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Nimuendaju
descreve os indígenas como “tímidos e submissos”. Conta que pediu para
que eles não interrompessem a cerimônia, por sua chegada. Mas os
tuxauas, os chefes, aproximavam-se para pedir desculpas. Eles
festejavam pela última vez a festa do caxiri, quando se embebedavam e,
às vezes, se tornavam violentos, para horror dos religiosos. Era quando
a indignação contida escapava inteiramente do controle. Assim esses
indígenas viram seu antigo estilo de vida desaparecer.
Na sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), em São Gabriel da Cachoeira, o indígena baré Braz de Oliveira Franca viaja mentalmente no tempo. Fala dos avós, das cenas que viu na infância. São danças como o dabucuri e o adabi. Na primeira, as aldeias se confraternizavam em visitas reciprocas. Os que chegavam, traziam produtos que faltavam aos anfitriões. Quando fossem visitados, teriam o mesmo tratamento. O dabucuri era uma forma típica de os povos indígenas realizar complementações econômicas, necessidades mediadas por festas onde a dança era uma forma de integração. No adabi, ao contrário, os acontecimentos se davam no interior da família, quando se preparava uma jovem para o casamento. Braz Franca é o presidente da Foirn, entidade que representa 25 mil indígenas, perto de 10 % da população indígena nacional. Por pressão da Foirn foram demarcados, este ano (1996), os 11 milhões de hectares da reserva do Rio Negro. Ele reconhece que teve apoio da Igreja Católica na conquista legal dessas terras, mas diz que isso não basta para esquecer o passado. O arcebispo de São Gabriel da Cachoeira, D. Walter Ivan de Azevedo, concorda parcialmente com as críticas de Darcy Ribeiro e Braz Franca. Diz que o antropólogo, senador (na época), é muitas vezes injusto com a Igreja, especialmente com os salesianos, ao longo de sua obra. Ameniza as críticas de Franca argumentando que “os valores do passado eram outros”. Na avaliação do arcebispo, o passado mudou “como resultado de avanços na antropologia, incorporados à evangelização pela missiologia”. Para o religioso, as transformações na Igreja ocorreram especialmente a partir do Concílio Vaticano 2º, com Paulo VI, entre 1962 e 1965. Mas, para os indígenas da região, pode ser tarde demais. Na comunidade Tapajós, a uma hora de lancha a motor, rio abaixo, o capitão Fortunato Nascimento, líder de uma comunidade de 35 pessoas, não tem memória do passado. Seus pais morreram quando ele era criança. Ele gostaria de ter sabido como viviam no passado. Capitão é o termo que, em algumas comunidades, caracteriza o líder. Nascimento substitui o antigo capitão - que conseguiu um emprego no aeroporto local e se mudou para a cidade - como vem acontecendo com toda a comunidade. Duas horas abaixo esta a comunidade Camanaus. Lá vivem, em conjunto, cinco etnias diferentes, reunindo 220 pessoas. Eles se entendem na “língua geral”. Camanaus é um lugar de uma tranquilidade triste, onde, segundo o capitão Hermelindo Brazão, “as coisas todas estão indo embora silenciosamente”. Em Camanaus também as danças foram esquecidas. Do passado traumático só ficou o alcoolismo, introduzido pelos regatões. Mas essa é uma situação geral ao longo do Rio Negro. Em frente à aldeia, do lado oposto do rio, esta o porto. Ali é onde os barcos de maior porte param, bloqueados pelas corredeiras do rio. Dali só se sobe por terra ou em embarcações pequenas. Carros blindados do Exército preparam-se para deixar o cais, depois de mais uma manobra. Durante uma semana, dois mil homens estiveram reunidos na região, considerada estratégica pelos militares. Para uma garimpeira com filha adolescente, a partida dos soldados é um alívio: “Quando eles chegam aqui, engravidam as meninas e vão embora sem querer saber de nada”. (U.C.). |
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Fontes: Cruzada
/ Ulisses Capazoli - Caderno Extra - O Estado de S.
Paulo - 8 de dezembro de 1996
Foirn - Sede da Federação Indígena do Rio
Negro http://www.foirn.org.br/
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