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As estradas de rodagem
As primeiras estradas

Antes existiam os caminhos já utilizados pelos indígenas e as trilhas dos muares.

"Provavelmente no Brasil a primeira estrada a qual se pode dar esse nome surgiu na quarta década do século XIX. Era uma estrada de rodagem em boas condições para a época, permitindo o tráfego entre a corte (Rio de Janeiro) e o município de Nova Iguaçu.

Uma concessão é dada em 1850 por decreto à Honório Francisco Caldas, para explorar uma linha de ônibus entre aquelas duas localidades. Foi dado ao empresário um privilégio por vinte anos. Os ônibus eram do tipo de diligência, veículos puxados por duas parelhas de animais com dezesseis lugares como lotação. Realizavam uma viagem diária em cada sentido."
Estrada União e Indústria
Estrada União  e Indústria logo após sua inauguração
Em 7 de agosto de 1852 a Lei n̊ 1031 dava ao Sr. Mariano Procópio Ferreira a concessão com um privilégio de cinquenta anos para explorar, com a cobrança de pedágios, duas estradas de rodagem a serem por ele construídas.
A primeira delas principiava em local a ser escolhido nas margens do Rio Paraíba, perto de Porto Novo da Cunha, seguindo até a barra do Rio das Velhas e passando por Barbacena e São João Del Rei. A segunda rodovia se bifurcaria com a primeira e seguiria outro traçado, terminando em Ouro Preto, passando por Mar de Espanha. Posteriormente foi alterado o projeto, seguindo até Juiz de Fora.
Para possibilitar a construção das referidas estradas e permitir a sua exploração, foi organizada por Mariano Procópio uma empresa denominada Companhia União e Indústria, nome com que se tomou conhecida a estrada.
Com a dificuldade e falta de material, mão-de-obra e auxílio monetário, transcorreram mais quatro anos para se tomar positivo o início das obras da nova rodovia, o que só se efetivou no dia 12 de abril de 1856, tendo sido escolhida a cidade de Petrópolis como marco zero. O percurso total da estrada projetada era de 144 quilômetros, sendo que pela primeira vez utilizou-se no país o sistema de revestimento denominado "macadame", uma invenção do engenheiro inglês Mac Adams, e que já se usava desde 1815 na Europa e Estados Unidos, com grande êxito. Tratava-se de massa de pedra britada, areia e alcatrão, comprimidos por um rolo compressor de oito a dez toneladas. No Brasil, em vista da dificuldade de se obter o alcatrão, usava-se um tipo de saibro para garantir a consistência. Com seis metros de largura, sua pista foi cognominada "rainha das estradas brasileiras".

Ao que parece não foi essa a estrada pioneira no Brasil, pois quando a União e Indústria começou a ser construída, já se sabia de uma outra construção desde 1853 no Paraná, ligando a cidade de Curitiba com a vila de Antonina, estrada essa de iniciativa do governo provincial, que aproveitava um antigo caminho que principiava em Graciosa. Essa estrada demorou quase vinte anos para ser terminada, pois só teve sua inauguração efetivada em 1873.
Tratava-se de um projeto de autoria do engenheiro André Rebouças, que sempre esteve à testa dos trabalhos.
Carruagem de passagerios
Carruagem de passagerios da Estrada União e Indústria no século XIX
Na mesma época, tem-se conhecimento de outra grande estrada em construção. Tinha características técnicas semelhantes às da União e Indústria e foi projetada e construída por Teófilo Otoni, com uma extensão de 170 quilômetros. Ficou concluída em 1857, ligando as localidades mineiras de Filadélfia e Santa Clara, nas margens do Rio Mucuri. O próprio Teófilo Otoni inaugurou a nova rodovia, dirigindo um cabriolé puxado por dois animais.

Outra estrada notável da mesma época situava-se na província de Santa Catarina e ligava Joinville a Rio Negro. Recebeu o nome de Dona Francisca, como homenagem à primeira princesa Imperial.
Em 30 de setembro de 1867, o ministro da Agricultura, a quem estava subordinada a Viação e Obras Públicas, apresenta um aviso com o projeto do engenheiro Augusto Wunderwald. Os recursos financeiros foram fornecidos pelo orçamento do Império e, assim como a estrada da província do Paraná, levou vinte anos para se chegar ao final. Sobre os 160 quilômetros de extensão, em 1887, no ato de sua inauguração, começou também um serviço de diligências.

