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Penetrando
nos ervais ao cabo do primeiro semestre do ano, a fim de realizarem a
colheita no período de junho a outubro, os ervateiros, chegado o verão,
retornam aos campos e às pequenas culturas para, já no inverno próximo,
irem repovoar a floresta. Repete-se, então, no sul do país, mas no
sentido inverso, o fluxo e o refluxo que caracteriza, sob a pulsação
sazonal, a atividade humana na exploração econômica dos seringais
amazônicos. Durante a ausência do chefe, a família do ervateiro
permanece nas terras cultivadas sob a guarda da mulher, que nem sempre
se dedica à explotação das "minas" ou ervais.
A adaptação da floresta ao trabalho da extração da erva consiste, de início, no estabelecimento de ranchos ou acampamentos de tendas, onde, em bandos, turmas, ou secções, passarão os ervateiros os meses necessários à colheita das folhas, pecíolos e pedúnculos das plantas pertencentes à espécie Ilex paraguariensis ou paraguaiensis ou às suas diversas variedades. Perto. dos "ranchos" constroem-se "jiraus" ou "carijós", ou, então, "barbaquás", com o propósito de neles se realizar, futuramente, e conforme o sistema preferido, a "dessecação" completa das folhas, pecíolos e pedúnculos, após a operação preliminar denominada "sapeco" ou "sapecagem". Dentro, porém, do plano geral da Divisão de Defesa da Produção, do Instituto Nacional do Mate, a denominação "ranchos" designaria apenas os agrupamentos de produtos, habilitados e vinculados ao mate que, assim integrados, constituiriam, então, o elemento celular da organiza- ção racional da produção. O "rancho", desse modo considerado, passaria a se caracterizar, material e funcionalmente, por um tríplice aparelhamento, composto do "barbaquá" (ou aparelho de secagem) do "cancheador" (ou aparelho de trituração do mate) e da "peneira" (ou aparelho de coagem da cancheada). Nos casos ordinários da explotação da planta silvestre, os ervateiros, também às vezes denominados "mineiros" quando realizam, com tesouras e facões apropriados, os serviços de "poda" e corte, iniciam sua atividade propriamente ervateira, "espantando", isto é, limpando com a foice o "erval" de plantas daninhas acaso nele existentes. Cortados os ramos da "erva", são esses "sapecados", segundo técnica especial, no mesmo local da extração, após terem sido amontoados em volta de uma fogueira ("tatagua" dos paraguaios), geralmente construída numa superfície de uns seis pés quadrados. A operação denominada sapeco é de grande importância, porque influi na melhoria do aspecto e do paladar do mate. Quebrados a mão e selecionados, os ramos são transportados em feixes para o local onde o primeiro beneficiamento, segundo o sistema paraguaio, no primeiro caso, e conforme o sistema brasileiro, no segundo. Instalações de madeira protegidas por uma cobertura geralmente de folhas de palmeira, de taquara, ou de sapé, no "barbaquá" e no "carijó", os feixes de ervas são submetidos ao calor lento, residindo na maneira de se levar o calor à planta, a diferença essencial entre ambos. No "barbaquá" o calor é recebido de uns oito a dez 'metros de distância vindo de um fogão isolado, ao passo que no "carijó", o fogo é direto sob a armação de madeira, penetrando calor e fumaça, simultaneamente, nos feixes de ervas em beneficiamento, circunstâncias que prejudica o sabor do mate resultante, dando-lhe paladar estranho, que o "barbaquá" consegue evitar. O aspecto e o tipo das instalações refletem: as condições financeiras dos extratores-produtores, estando atualmente abandonados por assim dizer, aqueles aparelhamentos que não mais correspondem às exigências do fino paladar e ao grau de progresso a que já atingiu a indústria do mate, indústria genuinamente brasileira, desde os industriais, até os capitais, passando pela matéria-prima e pelos operários. Colheita, sapecagem, condução, dissecação - fases importantes na vida profissional do ervateiro - devem estar terminadas no prazo de vinte e quatro horas, sendo de seis no máximo o número de horas empregadas na dissecação realizada no "barbaquá", sem o que se prejudicarão o aroma e a cor do produto. Do "barbaquá" passa-se à "cancha", espécie de batedouro, onde as folhinhas são quebradas com bastões de madeira, e cercado de paredes também de madeira. É do sistema de "cancha" que deriva a expressão "erva-chancheada". Ensacada e empilhada em depósitos, a erva é conduzida para os engenhos de beneficiamento, cujos principais se encontram localizados em Curitiba e Joinville. Além de nuclear toda uma original massa de trabalhadores especializados, o "mate" contribuiu para caracterizar o "tipo" do gaúcho com o seu inseparável chimarrão e para enriquecer o folclore do Brasil-Sul, de que nos pode dar idéia o seguinte exemplo, recolhido pelo historiador Romário Martins, altamente expressivo na quadra atual que o mundo atravessa: "Peço
pouco nesta vida
pra minha felicidade: uma cabrocha destorcida, uma viola bem sentida facão, mate e liberdade" |
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