(...) Ainda
nos seguiram durante dois dias e duas noites, sem que pudéssemos
repousar, e demoramos tanto para sair desse lugar e desse senhor,
chamado Machiparo, que, pelo que notamos, constava de mais de 80 léguas
[480 quilômetros], todos povoados, e de aldeia em aldeia havia enorme
proximidade. Algumas aldeias se estendiam por mais de cinco léguas [30
quilômetros], sem separação entre uma casa e outra, e isso era uma
coisa maravilhosa de se ver.
No domingo seguinte à Ressurreição
de Nosso Senhor, viemos a encontrar com outro rio mais caudaloso e
maior, à direita, na junção dos dois rios [Catua e Purus] havia muitos
e populosos povoados, na bela terra de Omagua, e por serem muitas as
aldeias e com muita gente, o capitão não quis aportar. (...) Ao cair
da tarde, chegamos a um lugarejo que estava sobre a barranca, e porque
parecia pequeno, o capitão mandou que o tomássemos. (...) Havia nesse
povoado uma casa de descanso [de reuniões], dentro da qual encontramos
louças dos mais variados feitios: havia vasos, cântaros enormes, de
mais de 25 arrobas [275 litros] e outras vasilhas pequenas, como
pratos, tigelas e castiçais, de uma louça melhor que já se viu no
mundo; mesmo a de Málaga não se iguala a ela, porque é toda vitrificada
e esmaltada com todas as cores, tão vivas que espantavam, apresentando,
além disso, desenhos e figuras tão compassadas, que naturalmente eles
trabalhavam e desenhavam como os romanos."
(CARVAJAL,
Frei Gaspar de. Relatório do novo descobrimento do famoso rio
grande descoberto pelo capitão Francisco de Orellana (1542).
Edição bilíngüe. São Paulo, Página
Aberta, 1992, p.55, 57, 63 e 65.) |
|