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No colar tsõrebdzu prende-se pena de gavião, de rabo de papagaio, do pássaro chamado sirudu, do beija-flor vermelho, do mutum ou da arara-azul, de acordo com a função ritual ou mágica que seu usuário tem o dever e o privilégio de exercer. |
Em
algumas cerimônias, esses indivíduos se distinguem pelos detalhes dos
enfeites usados por todos os participantes. No colar tsõrebdzu ("a
gravatinha") - peça básica da ornamentação corporal Xavante - prende-se
pena de gavião, de rabo de papagaio, do pássaro chamado sirudu, do
beija-flor vermelho, do mutum ou da arara-azul, de acordo com a função
ritual ou mágica que seu usuário tem o dever e o privilégio de exercer.
Assim, nas cerimônias de grupo de idade, o aihöubuni, indivíduo que tem a função de liderar sua classe de idade durante o período de reclusão na casa dos solteiros, usará a pena mutum. (Veja também Outros Adornos) Nos rituais religiosos wai'á, certos indivíduos se distinguem dos demais participantes por pertencerem a linhagens de prestígio político. Esse pertencimento lhes confere as funções mágicas de "dono da cobra", "dono da anta", "dono dos lagos", "dono do veneno", "dono da madeira wamari", "dono das águas correntes", "dono dos queixadas". Outras funções, essencialmente rituais, também herdadas, são desempenhadas nos rituais de iniciação masculina e de nominação das mulheres. Essa distinção do indivíduo complementa, entretanto, outra que o identifica com um grupo: seu clã, seu grupo de idade, seu grupo cerimonial nos rituais wai'á. Nesses casos, o código simbólico usado é a pintura do corpo, feita com jenipapo e urucum, ou seja, em preto e vermelho. A pintura corporal Xavante marca, antes de mais nada, a participação do indivíduo em rituais e cerimônias, separando o cotidiano e a esfera doméstica da vida pública e cerimonial. Esta é exercida predominantemente pelos homens, os quais, por isso mesmo, são os que mais frequentemente se ornamentam. As mulheres o fazem, principalmente, em duas ocasiões: o casamento e a nominação. |
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A pintura
corporal Xavante utiliza, além do vermelho e do preto, o branco e a
mistura das cores, cinza e
preto com vermelho. As formas são as partes do corpo preenchidas com
essas cores: braços,
coxas, pernas, tronco, ombro, cabeça.
Além das partes do corpo, outros elementos pictóricos são o retângulo duplo vermelho sobre o estômago e nas costas, o desenho damana 'rada, traços vermelhos e pretos e os desenhos clânicos. Com esse repertório finito de formas e cores, os Xavante combinam elementos da pintura e enfeites, produzindo mensagens por meio de um código visual estruturado. Motivos da
pintura corporal Xavante
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As
cores e as partes do corpo pintado são elementos visuais cuja
combinação obedece a regras de um sistema fortemente estruturado. Os
princípios estruturais desse sistema correspondem aos princípios de
sistemas de classificação social aos quais a pintura corporal
encontra-se relacionada: grupos de idade, grupos cerimoniais, clãs e
linhagens.
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Não
só a distinção de grupos e indivíduos está expressa na ornamentação
corporal, mas também se relaciona à situação em que é usada. O motivo
da pintura daupté
(tronco, coxas e braços pintados de vermelho) é usado por grupos de
idade na cerimônia ubdo'wá,
mas não o é na corrida do buriti, também realizada por grupos de idade.
Por meio da pintura do corpo, os Xavante também representam espíritos como o Pi'ú, do ritual wai'á, a onça, o jaburu e o lobo, do ritual de iniciação das mulheres. Trata-se de motivos de pintura que cobrem toda a superfície do corpo e, portanto, não obedecem aos limites das partes comumente pintadas . O motivo danhihödö, outro exemplo de pintura que cobre todo o corpo, é usado por um grupo de idade no ritual de iniciação à maturidade e marca, portanto, transição de status. Por outro lado, indivíduos encarregados de funções mágicas e rituais, já citados anteriormente, também usam pintura desse tipo no ritual de nominação das mulheres. A divisão do corpo por meio da pintura é feita de acordo com a concepção anatômica que os Xavante têm do corpo humano: partes externas - coxas, pernas, braços, tronco, ombro e cabeça - e órgãos internos - representados pelo retângulo vermelho duplo, cuja designação significa "tripas vermelhas". Os motivos de pintura que não obedecem aos limites dessa divisão não ressaltam a anatomia humana, segundo a concepção Xavante. O fato de não obedecer a esses limites pode significar a negação do caráter humano do corpo e a capacidade de representar na pele seres relacionados a outros domínios do cosmo. Animais, espíritos e indivíduos, em momento de transição de status, transcendem ao mundo dos homens. Motivos de pintura e demais elementos da ornamentação, além de pulseiras, brincos e colar tsõrebdzu são determinados, por isso mesmo, pelo contexto cerimonial. Há motivos de pintura e enfeites corporais próprios de um único ritual. É o caso, por exemplo, da pintura dauhäba usada pelo homem no casamento. As máscaras wamnõro também são usadas apenas no ritual de iniciação à maturidade. Apesar das profundas transformações que os Xavante têm sofrido, a arte corporal é um dos aspectos culturais que não perderam o lugar neste novo momento de sua história, confirmando sua importância enquanto elemento constitutivo de reprodução da sociedade. |
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