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Palikur

Palikur
Mitos coletados por Nimuendaju

No começo do século XVI, esta tribo habitava a margem setentrional do estuário do Amazonas, mas há mais de 200 anos localizou-se no lugar em que agora se acha, no rio Arucauá, afluente do Uaçá, que desemboca junto ao Oiapoque. Seu número é atualmente de uns 300. Sua língua pertence à família Aruak, porém assemelha-se mais às línguas do centro das Guianas que ao Arawak verdadeiro da costa. *
A origem do clã Kamohi-yune

No tempo em que os Palikur ainda habitavam nas terras do sudeste, uma mulher teve um filho do clã Wakapuéne, de nome Parákwa (- araquã1, por causa da ponta traseira, comprida, da sua tanga). Ele era panema2, e sua mãe padecia, muitas vezes, fome. Num dia, ela se zangou e o expulsou de casa para o mato: que corresse até que alguma fera o devorasse!
Na mata, Parákwa encontrou-se com o demônio Wéri, que lhe perguntou de onde vinha e para onde ia. "Minha mãe me enxotou para a mata para eu ser devorado por alguma fera", respondeu Parákwa. "Mostra-me uma vez o teu braço!", mandou Wéri, e, depois de examiná-lo, disse que Parákwa tinha aí um bicho pernicioso. Mandou que Parákwa atirasse uma flecha num dos galhos de uma árvore e que subisse depois para buscá-la. "O pau não quebrará?", perguntou Parákwa.  "Não", respondeu Wéri, "podes trepar!" Mas quando Parákwa subiu, a árvore quebrou e ele caiu, ficando esmagado no chão. Wéri cortou-o em pedaços, que queimou, e da cinza fez um novo Parákwa. Mandou que atirasse num pássaro e Parákwa, que dantes nunca acertara, desta vez acertou. Depois Wéri mandou que voltasse à casa de sua mãe.

"Mãe", disse Parákwa quando voltou, "eu vim para caçar e pescar para ti e nunca mais sofrerás fome!" Embarcou na canoa, foi ao rio e voltou com a embarcação cheia de peixes. Sua mãe ficou contentíssima, e, depois de algum tempo, mandou que ele fosse procurar uma mulher para si.
Parákwa foi e chegou ao rio Arucauá onde morava Yakwári com sua irmã Kureluakú, filhos de Aríuti, da estirpe do Sol. Parákwa tomou Kureluakú por mulher, e Yakwári casou com a irmã de Parákwa e tornou-se o fundador do clã solar dos Kamohi-yune.


A origem dos Galibí 

No meio das grandes savanas alagadiças, aquém do morro Yxayali (Cayary) existe um grupo de seis (ou sete?) pequenas ilhas de mato, hoje chamadas Hinyé-pnawá - Casa dos Galibí. Há muito teempo morava ali uma mulher Palikur com um filho e uma filha. Um espírito da montanha (yumawalí) enamorou-se da moça, visitando-a amiúde, sem que os outros jamais o vissem.  Ficando, porém, grávida, seu irmão exigiu-lhe uma explicação de como pudera isso ter acontecido, se ninguém vira um homem junto a ela. A moça respondeu que ela própria não o sabia explicar, mas o irmão, desde então, entrou a vigiá-la e, um dia, surpreendeu-a com o Yumawalí na roça. Ele tinha deitado a cabeça no regaço da moça, e a sua coroa de penas estava pendurada num galho ao lado. O irmão resolveu matar o amante de sua irmã e lhe atirou uma flecha. O Yumawalí, porém, deu ao projétil uma outra direção, de maneira que este, em lugar de matá-lo, matou a moça. Depois ele apanhou sua coroa de penas e, no momento em que a colocou na cabeça, tornou-se invisível.
O irmão levou a notícia da desgraça à sua mãe, que o mandou sepultar o cadáver da irmã.  Depois, sempre de três em três dias, ia visitar-lhe a sepultura. Na primeira e segunda vez, nada achou de extraordinário; na terceira vez, porém, viu uma profusão de vermes que, saindo da terra, foram por ele totalmente destruídos. O mesmo fez na quarta visita. Na quinta, ele encontrou, além dos vermes, alguns meninos, ainda tenros, que engatinhavam sobre a sepultura, tendo nas mãos pequenos arcos e flechas. Um deles se levantou e disse ao irmão da finada: "Não mates mais esses vermes!  Tu mesmo és culpado de estarmos nascendo com forma de vermes e só depois ficarmos gente!" Na outra visita à sepultura, já encontrou muito mais meninos do que vermes e continuaram a aparecer em número cada vez maior. Assim originou-se a tribo dos Galibí.
Os pequenos cresceram e quando se tornaram adultos, resolveram vingar a morte de sua mãe nos parentes do assassino e começaram a guerra contra os Palikur.



*- Os Palikur no Brasil são hoje 568 indívíduos, que continuam habitando o extremo nordeste do Território do Amapá.
1- Um cracídeo (Ortalis, Merr.)
2- Azarado na caça.

Fonte: Os Mitos / Curt Nimuendaju in  Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional .  nº 21 / 1986 - Fundação Nacional  Pró-Memória / Secretaria do Patrimônio e Artístico Nacional (SPHAN) Ministério da Cultura


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