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Ritos de Iniciação Feminina entre os Urubus-Kaapor
(Passagem da adolescência para a vida adulta - Registro de Darcy Ribeiro)
Quando veio a menarca, o velho, que estava atento para os seios da filha que afloravam, já tinha preparado perto da casa um compartimento todo fechado para a reclusão. Soube que chegara o dia porque a filha aproximou-se dele e disse:

- Meu pai, eu não quero comer carne.

A mãe, então, conduziu a filha para a casa de reclusão e o pai foi preparar um escarificador com dentes de cutia enfiados numa lasca de cabaça. Entrou, a seguir, no quarto e com aquele instrumento escarificou as pernas de Mirá-puie dos joelhos até os pés, de modo que ficassem tintas de sangue.

Em seguida, a mãe, que fora pegar formigas tapi-ãxi, voltou com seis delas, amarradas pela cintura duas a duas em três cordões, Firmou um deles sobre a testa da menina para que as formigas a picassem ali (com o ferrão do abdômen, apenas); depois o outro entre os seios e, finalmente, o terceiro, no púbis.


Começaram, então, o preparo da mandiquera que seria distribuída a todos, em sinal de regozijo.

Enquanto isso, durante três dias, na casa de reclusão, comendo apenas pequenos jabutis brancos e bebendo água morna, a menina fiava kurná e preparava cordões que seriam distribuídos, depois, a todos os moradores da aldeia, ficando ela apenas com um pedaço em que prenderia o colar de plumas de tucano com o qual abandonaria a reclusão no quarto dia.
Menina-moça
Menina moça esperando a menarca para poder casar
A menina-moça dirige-se, então, ao igarapé, para preparar a mandioca que ali estava à sua espera. Como não pode tocar em água, cobre o chão com folhas. Ali, sobre aquela esteira verde, descasca as mandiocas, leva depois para a casa do forno, onde rala uma parte e espreme outra no tipiti. Sai para apanhar lenha para o forno de farinha, acende-o e, sempre sozinha, sem qualquer ajuda, prepara um pouco de tapioca de tucupi e de farinha que distribui a todos os moradores da aldeia, dando ao pai uma cuia menor do que às outras pessoas.
Depois dessa distribuição, volta à casa de reclusão, onde o pai lhe corta os cabelos. No dia seguinte poderá sair. Mas continua por algumas luas sujeita a muitas restrições e morando no quarto escuro, só podendo casar-se no décimo mês, ou seja, após o pleno crescimento dos cabelos.

Nem todas as moças tem uma entrada tão brilhante na vida de mulher e um casamento tão interessante. Nem imagine que isso seja privilégio das filhas de capitães. É que aqui, como em todas as sociedades do mundo, há padrões ideais de comportamento, normas, rituais que todos conhecem e constituem o que deve ser feito para assegurar-se plena euforia social. Mas poucas vezes elas são levadas à prática em todos os seus itens, dependendo do grupo todo viver no momento uma situação boa, de grande fartura e harmonia para que se realize um casamento ou uma iniciação segundo o modelo ideal. Em geral, os casamentos e outras cerimônias são aproximações muito modestas dessas normas.

Fonte : Diários Índios: Os Urubus-Kaapor / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996.


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