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Mitos coletados por Nimuendaju

Contos de animais e de caçadores:

1. Arara e morcego
Botocudos
A arara deu uma festa. No momento da festa, o morcego começou uma briga com o mutum, que era o cunhado da arara, mas não levou vantagem; apanhou. A arara disse: "Por que quer brigar com meu cunhado? Há de pagar-me isso!" Houve danças. Finda a festa, quando o morcego ia voltando para casa, a arara atravessou no seu caminho. Lutou com o morcego e o quebrou pelo meio, deixando-o morto no caminho. Cortou-lhe o nariz, pelo qual poderia ser reconhecido e o pintou como um mutum. Os outros morcegos vieram e, vendo-o morto, julgaram que se tratasse de um mutum. "Está bom", disseram eles, "nosso parente matou enfim o mutum. Agora vamos comê-lo!" Fizeram fogo, assaram seu próprio parente e o comeram.

2. Arara e urubus

A arara foi com sua companheira ao mato para colher sapucaias. Tiveram de procurar muito até que acharam um pé com frutas; mas, quando quiseram colhê-las, chegaram os urubus que tomaram posse da árvore e enxotaram as araras. A arara disse: "Esperai! Eu me vingarei!" E logo caíram os cabelos compridos que os urubus naquele tempo ainda tinham, e eles se tomaram calvos.

3. A origem da hostilidade entre os animais

Antigamente, os animais eram como gente, e não havia hostilidade entre eles. Um pajé chegou e deu de comer a todos. Então veio à irara a idéia de fazer com que ficassem inimigos entre si.  Ela ensinou a cobra a morder, de maneira a matar ou a mutilar suas vítimas; ensinou o mosquito a sugar sangue. Todos se transformaram em animais, inclusive a própria irara, para que não pudessem ser reconhecidos. Quando o pajé chegou, repreendeu-os, mas já não havia mais remédio. Então o pajé também se transformou em pica-pau, e o seu machado no bico desta ave.
4. Os homens-guaribas

Entre os macacos há alguns que são yikégn e que têm dupla vida, sendo ora animais, ora gente; ou, mais precisamente, têm natureza de gente mas se apresentam aos verdadeiros homens sob a forma de animais.
Dois homens foram caçar. Ouviram os guinchos dos guaribas e foram caminhando na direção de onde pareciam vir o som. Avistaram um grande guariba que saltava de um lado para outro num galho. Ambos atiraram um grande número de flechas no animal, mas nenhuma o atingiu. De repente o guariba, na árvore, tomou forma humana. Tinha um arco e um feixe de flechas nas mãos e, quando os caçadores tomaram a atirar, ele respondeu ao ataque. Uma de suas flechas feriu um dos caçadores no ombro. Então o outro disse consigo: "Agora já feriu o meu companheiro! Tenho de matá-lo sem falta!" Fazendo pontaria cuidadosamente, acertou desta vez o homem-guariba, que caiu da árvore. Tendo-o prostrado por terra, acabou de matá-lo e deixou seu cadáver no chão, porque tinha de cuidar sem demora do transporte do companheiro ferido para casa, a fim de submetê-lo a tratamento. Quando o ferido já estava melhor, o caçador resolveu tornar ao mato para ver se o cadáver do homem-guariba ainda lá estava; nada mais, porém, encontrou. No lugar em que ficara havia, entretanto, alguns vasos de barro com restos de comida. (Os guaribas comuns comem frutas, mas os que são yikégn alimentam-se como se fossem gente.)
5. 0 macaco vingativo

Um indígena de nome Yatún foi caçar na mata e encontrou um bando de macacos. Escolheu o maior e lhe atirou uma flecha. O macaco, porém, apanhou-a com as mãos, virou-a e a atirou para trás, ferindo Yatún gravemente. Este deixou cair as armas e se arrastou para casa, onde veio a morrer pouco depois.
6. Katnáp morto pela onça

