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Nos
meses secos, os pantaneiros trazem para as áreas alagáveis as reses e
ou seus rebanhos que por ventura foram retirados durante a
última
cheia. Entretanto, o pasto está brotando, ainda que bastante ralo e, de
acordo com os moradores, alcançará seu apogeu um pouco antes
do
início das chuvas, entre agosto e setembro. Nessas pastagens,
predomina o capim-mimoso, que coloniza as terras alagáveis. O gado
volta para o largo, no início da vazante, para beneficiar-se
das
pastagens nativas dos campos, e nas "fraldas" ou "firmes" do morro, os
pantaneiros instalam suas casas e as denominam "cercado". O firme tem
grande importância na vida dos moradores, pois além de abrigar a casa e
o cercado, é o único espaço disponível para o plantio de roças, para os
quintais onde cultivam árvores frutíferas e eventualmente pequenas
hortas e onde criam porcos e galinhas.
É neste exíguo espaço, refúgio do gado no período das cheias, que cuidam de seu rebanho e, também, plantam gramíneas. As vacas que estejam produzindo leite ou que tenham bezerros recém-nascidos geralmente são mantidas fechadas na fralda do morro. Outro aspecto problemático deste período é a presença de piranhas na área alagável. É principalmente no início da enchente que elas atacam os úberes das vacas, às vezes de forma que estas não poderão mais amamentar ou produzir leite. Na vazante, as piranhas não apresentam o mesmo perigo. |
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O peão Alforge tomando tereré - Foto de Araquém Alcântara |
Os
Pantaneiros quando se reuném à noitinha para tomar o tereré (mate frio
servido numa cuia feita de chifre de boi) aproveita para ouvir e
contar os "causos". Araquém
Alcântara em seu livro Pantanal,
relata um desses "causos" contado por "um velho vaqueiro que certo dia
fora campear uns cavalos pro lado do brejo do Rio Negro, lugar da
pintada. Montava uma mula mansa e de confiança e, ao cruzar um capão de
acuri fechado, topou com o bicho - um macharrão criado. Distraído, foi
surpreendido pelo rosnar atrevido do gato que, vagarosamente,
vinha em sua direção. Conta Marcelão: "Chorei a falta de minha zagaia e, naquela situação, o jeito era correr". Convidou a mula para a fuga, mas a infeliz não obedecia, nem com espora e chicote. A mula murchou orelha e quebrou das carnes, estaqueada, imóvel como uma pedra. Marcelo resolveu gritar com o macharrão que vinha crescendo em cima dele. Nisso, e só então, lembrou do revólver na cintura. "Foi a sorte", diz Marcelão. "Puxei o pau-de-fogo duas vezes, um tiro em cima do outro. Só tinha dois. O gatão chegou a armar o pulo, mas caiu dando um bufo feio e fedido - catinga da morte - na cara da minha mula." |
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Marcelão
teve que puxar a besta pelo cabresto até uma sombra para descansar -
estava afrontada. Depois de muito tempo, vaqueiro e montaria, puderam
tomar o rumo de casa. Mas o animal só andava de passo, orelha murcha,
cabeça baixa, apalpando o chão e balançando a cadeira como um potrinho
aprendendo a andar. A mula ainda viveu muitos anos, sozinha pelos
campos, errante, fora da manada, imprestável - quebrou das
carnes
para sempre".
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