Em 9 de fevereiro de 1859 abre-se ao trânsito público, na Bahia, a Estrada Dois de Julho, que pelas margens do Dique e do Rio da Lucaia conduzia à freguesia do Rio Vermelho. Os proprietários dos terrenos por onde ela tinha de passar ofereceram gratuitamente a terra e formaram uma comissão por nomeação da Câmara Municipal para construir a rodovia. Nessa mesma estrada, posteriormente foi assentada a linha férrea da Empresa Trilhos Centrais (bondes a burro).

Voltando à União e Indústria, em 1857, Mariano Procópio, como aconteceu com Mauá na ferrovia, esgotou as disponibilidades financeiras de sua companhia, devido às enormes despesas do empreendimento, que estavam maiores do que a previsão inicial. Para não parar as obras, recorreu ao governo imperial, abrindo mão do privilégio e do pedágio que iria cobrar, para receber em troca garantia de juros do capital empregado, assim lhe permitindo obter o financiamento
necessário para prosseguimento das obras.

Em 18 de março de 1858 a construção da estrada estava em Pedro do Rio, em 28 de abril de 1860, em Posse, e em 23 de junho de 1861 chegava a Juiz de Fora, dando-se a solene inauguração desse notável empreendimento nacional, com a presença do imperador D. Pedro II, como convidado de honra, e diversas personalidades do governo e da política.
Nessa estrada existiu durante muitos anos um transporte regular de passageiros de Petrópolis a Entre Rios, em diligência. Na opinião de um viajante da época, "as viaturas usadas eram iguais às melhores da Europa". Eram usadas duas, importadas da Inglaterra, sendo uma para quinze e outra para oito passageiros. Eram tiradas por quatro mulas e a velocidade era de 12 a 15 km/h.
Havia várias trocas de animais durante o percurso, pois a estrada se desenvolvia em terreno acidentado. As trocas eram efetuadas em Correias, Pedro do Rio, Areal e Grama, consumindo cerca de três minutos nessa operação.
Na primeira muda, em Correias, a empresa concessionária, além de uma cocheira para sessenta animais, possuía uma grande oficina para construção e reparo de seus carros.

As diligências gastavam no percurso de Petrópolis a Entre Rios cinco horas e meia de viagem de ida e, na volta, seis horas e meia, pois como era descida na ida o desenvolvimento era mais rápido, o que não acontecia na volta, quando a velocidade diminuía bastante, tendo em vista ser subida.
Os viajantes podiam optar por três classes, sendo a viagem feita dentro e fora das diligências, tendo estas também bancos na cobertura. Os preços cobrados eram caros para a época.
Ponte Entre Rios - Revert Henry Klumb
Ponte Entre Rios por Revert Henry Klumb
Em 13 de janeiro de 1812 deu-se início na Bahia à abertura de uma estrada que do Campo Grande de São Pedro conduzia ao Rio Vermelho, obra essa em que trabalharam trezentos forçados, por ordem do governador Conde dos Arcos. Por essa estrada também se ia a São Lázaro e ao Cemitério do Campo Santo.

Em 17 de fevereiro de 1827, é aberta ao trânsito público a estrada de Santos a Cubatão. Anteriormente esse trajeto era feito por água.

Essas as primeiras e mais importantes rodovias do Brasil do período do Segundo Império. Com o advento da ferrovia, quando o transporte se modificou para melhor, com mais rapidez e conforto, acabaram -se as idéias de construção de estradas de rodagem de grande porte, o que só se veria desenvolver, novamente, a partir da segunda década do século XX.
Aliás, já antes do advento da diligência, ônibus ou qualquer outro meio coletivo de transporte, o governo se propunha a promover a ligação dentro do Brasil, entre pontos mais distantes. Essa é a proposta efetuada na terceira década do século XIX, em que se cogitava da introdução de estradas cortando o nosso território. Com isso se pretendia a união do país, por intermédio de centros a centros produtores e consumidores, além de incentivo à colonização interiorana e não somente à beira-mar. Para esse fim, é proposto o seguinte decreto da Assembléia Geral, publicado no Jornal do Commércio de 30 de outubro de 1834:

