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Parque Xingu
Os Cinta Larga
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A Cestaria (trançados)
A Tecelagem

Cotidiano no Xingu
Para entender a impressão de imobilidade que uma aldeia xinguana pode dar, mesmo quando em plena atividade, é preciso imaginar sua rotina num dia qualquer que não seja de festa ou de algum outro acontecimento extraordinário.
Os indígenas costumam levantar-se cedo no Xingu, assim que o sol começa a clarear o horizonte. Em geral, os homens saem de casa antes das mulheres, e logo se reúnem na beira do rio para o banho da manhã. Se faz frio, acedem um fogo junto da água, conversam, aquecem-se, pulam n’água, voltam para perto do fogo, e ficam nesse vaivém por algum tempo. Depois tomam o caminho de volta para a aldeia, e vêm as mulheres com as crianças para a beira do rio. A mesma cena repete-se: o banho, a conversa ao pé do fogo. Não há hora certa para comer, mas quase sempre, depois do banho, todos comem um pedaço de beiju como se fosse o café da manhã. Se o homem vai sair para a roça ou um outro serviço pesado – uma caçada ou pescaria mais longa, por exemplo, a mulher prepara-lhe um caldo especial, rico em amido, desmanchando o beiju em água. Caso contrário, o beiju comum, comido puro, é alimento suficiente.
Banho
Todos os dias, ao nascer do sol, os Kamayurá vão banhar-se na lagoa do Ipawu. Se faz frio, acedem uma fogueira.
Quando o sol começa a esquentar, ainda bem cedo, boa parte dos homens e mulheres, já deixou a aldeia rumo a suas roças, ao rio ou à floresta. Os que ficaram ocupam-se de outras tarefas, geralmente dentro ou na porta de suas casas. Nenhuma agitação, nenhum sinal mais evidente de esforço intenso e organizado. Nenhuma imagem que um cinegrafista pudesse registrar como síntese da atividade produtiva da aldeia, assim como o movimento de uma fábrica, por exemplo, sintetiza a atividade da grande cidade industrial.
“Existe uma atividade constante nas aldeias; a mulher, o homem, a criança, todos se ocupam de alguma coisa. Mas, para quem vê de fora, pode parecer que tudo está parado”.1
Numa aldeia de indígenas agricultores, como os do Alto Xingu – Kamayurá, Yawalapiti, Waurá, Kalapalo e outros -, o trabalho intensifica-se, naturalmente, nas épocas de plantio e colheita, isto é, no início da estação das chuvas (outubro e novembro) e nas vésperas da seca (abril e maio). Com pouca variação de grupo para grupo, os xinguanos plantam milho, batata-doce, banana, amendoim, abóbora e outros produtos, mas sempre e principalmente a mandioca, que é a verdadeira base da sua alimentação. Quando a fertilidade do solo declina, abrem-se novas áreas pelo conhecido processo da coivara: a mata é derrubada nos primeiros meses da seca (junho e julho) e queimam-se os troncos e galhos antes do início das chuvas. Este trabalho pesado é função exclusiva dos homens adultos. A mulher, por sua vez, cabe arrancar a mandioca e transformá-la em farinha e beiju (uma espécie de broa).

Embora cada família cuide e colha de sua própria roça, o produto final é armazenado em depósitos comuns pelas diferentes famílias que moram numa mesma casa, sem levar em conta a quantidade produzida por cada uma.
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Os Txukahamãe, localizados no norte do
Parque costumam armazenar o alimento
comum  no centro da aldeia

Naturalmente, dentro desse ciclo anual sobram períodos mais ou menos longos em que só resta ao indígena esperar pelo crescimento da planta semeada. Então ele tem mais tempo para dedicar a outras atividades: a cerâmica, a cestaria, a fabricação de armas e ferramentas, as festas e rituais, ou simplesmente o ócio, que afinal é uma forma de vida.
E há ainda a pesca, a caça e a coleta, que representam fontes suplementares, mas necessárias, de alimento e são praticadas regularmente o ano inteiro.
Existe um preconceito muito difundido entre os caraíbas* sobre a “indolência” do indígena. Acostumados aos horários fixos de trabalho e uma perspectiva ilimitada de acumulação de riquezas, parece estranho que outros homens possam dosar livremente seu tempo de trabalho e lazer, sem a preocupação de produzir mais do que o exigido pelas necessidades correntes. Pois é isto exatamente o que o indígena faz. Se necessário, ele é capaz de revelar uma resistência física extraordinária, trabalhando sem descanso na abertura de uma roça ou seguindo a trilha de um animal na floresta por vários dias consecutivos. Num dia comum, por outro lado, raramente passa a manhã e a tarde trabalhando no mesmo serviço pesado. Se sai de manhã para derrubar mato, lá pelas onze horas, quando o calor aperta, toma o caminho de volta para a aldeia. Depois de comer qualquer coisa em casa, o mais provável é que se acomode na rede para sestear até às três ou quatro horas da tarde.

Os pajés numa roda à parte, os outros indígenas contando histórias, pilheriando, ali ficam até escurecer. Sete horas, sete e meia, já quase todos dormem em suas casas.
2
Casa dos homens
Ao pôr do sol, os homens se reúnem novamente, só que desta vez na “casa dos homens”, no centro do terreiro da aldeia

* Caraíba= civilizado, não indígena.
1. Marcelo Kujawski, cinegrafista, no Parque Xingu em 1973.
2. Revista ÍNDIOS do Rio Xingu – Rio Gráfica e Editora, Sem data.


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