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O
médio
Amazonas é a principal área de cultura da juta e para lá tem
convergido populações, por vezes de regiões longínquas, ligadas outrora
ao extrativismo florestal.
Está bem nítida na paisagem, ainda em organização, a chegada recente do caboclo juteiro. Casas de palha de sopapo, muitas vezes verdadeiros ranchos improvisados, abrigam uma ou mais famílias. Aglutinados em torno do chefe de família, com alguns trapos a cobrir-lhes o corpo, cabeludo, de pés no chão, crianças barrigudas; chegam eles ávidos de melhores condições de vida. Logo ele passa a familiarizar-se com a nova atividade e o meio a que está ligado. As condições de plantio de juta o obrigam a um contato íntimo com o rio, já que o calendário agrícola daquele produto é em função do seu regime. Em novembro e dezembro, quando baixam as águas, inicia-se o plantio. Enquanto cresce a juta, o caboclo dedica-se a uma agricultura de subsistência, consistindo de mandioca, milho, abóbora, etc. A noitinha ele pesca. O peixe, abundante nos rios de águas brancas e regiões lacustres, constitui a fonte de proteínas de sua alimentação, de vez que a caça, nos dias atuais, já não lhe fornece o rendimento de outrora. Os demais produtos são adquiridos nas casas flutuantes e principalmente nos regatões. Quando o caboclo mora próximo dos flutuantes, é comum estabelecer-se um regime de trocas entre sua pequena produção e os gêneros de primeira necessidade, como querosene, sal, açúcar, etc. Decorridos seis meses, quando a roça já foi colhida e as águas começam a subir nos rios, invadindo os jutais, é chegada a época em que o juticultor lhes dedica todo o tempo de suas atividades. De facão em punho, descalço, e com o seu inconfundível chapéu de palha, de tez bastante queimada pelo sol, desce as barrancas do rio, em direção à várzea onde está o jutal, passando o dia no corte. Esta operação é bastante morosa, de vez que é feita de caule a caule, enfeixada em molhos, amarrados com a própria fibra da juta e em seguida carregados para dentro d'água. Aí permanecem os feixes de 15 a 20 dias para separar os fascículos fibrosos por fermentação. Ele trabalha 12 horas dentro d'água, retirando a juta, batendo-a, lavando-a e colocando-a em varais para secar. Tais tarefas exigem mão-de-obra abundante e eficiente que, muitas vezes, é complementada pela própria família do juticultor, ou pelo sistema do ajuri (correspondente ao "mutirão" do sul), ajuda mútua empregada pelos caboclos. Eles sujeitos a uma série de doenças, pelo fato da longa permanência dentro d'água. É um trabalho árduo, exigente, exaure ao máximo o juticultor, não lhe proporcionando grandes rendimentos. A medida que o tempo passa, ele próprio, cada vez mais desiludido e confuso, não sabe se valeu a pena ter-se deslocado de regiões distantes em busca de nova fortuna, baseada na juta. |
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