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O
carvão vegetal provém da combustão da madeira ao abrigo do contato com
o ar. Tanto são aproveitadas para sua produção as matas virgens, quanto
as capoeiras formadas após os desflorestamento, não havendo preocupação
alguma de seleção das madeiras.
A preparação do carvão vegetal pode ser feita por dois processos: o primitivo, de carbonização da madeira em "balões" e o processo mais científico de carbonização em cilindros fechados constituídos de lâminas de ferro. Mais generalizado, apesar de mais rudimentar e antiquado, é o primeiro dele. Aspecto comum nas regiões de exploração de carvão são os "balões", fumegantes uns, já apagados outros, nas "praças" abertas no meio da mata, onde os troncos calcinados atestam a ação destruidora do homem. A esta atividade exploradora liga-se um tipo interessante, o carvoeiro. Diferentes tarefas na preparação do carvão vegetal exigem do carvoeiro atividade intensa, sem interrupção e sem descanso. Encarregando-se de alguns alqueires da mata arrendada pelo "empreiteiro", que é o empregador, o carvoeiro munido da foice dá início ao seu trabalho fazendo a "roçada", para limpar o terreno dos pequenos arbustos. Segue-se a "derrubada", em que ele de machado em punho com toda a energia, põe abaixo as árvores, cuja madeira será transformada em carvão. Para produzir três sacos e meios de carvão, precisa, no mínimo, de 1 metro cúbico de lenha. Dez dias após, depois de secas as folhas, pequenos arbustos e ramagens, faz ele a "coivara" para limpar o terreno, pois o fogo alastrando-se vai consumindo os elementos de fácil combustão. Depois de extinto, estando apenas chamuscada a madeira das árvores abatidas, o carvoeiro passa a "traçar" a lenha, isto é, a cortá-Ia em pequenas toras de cerca de um metro de cumprimento. Deste modo, termina a preparação do combustível dos "balões". A lenha, assim preparada, é transportada para a "praça", local já preparado a enxada e ancinho, situado geralmente no sopé de. um morro ou colina. Às vezes, porém, a "praça" é preparada mesmo na encosta do morro, fazendo-se um revestimento com paus roliços ou varas, que cobertos de terra formam o terreiro apropriado. Geralmente, tem cerca de 5 a 8 metros de circunferência. É deveras interessante a técnica de construção dos "balões" para a queima da lenha. Com as toras de menor tamanho o carvoeiro arma uma espécie de funil que se vai alteando até 2 metros de altura. Ao redor do funil é empilhado todo o resto da lenha em sentido vertical. Ao centro fica uma cavidade, a chaminé central, por onde é lançado o fogo para queimar a lenha. O "balão" assim preparado é enchido com palha, folhas, e capim seco, com o que é também envolvido por fora. O revestimento externo do "balão" é feito com terra. Surge assim a "carvoeira", que o caboclo no seu linguajar chama de "caieira". Está, então, pronta para receber o fogo. Vai começar a transformação da madeira em carvão, sendo o fogo introduzido pela chaminé central. Como ventiladores o carvoeiro abre na base da "caieira", uma série de orifícios, "suspiros" ou "espias", por onde penetra o ar livre. Novos ventiladores são abertos à medida que a lenha vai sendo queimada e para isto tem que estar o carvoeiro vigilante. A combustão leva geralmente dois a três dias e não deve ser muito rápida, o que redundaria na perda do "balão". Quando o fogo está muito violento, para abrandá-lo, o carvoeiro coloca pela chaminé pequenos tacos de lenha, as "comidas do balão", utilizando-se para isto de uma escada feita de varas. As vezes, para evitar o escorregamento da terra dispõe ele na parte externa do "balão", moirões verticais que sustentam outros horizontais. Quando a fumaça de negra e espessa, a princípio, se torna azulada, já sabe o carvoeiro que a combustão está no fim. Ele, então, afoga a "caieira" e espera calmamente que os últimos restos do braseiro desapareçam. Munido de pá, peneira e ancinho inicia o serviço de peneíragem, separando o carvão da terra da "caieira". Em seguida tem ele que ensacar toda a sua produção. Na "praça" mesmo, ao lado da "caieira" apagada e desfeita, o carvão é ensacado. A produção dos "balões" varia bastante: a área de 30 pés de diâmetro regula 100 sacos de carvão de capoeira e mais, quando é de mata virgem. Geralmente o carvão é vendido aos cargueiros e tropeiros, que nas suas tropas de burro transportam-no do meio da mata para a cidade onde será vendido. As vezes, o carvão é adquirido por intermediários que o transportam em caminhão. Outras vezes, ainda, são os próprios carvoeiros que partindo de madrugada de seus sítios vão à cidade vender o produto de seu trabalho. Muitos carvoeiros trabalham por conta própria, sendo que outros trabalham para "empreiteiros". Um bom carvoeiro produz cerca de 80 sacos de carvão por mês. O carvoeiro vive sempre no mato, em grande isolamento, morando em toscas palhoças de pau-a-pique de palmito, cobertas de sapé, sem nenhum conforto e higiene. Alguns deles, quando o dono da terra permite, têm suas pequenas plantações e criações. Mas, o mais comum é nada plantarem, adquirindo tudo na cidade mais próxima. Muitas vezes, ao pé do pobre casebre depara-se uma "carvoeira" minúscula, fumegante. É o brinquedo dos filhos do carvoeiro. A produção do carvão vegetal, o qual se apresenta como combustível barato e indispensável entre nós, pesa, no entanto, enormemente sobre a nossa riqueza florestal, acarretando a destruição sistemática das matas e capoeiras, com todas as consequências daninhas decorrentes do intenso desflorestamento. |
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