos, e Manuel Faustino dos Santos, o Lira, de 23, ambos mulatos e alfaiates de profissão (o que valeu o epíteto de Conjuração dos Alfaiates). É importante notar que os artífices que fabricavam roupas se situavam em posições bastante baixas na estratificação social dos homens livres. Como os senhores e grandes comerciantes contavam geralmente com escravos que lhes confeccionavam as roupas, ou as importavam, os alfaiates "de tenda" tinham uma escassa clientela de pessoas de poucas posses, e raramente ganhavam mais que o mínimo para o sustento, além de serem socialmente depreciados por exercerem um trabalho vil", isto é, manual. Além desses dois líderes, destacavam-se também, como organizadores, os soldados de milícias Luís Gonzaga das Virgens, de 36 anos, e Lucas Dantas de Amorim Torres, de 24, também mulatos.

Durante o período regencial a sociedade brasileira já comportava uma ampla massa de homens livres brancos, mulatos, mestiços, pardos, negros forros, ocupados nas mais diversas atividades agrárias e urbanas, mantidos, porém, marginalizados politicamente; ou então, utilizados esporadicamente como massa de manobra por facções da camada dominante, em movimentos e lutas, que só se preocupavam pela reação de seus interesses exclusivos.
Com a regência, essas camadas baixas e intermediárias da população, estimuladas pela luta de facções da elite, explodiram em movimentos de revolta, alguns dos quais chegaram a pôr em questão os próprios fundamentos da sociedade brasileira desde a colonização - o latifúndio e o escravismo -, como a "Cabanagem" (Pará) e a "Balaiada " (Maranhão).
Período Industrial

Certas empresas industriais não empregavam trabalhadores livres até meados do século XIX. Outras utilizavam-nos apenas para os serviços especializados, sendo o trabalho mais pesado realizado exclusivamente por escravos. Isso acontecia tanto com firmas nacionais como com firmas estrangeiras.
Os "escravos de ganho" eram relativamente autônomos, custeavam seu sustento e viviam como ambulantes. "Na obrigação de entregar uma porcentagem de seu ganho a seu dono se resumia e se concretizava sua condição de escravo, funcionando livremente no mercado de trabalho ." Havia ainda os escravos "da Nação" e os pertencentes às municipalidades. O governo fixava suas condições de trabalho, havendo leis que regulamentavam questões como o tipo de alimentação que lhes deveria ser fornecida, tipo de indumentária, tratamento etc. Depois da abolição do tráfico, aparece mais uma categoria, a dos "africanos livres" que,  confiscados pelo Estado, eram alugados a particulares e seus salários destinados, teoricamente, à sua repatriação. Essas diferentes categorias de trabalho escravo opunham-se ao trabalho operário, que é necessariamente um trabalho livre e assalariado. Não houve transição alguma entre ambas, mas sim ruptura e abolição em 1888, após mais de 300 anos de exploração do trabalho escravo em nosso país.
Em outros estabelecimentos encontravam-se operários livres ao lado de escravos, no mesmo local de trabalho.
A campanha abolicionista intensificou-se nos anos oitenta e dela participaram ardorosamente os primeiros proletários. O proletariado não podia constituir-se realmente como nova classe enquanto houvesse escravos na sociedade brasileira.  Não podia lutar por sua própria libertação enquanto houvesse, ao lado do trabalho assalariado, formas de exploração baseadas na  escravidão institucionalizada. Muitas das primeiras associações operárias intervieram diretamente na campanha abolicionista.
Fatos desse tipo foram registrados em vários pontos do país. É o caso da greve dos jangadeiros cearenses de 1881. Liderados por Francisco José do Nascimento, esses trabalhadores recusaram-se a continuar transportando escravos em suas jangadas, tanto da terra para os navios quanto dos navios para a cidade de Fortaleza.

Apesar da importância da propaganda e da agitação organizada pelos abolicionistas, não se deve esquecer a fuga em massa de escravos ocorrida nos últimos anos do Império. Longe de constituírem uma população passiva diante de sua sorte, os escravos participaram ativamente do processo de sua própria libertação, abandonando as fazendas e fugindo para as cidades em grande número, criando uma situação insustentável para os fazendeiros. "As cidades exerciam grande influência nessa fuga. (...) Rio de Janeiro, Niterói, Petrópolis, Campos, Santos, São Paulo e outras cidades menores das regiões cafeeiras eram consideradas cidades livres pelos escravos e constituíam entre si uma teia de comunicações e abrigos." Não havia trem de carga ou de passageiros em que não viesse, escondido, um escravo, que sempre encontrava, nas estações, alguém que o recebesse ou  orientasse.  Entre os proletários, por isso mesmo, foram os ferroviários que jogaram um papel mais importante durante a luta pela abolição.
Na periferia das cidades concentravam-se milhares de escravos, como é o caso de Santos, onde, nas vésperas da abolição, moravam cerca de 10.000 fugitivos em suas inúmeras favelas. É interessante assinalar o fato de que muitos dos escravos fugidos que se instalaram no bairro do Jabaquara, em Santos, conseguiram trabalho em indústrias locais, entre elas as caieiras do Paquetá, ou então como carroceiros, ensacadores e carregadores de café no  porto.
Em 1791 já se registrara uma paralisação coletiva de trabalho no Brasil; mas fora efetuada por escravos (da Casa das Armas) e não  por operários livres.  No século XVIII e mesmo em períodos anteriores já haviam ocorrido manifestações deste tipo no porto  de Salvador, com paralisação da estiva e greve de marinheiros (na época, os próprios marinheiros eram, em grande parte, encarregados dos serviços de carga e descarga dos navios).

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Carregadores de café
Carregadores de café, por Frederico Guilherme Bruggs
circa 1845-1853

Fontes: Brasil História - (vários volumes) / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979.


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