|
|||||||||||||||||
|
Nos
fins do século XIX, quando os Otí
estavam reduzidos a uns cinquenta, os criadores começaram a se dar
conta das consequências de seu extermínio. Assim reduzidos, esses
indígenas não puderam mais reter nas matas aos seus tradicionais
inimigos, os Kaingâng, que sem essa vigilância caíram sobre os
criadores, matando o gado e a eles próprios, em tais proporções
que grande parte da região teve de ser evacuada. Mas os Otí
continuavam sendo caçados, embora alguns deles tivessem conseguido
estabelecer relações pacíficas com certos moradores. |
|
||
Os Guaraní No extremo sudeste do Mato
Grosso
começa uma área de matas intercalada com campos e depois ganha mais
densidade. É a extensão mais ocidental da floresta Atlântica com
vários povos indígenas. Os Guarani tinham seu habitat nas matas que
margeiam os afluentes do rio Paraná, em território hoje
compreendido pelo sul do Mato Grosso, oeste de São Paulo, Paraná e
Rio Grande do Sul. |
Mulher Guarani, remanescente das
missões jesuíticas
de Jean Baptiste Debret, 1834 |
||
Nos primeiros anos do século XX os ervateiros dominavam toda a região, e começava a se tornar difícil para um grupo indígena manter-se à margem, conservando a vida tribal. Um após outro, os maiores grupos foram sendo engajados como assalariados temporários dos ervateiros acostumando-se a fazer deste trabalho a fonte de suprimentos de artigos antes desconhecidos e que haviam se tornado necessidades vitais para eles. A maioria daquelas tribos entrava em colapso pela impossibilidade de conciliar as exigências do trabalho assalariado individual com sua economia coletivista. Desde modo, os Guaraní escapos das missões, dos paulistas e dos colonos paraguaios caem novamente na penúria e no desespero a que tantas vezes já os tinha levado o contato com a civilização. No
início do século XX ainda
existiam, próximo a costa, entre alguns dos principais núcleos de
população do sul do país, extensas manchas de mata virgem. Era o
restava da floresta Atlântica que, ao tempo da descoberta, se
estendia ao longo da costa, numa faixa de duzentos a trezentos
quilômetros de largura desde o nordeste até o extremo sul do país. Os Botocudos Eram conhecidos dos
civilizados por
designações genéricas como Aimoré – gente que desde o século
XVI infundia terror por suas investidas contra os ocupantes da costa
– ou Botocudos, porque alguns grupos usavam
grandes botoques nos
lóbulos das orelhas e no ábio inferior, ou, ainda, Coroados por
rasparem a cabeleira em círculo, três dedos acima das orelhas,
formando uma espécie de coroa. Todos eram tidos como Tapuia –
palavra tupi que significa bárbaro, inimigo. Assim se juntaram sob
este termo as tribos mais diversas, linguística e etnologicamente. |
|
Botocudo armados -
autor desconhecido:
Viagem ao Brasil do príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied |
No começo do século XIX, ao
intensificar-se a penetração naquelas matas, os conflitos com os
Botocudos foram tão sangrentos que o governo reeditou, em 1808, leis
que, por seu barbarismo, haviam sido revogadas no século anterior,
autorizando a guerra contra eles e assegurando aos que os apresassem
o direito de tê-los como escravos. Ao mesmo tempo estabelecia um
sistema de fortificações ao longo do rio Doce para garantir a
