Tarda,
às vezes, o alarme. É que o peixe, não raro, demora dias e dias em
frente à praia, ora se aproximando, ora se afastando, reunindo-se ou se
dispersando, entretanto pelas águas profundas ou retornando à tona. Um
aviso fora de tempo, um lançamento precipitado, um atraso qualquer, - e
a tarefa estará ameaçada de malogro. Pertence ao "espia" e constitui a
parte difícil e de responsabilidade pessoal de sua tarefa, a escolha do
momento propício, quando as operações devem ser desencadeadas. Atento,
acompanha todos os movimentos do cardume e, depois de prolongada
espera, decide da convocação do pessoal da praia e do início da
atividade do cerco das tainhas. Soa, então o búzio e o seu ruído ecoa
pelas praias e encostas vizinhas. O pessoal acorre destinando-se cada
um ao lugar que lhe cabe e apanhando o material de seu trabalho. A
população toda corre para a praia, saindo dos caminhos encostas e
ranchos escondidos no "jundu". Rolam-se as canoas praia abaixo.
Formam-se as canoas na conformidade das redes que levam, embarcam as
tripulações. E avançam, vagarosamente, ao impulso de remadas pausadas e
silenciosas, enquanto canoas menores, dos "aparadores", vão
acompanhando, prontos a completar a tarefa dos redeiros.
Mais
atento do que nunca, o "espia" está acompanhando e comandando todos
esses movimentos. De seu posto, com sinais de braço, desenvolve a
manobra dos barcos. Há um momento em que o cardume se dirige para o
lugar favorável ao cerco. A flotilha está pronta e deixou o peixe entre
ela e a praia. A distância em que se encontra o peixe, a densidade de
sua reunião, sua posição em relação à costa, condicionam o lançamento
das redes. O sinal do "espia" é decisivo. Lançam-se as redes, com os
barcos aproximados e ela é estendida, depois, pelo afastamento deles,
até fechar-se, com as pontas sobre a praia. Está pronto o cerco que
fica complementado pelas tarefas miúdas. Não está senão iniciada a
tarefa do "espia", embora a sua parte principal esteja feita.
Cabem--lhe ainda pormenores do cerco, até começar a puxada para a
praia.
Acabada
a pescaria, quando todos se aprestam para a partilha do peixe, reunidos
em volta dele, na praia, esse "general dos cercos de tainha", como o
denominou Carlos Borges Schmidt, tem a sua paga. De acordo com a sua
responsabilidade e a importância do seu trabalho, seu quinhão é maior.
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