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Ritos de Iniciação Feminina entre os Tukuna
Festa da Moça Nova
(Passagem da adolescência para a vida adulta)
Os Tukúna consideram a puberdade um período perigoso e cercam a menina-moça de cuidado rituais, a fim de protegê-la das influências maléficas, de certos espíritos demoníacos da floresta.
O ritual de iniciação começa pela separação da menina do convívio com a comunidade. Assim que ocorre a primeira menstruação, a menina é introduzida no compartimento superior de sua casa: uma plataforma situada bem abaixo do teto, com vedação de esteiras ou cortinado de pano.
Aí ficará durante três meses em reclusão, invisível e silenciosa, estabelecendo contato apenas com a mãe e com a tia paterna e saindo raramente, quando nenhum homem estiver na casa.
Os três meses de reclusão constituem a fase de margem (ou de transição) do ritual. Durante esse período, a jovem deve dedicar-se ao aprendizado dos afazeres femininos, como a fiação do algodão e o preparo de cestas, redes e esteiras, e deve também aprender o comportamento que, segundo os Tukúna, é próprio das mulheres adultas.
A Festa da Moça Nova
Evoluindo, com grande algazarra, entram  na casa de reclusão, simulando atacar a menina. Alguns mascarados portam grandes escudos com os quais fazem movimentos giratórios; estes são os acompanhantes do sobrenatural óma, "a mãe do vento".
A fase de integração da menina-moça na categoria das mulheres adultas é realizada durante uma grande festa, da qual participa toda a comunidade, além de convidados de aldeias vizinhas. O ritual de iniciação encerra-se com a depilação da moça-nova, que simboliza a sua passagem da infância para a idade adulta. A jovem agora pode casar-se e tornar-se membro ativo da comunidade.
A festa é necessária para solenizar a passagem e destruir os espíritos demoníacos que ameaçam  constantemente a menina reclusa. Suas diversas etapas rituais desenvolvem-se especialmente dentro da casa.
Para o período da festa é construído, pelos convidados homens, um novo compartimento de reclusão, de forma semicircular, localizado num dos lados do pavimento inferior da casa, e feito da parte interna do pecíolo das folhas de buriti, tendo as paredes externas decoradas com motivos geométricos e figurativos como animais, astros e homens, desses, o mais significativo repousa na figura do veado, o símbolo da vigilância. Neste recinto a iniciada permanecerá até o final do ritual, vigiada pelo tio paterno, o responsável pela sua segurança e "diretor" das cerimônias, ajudado por sua esposa, já que os pais ocupam-se principalmente em atender os convidados.
As cerimônias estendem-se por três dias e três noites ininterruptos, na estação das chuvas, durante a lua cheia.
A Festa da Moça Nova
Os tios paternos aproximam-se da menina em meio à dança e arrancam-lhe um tufo de cabelo. Agora sentada sobre um tapete de entrecasca no centro da casa, algumas mulheres retiram-lhe os enfeites e continuam a depilação, que terminará com um grito, quando, novamente, os tios paternos puxam o tufo restante no ápice da cabeça. Esta é a marca da passagem. Simbolicamente é a morte da menina e o nascimento da mulher adulta.
Dois elementos da maior importância no transcorrer da festa merecem destaque: os instrumentos musicais e as máscaras.
Entre os instrumentos musicais salientam-se dois tipos, ambos de comprimento descomunal e considerados sagrados: o megafone de madeira, a voz de perigosos demônios, e as trombetas de casca de árvore enrolada em espiral. Dado seu caráter, tais instrumentos não podem ser vistos por mulheres e crianças. Assim, os homens os fabricam na floresta e seus sons ecoam só na escuridão da noite, de locais ocultos. Quando não usados, são escondidos, antes do amanhecer, na água ou na floresta.
As máscaras, trazidas pelos homens convidados, representam espíritos demoníacos que num tempo rnítico atacaram os habitantes de uma aldeia Tukúna, comendo seus corpos e sugando seu sangue, e que, no delicado período de iniciação, colocam em perigo a vida da menina.
As entidades sobrenaturais simbolicamente representadas pela decoração e demais características formais das máscaras afiguram-se diversas: a mãe do vento, a borboleta fêmea, o macaco caiarara, monstros das profundezas; a aranha; serpentes gigantescas, papagaios; o milho, a árvore araparirana.
No conjunto, as máscaras são profanas, executando suas coreografias à vista de adultos e crianças de ambos os sexos, apesar de permanecerem escondidas na floresta próxima. Seus usuários vestem-nas e desvestem-nas, surgindo repentina e secretamente no local da festa.
Os mascarados também devem conservar-se desconhecidos até o momento de sua performance final, quando se despem das máscaras na casa do ritual, presenteando-as ao anfitrião, o pai da menina-moça; este, em retribuição, oferta-lhes carne de caça ou peixe moqueados.
Confeccionam-se as máscaras com entrecasca de determinadas árvores (Fícus radula, Poulsenia armata, entre outras). Depois de retirado o tronco da árvore, batem-no com força, empregando macetes roliços: essa operação, executada repetidas vezes, permite destacar, num só bloco, a entrecasca, que depois é submetida a diversas lavagens e sucessivas batidas, antes do secamento ao ar livre. Tal procedimento possibilita transformá-Ia num "pano" macio e flexível.
O tecido, mediante interpretação livre do confeccionador, porém nos limites de padrões estéticos e técnicos culturalmente estabelecidos, será metamorfoseado num personagem cosmológico demoníaco, para, no ritual de iniciação, dramatizar episódios míticos relacionados aos Tukúna e à situação liminar da menina-moça em especial. 

Fonte : A Plumária Indígena Brasileira no Museu de Arqueologia e Emologia da Usp / Sonia Ferraro Dorta & Marília Xavier Cury - São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo: MAE / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000 - (Uspiana-Brasil 500 anos)


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