A Assembléia Geral decreta:
Abrir-se-á uma estrada geral no centro do Brasil, entre 2 e 25 graus do Sul, principalmente da Vila do Príncipe, na província de São Paulo, até a Vila de Oeiras na província do Pará, passando a estrada em distância dos grandes rios, e por onde for mais cômoda ao trânsito de passageiros.
De 20 em 20 léguas se estabelecerá uma colônia, que principiará com 100 pessoas ao menos, podendo aumentar-se o seu número conforme a conveniência de sua localidade e verificando-se este aumento depois de estabelecidas todas as colônias, nos espaços acima marcados.
Concluída a estrada geral do Sul para o Norte, abrir-se-ão para beira-mar, tantas estradas quantas forem as colônias estabelecidas das quais devem principiar estas estradas para comunicar com todas as províncias que lhe ficarem fronteiras.
Todas as despesas com estas estradas, estabelecimento de colônias, etc., serão à custa de todas as Ordens Religiosas do Império, sem exceção de alguma, tanto as que possuem bens, como as mendicantes. As ordens religiosas ficam obrigadas a remover para aquelas estradas todos os bens que possuem em qualquer parte do Brasil, dentro do prazo de 20 anos.

Não sabemos por que esse grandioso projeto não foi levado avante. Mas seria um pioneirismo do qual até hoje estaríamos nos beneficiando.

Por volta de 1876, o país possuía as seguintes estradas de rodagem:

Estrada União e Indústria;
Estrada Dona Francisca, de Joinville a Rio Negro, com 146 k:m;
Estrada São Bento, de Joinville a São Bento, com 86 k:m;
Estrada de Cananéia, de Cananéia à Vila Ipiranga, com 107 k:m;
Estrada dos Coritibanos, de Blumenau à Vila de Coritibanos, com 72 km;
Estrada de Curitiba à Colônia de Assungui, com 42 km;
Estrada da Graciosa, PR, de Antonina a Curitiba;
Estrada de Mato Grosso, PR de Curitiba e Papagaios, prolongamento da anterior;
Estrada de Vitória ao Norte de Minas, ES de Campinho a Natividade, com 276 km;
Estrada de Vitória a Colônia Leopoldina, ES;
Estrada do Cachoeiro do Itapemirim aos Rios José Pedro e Itabapuana, com 87 km;
Estrada de Piuma à Vila de São Pedro do Cachoeiro do Itapemirim;
Estrada de Guarapari a Santa Izabel, ES;
Estrada do Barreado a São Matheus, com 75 km;
Estrada de Filadélfia a Santo Antônio do Pessanha, MG, com 108 km;
Estrada de Santa Helena de Alcobaça, PA.

Por essa época, existe o interessante relato de uma viagem de doze horas pela estrada União e Indústria escrito por Henry Klumb, um fotógrafo e desenhista radicado no Rio de Janeiro, do qual damos um resumo a seguir:

Do Rio de Janeiro a Petrópolis vamos pelo vapor e estrada de ferro Mauá. Serviço de todos os dias.
Partida da Prainha às 6 horas da manhã, nos domingos e dias festivos; às 2 horas da tarde nos dias úteis.
Há Tilburys para conduzir os passageiros à estação de embarque; tomados no interior da cidade custarão $500 réis; os carros de quatro lugares custam 2$000.
Os bilhetes para Petrópolis são entregues para viagens inteiras ou para as estações.
Viagem inteira: 1 a classe 8$000; 2a classe 6$000; 3a classe e descalços, 4$000. Estabeleceu-se a 3a classe para os escravos, porém as pessoas que quiserem tirar o calçado são aí admitidos o que freqüentemente acontece com a maior parte dos trabalhadores dos campos.”
Fontes : Ônibus: uma história do transporte coletivo e do desenvolvimento urbano no Brasil / Waldemar Côrrea Stiel. - São Paulo: Comdesenho Estúdio e Editora, 2001
Sobre o autor:  Waldemar Côrrea Stiel nasceu em São Paulo. É advogado, historiador e auditor fiscal da Previdência Social.  Estudioso e apaixonado pelo transporte coletivo, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e a Associação de Preservação de Material de Transporte Coletivo (APMTC), tendo colaborado na organização do Museu de Transporte da ex-CMTC, na cidade de São Paulo.
É autor dos livros História dos Transportes Coletivos em São Paulo (McGraw Hill/Edusp, 1978) e História do Transporte Urbano no Brasil (pini /EBTU, 1984).
Colaborou também em vários jornais e revistas, inclusive no exterior.


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