navegação e combater os indígenas. Padres capuchinhos foram contratados e encaminhados para Minas, Espírito Santo e Bahia, onde a tropa subjugava grupos Botocudos, a fim de se encarregar de sua civilização. Duas dessas tentativas de catequese instalaram-se em terras concedidas oficialmente aos indígenas. Foram a de Mutum, criada para os indígenas de Etuet, pacificados por Guido Marlière, e a de São Sebastião do Ocidente, onde os missionários reuniam os remanescentes de outros bandos Botocudos. Com o abandono das missões pelos padres, os indígenas caíram sob o jugo de fazendeiros que lhes tomaram as terras, a título de compra. Em 1910 já nada restava delas, e os indígenas sobreviventes haviam sido expulsos da região. Entre missões, fugas, chacinas e doenças os Botocudos entraram no século XX. Escondidos nas matas entregues a imigrantes europeus para a colonização, como a colônia italiana de São Mateus, no Espírito Santo, e desesperados diante do cerco que em torno deles se fechava dia a dia, lançavam-se contra os invasores, conseguindo por vezes desalojá-los, por algum tempo, de terrenos já devassados. Da parte dos italianos, esses conflitos e protestos chegaram aos jornais de Roma e do Rio de Janeiro. Por parte dos Botocudos esbulhados de suas terras onde eram caçados como bichos, apenas o protesto de suas flechas. Nessas condições é que o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) foi encontrar, em 1910, os remanescentes indígenas de Minas Gerais e do Espírito Santo, reduzidos a pequenos grupos, obrigados a perambular continuamente pela mata, fugindo dos ataques civilizados. |
|
Os Maxakalí Os Maxakalí viviam,
originalmente,
entre os rios Jequitinhonha e São Mateus. Alguns grupos, desalojados
pelos Botocudos chegaram até a costa (Caravelas), outros avançaram
para o leste. Desde os primeiros contatos, os civilizados procuraram
utilizá-los na luta contra os Botocudos. Mas estes indígenas sempre
fugiram ao convívio com neobrasileiros, mantendo relativa
independência, até que o número de sertanejos instalados em sua
região cresceu de tal modo que não puderam mais fugir aos contatos. |
Maxalalí - Rugendas |
|
|
Embora visitados
muitas vezes por
padres em desobriga, os Maxakalí conservaram sua própria religião,
mesmo porque não lhes pediam mais que a simples e proveitosa tarefa
de se deixarem batizar, aceitarem um nome cristão para tratar com os
estranhos e ganhar, na ocasião, alguns presentes. (Teófilo Otoni,
1930).
|
|||
Kamakã
- autor desconhecido:
Viagem ao Brasil do príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied |
Os
Kamakãn (kamakã, Camacãs) No extremo norte
dessa faixa de matas,
entre o rio das Contas e o rio Pardo, em território baiano,
sobreviveram, até o século XX, duas tribos, em guerra uma com a
outra e hostilizados pelos civilizados: os Kamakãn e os Pataxó. Os
primeiros ocupavam a bacia do rio Pardo e desde o século anterior
vinham sofrendo ataques. A maior parte da tribo fora subjugada e
compelidos a recolher-se a missões sob administração religiosa ou
diretores civis, onde eram submetidos a toda sorte de explorações.
No século XX alguns bandos permaneciam independentes e hostis nas
matas entre o rio Cachoeira e o Grupunhy. |
||
Mas os chacinadores
acabaram
encontrando armas eficazes contra esses inimigos invisíveis,
recorrendo a velhas técnicas coloniais como o envenenamento das
aguadas, o abandono de roupas e utensílios de variolosos onde
pudessem ser tomados pelos indígenas e sobretudo, minando os
arredores das casas e plantações com armadilhas montadas com armas
de fogo.
|
|||
Os Kaingâng Uma
extensão da floresta Atlântica
avaçava pelas vertentes orientais da serra do mar, acompanhando o
curso dos rios que correm para o oeste, como o rio Grande, o Tietê,
o Paranapanema, o Ivaí e o Iguaçu. Eram as grandes matas do vale do
Paraná que cobriam grande parte do Estado de São Paulo, sul de
Minas Gerais e o norte do Paraná. A maior parte dela se conservaria
intocada até o século XIX, quando emergiu uma nova lavoura tropical
que as poria abaixo para dar lugar a plantações que se estenderiam
a perder de vista. Era a lavoura do café. |
|
Deixe seu comentário: | Deixe seu comentário: | |
Correio eletrônico | ||
Livro de visitas |