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Caiçaras
Pescadores do Litoral Sul
Caiçaras
Caiçaras - Ilustração de Percy Lau
Vivendo uma existência obscura, uma vida em que o heroísmo é a norma usual de cada dia, infatigáveis e perfeitamente adestrados na luta constante contra o oceano, os pescadores do litoral sul aglomeram-se, de preferência em torno das enseadas e golfos profundos, onde, ao abrigo dos ventos, as frágeis embarcações rumam facilmente para o mar alto. 
Sucedem-se, assim, ao longo da extensa faixa costeira, os pequenos arraias de pescadores com sua fisionomia típica de redes estendidas secando ao sol, canoas descansando sobre os rolos, prontas para se fazerem ao mar e varais cobertos de peixes salgados postos a secar. Como diz Pierre Deffontaines, "a unidade de agrupamento é aqui a rede de pesca, que exige para seu manejo o concurso de 10 barcos, correspondente a 8 ou 10 famílias". Nos dias de grande pescaria, esses arraiais enchem-se de atividade recaindo, depois de acabada toda a faina, no sossego e na tranqüilidade, comuns aos pequenos povoados.

Magníficos marujos, estes caboclos audazes, afeitos à intempérie, expostos ao sol e à chuva, a tudo resistem, acostumados como estão desde a tenra infância a esta vida de trabalho e atividade intensa.

Contrastando com os jangadeiros do Nordeste, "cujos hábitos e costumes estão mais ligados ao mar do que ao continente", estes pescadores do Sul não vivem, exclusivamente, da pesca. Realizam um gênero de trabalho misto, associando as pescarias à pequena agricultura.

Desse modo, não sendo essencialmente ictiófagos suplementam a alimentação com os produtos de suas pequenas plantações de mandioca, cana-de-açúcar, banana, etc., que se estendem pelos encostas dos morros vizinhos. Sem estímulo para aumentar as culturas, isolados como vivem e desprovidos de meios de transporte, plantam somente para satisfazer as próprias necessidades.

Tais pescadores, que vivem tanto da pesca quanto da agricultura, recebem no litoral paulista o nome local de "caiçaras".

Toda esta população praiana, quer seja no litoral fluminense, ou paulista, ou ainda no extremo sul, vive em casinholas rústicas e toscas, de pau-a-pique, cobertas de sapé, com chão de terra batida. Algumas delas, mais faceiras, ostentam jardinzinhos com flores e folhagens de cores vivas e alegres.

O mar, que constitui para estes homens o campo de atividades quase exclusivo, oferecendo, às vezes, pesca em abundância e em outras, negando-lhes a subsistência, quando varrido pelos temporais impede a saída das canoas, determina certa inconstância no seu trabalho. Assim é que constantemente se deslocam de um ponto a outro do litoral em busca de enseadas mais abrigadas e de pesqueiros melhores e mais ricos. No litoral paulista é freqüente encontrarem-se pescadores vindos de Parati e Angra dos Reis.

Outros, ainda, nas épocas em que o pescado é menos abundante, empregam-se nas lavouras próximas à costa que lhes garantem um ganho certo, abandonando-as, porém, para se dedicarem sem esmorecimento à pesca, quando esta se torna mais lucrativa. Tal fato pode ser observado no litoral do estado de São Paulo com os pescadores que se empregam nos bananais, voltando no inverno, sem demora, às praias para a pesca das tainhas.

A pesca de alto mar, que exige grandes e bem aparelhados barcos, praticamente não é feita por estes pescadores modestos, cujos exíguos recursos não podem custeá-la.
Limitam-se, assim, à pesca de linha e à pesca de rede, sendo esta a mais empregada e rendosa.

Antes de romper o dia, partem os pescadores nas suas pequenas canoas, para a aventura diária que lhes dará o sustento, navegando para os pesqueiros mais ricos, onde passam horas a fio, pacientes e silenciosos, com a vara em punho, à espera da desejada pesca. A tardinha, voltam trazendo o produto de seu dia de trabalho - corvinas, pescadas, enchovas, cambucus - que, por não terem valor econômico apreciável se destinam, quase exclusivamente, ao seu próprio sustento e ao de suas famílias.
Importante, também, no litoral sul é a pesca do cação, que se faz com anzóis e linhas especiais, tal a força do peixe.

Mais lucrativa e proveitosa é a pesca de rede tão bem descrita por Maria Conceição Vicente de Carvalho, em O Pescador no litoral do Estado de São Paulo.
A pesca de maior vulto é a da tainha, que se efetua no inverno, nos meses de junho, julho e agosto, quando grandes cardumes desse peixe vêm procurar "abrigo nas águas mais quentes e mais tranqüilas das barras dos rios e dos fundos das enseadas", fugindo ao frio intenso das águas em latitudes mais elevadas.

