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Tipos Regionais do Centro-Oeste
Bois de Sela

Bois de Sela
Bois de Sela - Ilustração de Percy Lau
A vida humana, ao afeiçoar-se a cada região natural, em que se fixe, não tarda a criar para a sua serventia adequado meio de transporte, cuja ilimitada variedade, por assim dizer, caracteriza as peculiaridades locais. Assim é que vemos de um extremo ao outro da escala dos climas, entre a fria Escandinávia e a tórrida África, o homem valer-se do ski, acondicionado a deslizar sobre o gelo, como do camelo, que o transporta com segurança pelo areal adusto, onde seria impossível o trânsito de maneira diversa. Embora livre de variações excessivas, comparáveis aos exemplos citados, o Brasil comporta, em seu imenso território, modalidades singulares de condiçõesmesológicas, de que rompe a diferenciação nos processos de locomoção. 
De princípio, os naturais apenas praticavam a caminhada a pé, em seus trilhos de indígenas, quando se não utilizavam também da navegação, em, suas igaras de acabamento mais ou menos tosco, ou aperfeiçoado, conforme a tribo. a que pertencessem. O colono lusitano trouxe as caravelas para navegar pelo mar e os cavalos para as viagens por terra, além dos bovinos que se encarregariam do. transporte, jungidos aos carros de eixo móvel. E da combinação de tais elementos, resultaria, antes da era da via férrea, do automobilismo, da aviação, diversidade apreciável de características em matéria de transporte. Nas coxilhas gaúchas, de horizontes sem fim, o cavalo fez-se companheiro inseparável do povoador, tanto nas atividades pacíficas dos campeiros, quanto igualmente nos reencontros guerreiros, rematados por aniquiladoras cargas de cavalaria.

A indumentária do cavaleiro, em tal ambiente alegre, tornou-se festivamente decorativa, em contraste com a do vaqueiro nordestino, que se enroupa de couro para se defender contra as agressões das caatingas, a que não resistiriam os amplos trajes gaúchos.
Na planície amazônica, ou mais amplamente, nas bacias hidrográficas de utilização intensa, como vias de comunicação mais freqüente, a terminologia local, a que se acostumaram os ribeirinhos do Amazonas, como os do Cuiabá, designa a canoa ligeira, de madeira de um só tronco, pelo mesmo vocábulo - "montaria" - que entre os cavalarianos indica o animal em que cavalgam. Onde, porém, não pode ela transitar, ainda que de pequeno porte, nem se encontram equinos, a necessidade premente de transporte sugeriu outros expedientes.
Assim ocorreu na ilha de Marajó, depois que as opulentas fazendas pastoris sofreram a devastação da peste de cadeiras, que lhes dizimou, em 1826-1836, a "raça cavalar", consoante afirmativa de Ferreira Pena. Daí se propagou ao alto Amazonas e Peru, donde arqueou para Chiquitos, na Bolívia. Cruzando a fronteira, penetrou, já em 1851, pela fazenda nacional de Casalvasco, em Mato Grosso, de cujos pantanais se assenhoreou, para lhes aniquilar a criação indefesa. Como fossem imunes os bovinos à epizootia fatal, recorreram os campeiros à sua resistência, já comprovada na tração de carros pesados, e em cargueiros, mais ágeis nos terrenos brejosos. E amansados a propósito, substituíram os solípedes, que a "tripanossomíase" devastara.

A gravura exibe cena trivial em parte do pantanal mato-grossense e regiões vizinhas, a que se propagou o emprego do boi como animal de sela. Nenhuma alteração maior no arreio usual na região. Apenas se verifica a substituição do freio pela argola de correia, através do furo na cartilagem do septo nasal, em que se apóia a corda, à guisa de rédea, uma de cujas extremidades enlaça o boi pelos chifres, e volta às mãos do montador, que por esse meio dirige facilmente o animal, em cujo lombo se enforquilhou. Outros, em vez da sela, que exige mansidão, e passo adequado, recebem de preferência, a cangalha, que os transforma em cargueiros, como se fossem muares.
De qualquer modo, sejam destinados a substituir a cavalhada, que pereceu, ou as tropas insuficientes, os bois que se deixam domar para o transporte de cargas, ou passageiros, no seu dorso escorregadio, põem de manifesto a providência de que se valeu o homem para possuir a sua montada, onde não encontrasse equinos em número suficiente para o serviço de transporte. 

Fonte: Bois de Sela / Virgílio Correa Filho in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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