Katnáp tinha colhido antóm (larvas de coléopteros), e, querendo comê-las, pediu a um seu parente que lhe desse algumas bananas para comer com os antóm; mas o parente negou-lhe as frutas. Então Katnáp pegou arco e flecha e foi pessoalmente buscar as frutas que pedira, enchendo com elas o seu ayó. Com a carga às costas, pôs-se a caminho, em direção à sua casa.  Durante o trajeto, encontrou um galho fino, com três ramos partindo simetricamente de um só ponto. Cortou-o, pensando fazer com ele uma ponta para a sua flecha de matar pássaros (monheyák). Nessa ocasião, uma onça que estava de emboscada à margem do caminho, saltou sobre ele. Katnáp jogou logo o ayó1 para o lado e atirou uma flecha na onça. Apesar de ferido, o animal não se importou e saltou novamente sobre o homem. Este se desviou mais uma vez dela e lhe atirou, uma por uma, suas flechas, deixando-a crivada delas. Quando gastou a última flecha, a onça lhe pulou à altura da nuca e o matou.
Como Katnáp não voltasse até a manhã seguinte, seus parentes mandaram um homem de nome Hon procurá-lo. Este achou o lugar da luta, o ayó e os restos do cadáver. Quando voltou e contou o que se tinha dado, todos se reuniram e levaram cachorros para matar a onça. Os cachorros encontraram o rastro da fera, seguiram-na e a acuaram. Atiraram-se sobre a fera, numa luta terrível, ao fim da qual a deixaram exausta. Então o mais forte dos homens saltou sobre ela e a cingiu com os braços. Todos os outros acudiram, subjugando a onça e a amarrando viva. Depois, fazendo uma grande fogueira, queimaram-na, ainda viva.
Um parente de Katnáp deu uma surra naquele que tinha negado as bananas a Katnáp e lhe tomou a mulher.
7. Como Berén matou a onça
Botocudos
Berén foi caçar no mato. Tinha as flechas pintadas com urucu para torná-las mais eficientes.  Chegou a um lugar onde a anta estivera comendo na véspera. Enquanto estava examinando os rastros, apareceu uma onça e saltou sobre ele. Berén se desviou por diversas vezes dos saltos da fera. Atirou duas vezes, conseguindo feri-la.
 Depois trepou numa árvore. O animal correu durante algum tempo sem sossego, debaixo da árvore, de um lado para o outro, e finalmente se retirou. Depois de algum tempo, Berén desceu e seguiu o rastro de sangue da onça. Logo adiante, viu-a deitada no chão. Trepou novamente numa árvore e esperou até quando viu moscas ao redor do corpo do bicho; desse modo podia ter certeza de sua morte. Desceu e chamou sua gente; tiraram então o couro da onça e lhe comeram a carne.
8. Outra história de onça

Um homem foi ao mato colher frutas de caraguatá e chegou numa clareira onde só havia um pé de jaracatiá2, cheio de espinhos. Nesse momento uma onça tomou-lhe a frente e o atacou. O homem se desviava, mas o animal continuava saltando sobre ele, a rosnar. Gritou o quanto pôde. Procurou uma árvore para, subindo por ela, livrar-se do perigo de ser abatido pela fera; mas por ali só havia aquele jaracatiazeiro. Não tendo outro recurso de que pudesse lançar mão, subiu naquela árvore apesar de seus agudos espinhos. A onça deitou-se debaixo da árvore e ficou esperando. O homem atirava-lhe galhos mas não a alcançava, e ela continuava no mesmo lugar. Finalmente um outro caçador respondeu, de longe, aos gritos do aflito. Então a onça se levantou e foi no rumo da outra voz. O homem desceu e se recolheu a sua casa.
9. Mais uma história de onça

Pogné foi ao mato para esperar a caça que vinha comer, debaixo de uma pitangueira, as frutas caídas. Ali mesmo uma onça o assaltou. Ele se desviou, por diversas vezes, dos saltos dela e tanto fez que conseguiu salvar-se nos galhos de uma árvore. Esta, porém, estava seca e, com o peso de Pogné, quebrou-se junto à raiz. Pogné gritou, quando caiu com a árvore no chão, tanto que a onça ficou com medo e correu, permitindo que Pogné voltasse são e salvo a sua casa.

1- Saco de carga trançado em malha, usado por muitas tribos do Nordeste do Brasil
2- Uma caricácea (Jaracatia dodecaphylla)
Ilustrações de viagem: Viagem ao Brasil do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied - Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GMBH. - Petrópolis: Kapa Editorial, 2001.

Fonte: Os Mitos / Curt Nimuendaju in  Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional .  nº 21 / 1986 - Fundação Nacional  Pró-Memória / Secretaria do Patrimônio e Artístico Nacional (SPHAN) Ministério da Cultura


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