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Tipos Regionais do Centro-Oeste
O Pantaneiro

O Pantaneiro
O Pantaneiro - Foto de Lester Scalon
Há uma caracterização regional que faz distinção entre os termos "ribeirinho" e "pantaneiro". Ribeirinha é a população que vive à beira dos rios, com maior identificação com a água do que com a terra e com atividade predominantemente pesqueira, apoiada pela agricultura de várzea e de terra firme. Assim, o termo "ribeirinho" se opõe ao termo "pantaneiro" pois também descreve,além de uma ligação com um espaço geográfico, uma condição socioeconômica ligada à pobreza.

Já o termo pantaneiro designa uma categoria social associada a grandes fazendas do Pantanal mato-grossense, ao gado numeroso e à riqueza.
Todavia, há que se salientar que muitos dos chamados ribeirinhos, quando encontram terras disponíveis nas áreas alagáveis, são na verdade, pantaneiros, no sentido da localização geográfica e pela percepção que têm do ambiente (da Silva e Silva, 1995).
Nos meses secos, os pantaneiros trazem para as áreas alagáveis as reses e ou seus rebanhos que por ventura foram  retirados durante a última cheia. Entretanto, o pasto está brotando, ainda que bastante ralo e, de acordo com os  moradores, alcançará seu apogeu um pouco antes do início das chuvas, entre agosto e setembro. Nessas pastagens,  predomina o capim-mimoso, que coloniza as terras alagáveis. O gado volta para o largo, no início da vazante, para  beneficiar-se das pastagens nativas dos campos, e nas "fraldas" ou "firmes" do morro, os pantaneiros instalam suas casas e as denominam "cercado". O firme tem grande importância na vida dos moradores, pois além de abrigar a casa e o cercado, é o único espaço disponível para o plantio de roças, para os quintais onde cultivam árvores frutíferas e eventualmente pequenas hortas e onde criam porcos e galinhas.
É neste exíguo espaço, refúgio do gado no período das cheias, que cuidam de seu rebanho e, também, plantam gramíneas. As vacas que estejam produzindo leite ou que tenham bezerros recém-nascidos geralmente são mantidas fechadas na fralda do morro. Outro aspecto problemático deste período é a presença de piranhas na área alagável. É principalmente no início da enchente que elas atacam os úberes das vacas, às vezes de forma que estas não poderão mais amamentar ou produzir leite. Na vazante, as piranhas não apresentam o mesmo perigo.
Pantaneiro tomando Tereré
O peão Alforge tomando tereré - Foto de Araquém Alcântara
Os Pantaneiros quando se reuném à noitinha para tomar o tereré (mate frio servido numa cuia feita de chifre de boi) aproveita para ouvir e contar os "causos". Araquém Alcântara em seu livro Pantanal, relata um desses "causos" contado por "um velho vaqueiro que certo dia fora campear uns cavalos pro lado do brejo do Rio Negro, lugar da pintada. Montava uma mula mansa e de confiança e, ao cruzar um capão de acuri fechado, topou com o bicho - um macharrão criado. Distraído, foi surpreendido pelo rosnar atrevido do gato que,  vagarosamente, vinha em sua direção.
Conta Marcelão: "Chorei a falta de minha zagaia e, naquela situação, o jeito era correr". Convidou a mula para a fuga, mas a infeliz não obedecia, nem com espora e chicote. A mula murchou orelha e quebrou das carnes, estaqueada, imóvel como uma pedra. Marcelo resolveu gritar com o macharrão que vinha crescendo em cima dele. Nisso, e só então, lembrou do revólver na cintura. "Foi a sorte", diz Marcelão. "Puxei o pau-de-fogo duas vezes, um tiro em cima do outro. Só tinha dois. O gatão chegou a armar o pulo, mas caiu dando um bufo feio e fedido -  catinga da morte - na cara da minha mula." 
Marcelão teve que puxar a besta pelo cabresto até uma sombra para descansar - estava afrontada. Depois de muito tempo, vaqueiro e montaria, puderam tomar o rumo de casa. Mas o animal só andava de passo, orelha murcha, cabeça baixa, apalpando o chão e balançando a cadeira como um potrinho aprendendo a andar. A mula ainda viveu muitos anos, sozinha pelos campos, errante, fora da manada,  imprestável - quebrou das carnes para sempre". 


Fonte: Taimã - A Vida às Margens do Pantanal / Lester Scalon. - Vinhedo, São Paulo: Avis Brasilis Editora, 2013
Pantanal / Araquém Alcântara. -  São Paulo : Araquém Alcântara Fotografia, 2003


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