O trabalho é cuidadoso e eficientemente dividido na pesca de rede. Um vigia postado na praia com a atenção fixa no mar observa a aproximação do cardume, que é denunciada pela agitação inusitada da superfície das águas. E, então, que ele acena uma toalha branca para o pescador que se encontra na canoa da rede, o qual com uma buzina dá aos companheiros o "toque de reunir".
Sem demora, a praia enche-se de gente - homens, mulheres e crianças - prontos e dispostos a tomar parte na pescaria que beneficiará a todos. Neste momento o interesse geral concentra-se no "lanço" que se vai efetuar, deixando-se para depois todas as outras ocupações.

A canoa da rede, levando uma tripulação de 5 ou 6 homens, rapidamente se faz ao mar. A rede, de 120 a 200 braças, de um só proprietário, às vezes e, em outras, formada de diversos panos de donos diferentes, é logo lançada, Pouco a pouco completa-se o cerco, os cabos se aproximam e "a rede é trazida, braça a braça, vagarosamente, obedecendo a um certo ritmo".

Seguindo uma prática já de todos conhecida, sem que sejam dadas ordens, sem atropelo e balbúrdia, o pessoal vai-se distribuindo nos seus lugares; os homens no fundo, as mulheres no raso, e morosamente é puxada a rede até a praia. Aí, contando com o auxílio das crianças, que são também colaboradores eficientes, os peixes todos são amontoados, procedendo-se, então, à contagem e distribuição: 1/3 é dado ao dono da rede e os outros 2/3 são divididos entre os que ajudaram a pescaria, inclusive, as crianças. Em Cabo Frio, cabe maior porção de peixe ao vigia do dia.

Se, após, o "arrastão" que levou horas, o vigia dá sinal avisando a aproximação de outro cardume, com a mesma disposição e ânimo, lançam-se todos de novo ao trabalho.

Em alguns lugares, paga-se aos camaradas um salário fixo. Geralmente há uma só rede em cada praia; quando existem duas ou três, pescam em dias alternados os mesmos homens, que são pagos em cada dia pelo proprietário da rede.

Como é natural, na pesca da tainha, de mistura com elas, vêm peixes os mais diversos - arraias, cações, peixe miúdo - que são, geralmente, consumidos pela própria população.

Nas noites escuras saem os pescadores com o "picaré" - rede pequena - ao ombro, a fim de pescar os peixes miúdos que se aproximam da arrebentação. Eles não têm dificuldade em vender o pescado, pois, na praia mesmo, vão procurá-los os compradores. Os peixes que não são vendidos, depois de salgados, são postos a secar para garantir sua boa conservação.

Apesar de ser proibida a pesca por meio de cercos fixos, que possibilita a formação de bancos de areia que prejudicam a navegação, em alguns lugares, ela é tolerada, pois tais cercos constituem "uma reserva de peixes para os pescadores" .
Contando com o auxílio inestimável da família, utilizando os recursos mais variados, pode o pescador, deste modo, obter o pescado, que não só lhe serve de sustento, como também lhe vai dar o dinheiro necessário para custear suas outras despesas.
No entanto, ainda não conta o Brasil com uma indústria de pesca eficientemente organizada. Necessário se torna que a faixa litorânea do sul, ainda imperfeitamente explotada nas suas possibilidades econômicas, possa ser realmente aproveitada, vindo, assim, a constituir uma fonte de riqueza para a economia nacional.
Caiçara
Os próprios indígenas começaram a chamar os seus irmãos de caiçara, porque moravam com os povoadores portugueses em vilas cercadas por caiçaras (cercas de varas).
Os moradores das praias, mamelucos (mestiços de branco e índio), passaram a ser também conhecidos por caiçaras.
Como a terra do litoral não era fértil como no planalto, dedicaram-se à pesca. Não abandonaram completamente a lavoura, pois o plantio de mandioca continua presente.
Caiçara passou a ser sinônimo de pescador litorâneo.

O caiçara, para a pesca usa espinhel (corda extensa onde prende anzóis) e redes: tarrafa, picaré, jereré, puçá e faz nos rios as cercas ou chiqueiros de peixes. 
A pesca com rede requer o uso de canoa - a ubá. A rede mede cerca de 140 braças de comprimento por 6 de largura. Para facilitar a flutuação na parte superior da rede colocam bóias de cortiça. E na parte inferior colocam as chumbadas ou peso de barro cozido. Nas extremidades da rede, colocam cordas para puxar o arrastão. Colocam a rede no mar, levada pela ubá, e depois  vêm arrastando até a praia - é o famoso “arrastão”


Fonte :  Pescadores do Litoral Sul / Elza Coelho de Souza in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970
Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale - Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
Brasil, Histórias, Costumes e Lendas / Alceu Maynard Araújo - São Paulo: Editora Três, 2000 


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