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Alguns tipos indígenas do Brasil Central

Os Akwên

A história dos Akwên repete a dos Timbíras. Ambas falam línguas da família Jê, vivem em regiões de campo e têm organizações complexas. Ocupavam originalmente a bacia do Tocantins, desde do sul de Goiás até o Maranhão, estendendo-se do rio São Francisco ao Araguaia. Enfrentaram criadores de gado, bandeiras e garimpeiros. Sua oposição aos civilizados foi tão tenaz que eles chegaram a ser responsabilizados pela decadência de Goiás.
Entraram em relações pacíficas com os brancos em 1785, quando um governador de Goiás acumulou de brindes e honrarias um grupo de indígenas aprisionados e os devolveu às suas aldeias com proposta de paz. Os Akwên, que se mantinham irredutíveis, acorreram à capital da província, surgindo ali um número de três mil e quinhentos para estabelecer-se junto aos cristãos.
Para acomodá-los foi organizado o aldeamento de Dom Pedro II ou Carretão, com casas arruadas, dotado de um engenho de açúcar e controlado por um estabelecimento militar vizinho. Ali conviveram intimamente com guarnições militares. Não devem ter apreciado a experiência, porque logo voltaram ao antigo território tribal. Anos depois, o aldeamento que dizem ter concentrado cinco mil indígenas estava praticamento deserto e os Akwên reiniciaram suas hostilidade. Um grupo que denotava maior aversão ao convívio com civilizados e que passou a ser conhecido como Xavantes começou a deslocar-se para a margem esquerda do Tocantins (1824), depois para o Araguaia (1859), acabando por se estabelecer nos campos do rio das Mortes.

Xavante
Xavante - Foto de Rosa Gauditano

Com o recrudescimento das lutas entre esses grupos Akwên e os civilizados, o governo tomou providências enérgicas para confinar no Carretão aqueles que ainda lá permaneciam. Nos anos seguintes, foram compelidos a se fixar ali grupos de indígenas Kayapó e Karajá vencidos em guerra. Esses indígenas não se davam uns com os outros e menos ainda com os sertanejos.
Segundo a tradição local, entre os métodos de extermínio utilizados em Goiás, houve também a contaminação propositada de bexiga e o envenenamento de aguadas com estricnina. Muito poucos indígenas sobreviveram no Carretão, onde perderam a língua e os costumes; não obstante permaneceram indígenas. Do esbulho dos indígenas do Carretão participou também um governador do Estado de Goiás, que, usando de sua autoridade, lhes tomou até mesmo a antiga sede do aldeamento. Os indígenas só puderam salvar as imagens da antiga capela que exibiam nas ruas como único documento de seus direitos postergados. A capela, agora fechada para eles, ainda está de pé, em meio aos campos de criação que se estendem a perder de vista, na fazenda do ex-governador.
Os Akwên, que voltaram a se fixar no seu antigo território, à margem do tocantins, passaram a ser conhecidos como Xerente. Estes grupos revelaram maior disposição para conviver com os civilizados. Por volta de 1870 foram procurados em suas aldeias por um capuchinho, frei Antônio de Ganges, com o propósito de catequizá-los. Aos poucos foi-se concentrando em torno da igreja e da casa do missionário uma população sertaneja que invadia, lentamente, com seus rebanhos os campos de caça dos indígenas, formando-se um arraial chamado Teresa Cristina, hoje Piabanhas. Quando os indígenas se deram conta do logro e procuram expulsar os invasores, já lhes restava muito pouco, e isto mesmo vieram perdendo desde então. (Padre Estevão Gallais, 1942).
A redução da população Xerente foi tão drástica quanto a dos Timbíra. Cunha Matos (1874) os avaliou em quatro mil, em 1824, quando já haviam sofrido grande redução. Em 1957 já estavam reduzidos a trezentos e cinquenta. Em contrapartida, os Xavantes, que se isolou dos civilizados voltando a vida antiga, cresceu em número e se fez respeitar e temer cada vez mais até constituir uma das tribos mais aguerridas do Brasil. Até 1946 sua hostilidade era a única garantia dos indígenas vizinhos, também seus inimigos, contra a expansão das fazendas de criação.

Os Kayapó Setentrional

Kayapó Setentrional é a designação de uma tribo de língua Jê dividida em grandes hordas que cobriam um extenso território entre os rios Araguaia e Tapajós, ao longo das fronteiras da floresta Amazônica com os campos do planalto Central. A extraordinária mobilidade e a mais ativa belicosidade fazem dos Kaiapó os indígenas mais temidos e mais odiados do Brasil. Somente os Xavantes chegaram a disputar-lhes essa legenda de ferocidade. Tribos distantes mais de mil quilômetros de suas aldeias, como os Tapirapé e os Karajá, viviam sobressaltados nas grandes estiagens de cada ano, temendo os ataques Kaiapó que costumavam ocorrer nessa ocasião. Nos anos seguintes, as relações com civilizados se restringiram mais ainda, em virtude do fracasso da companhia de navegação e do colapso em que entrou a economia da região.

Essa situação perdurou até 1897, quando um outro missionário, frei Gil de Vilanova, que já tentara aproximar-se da tribo homônima do sul, criou uma missão para os Kayapó do rio Pau D'Arco, abaixo da Vila Santa Maria, então já muito decadente.
Os Kaiapó estiveram entre dois fogos: de um lado as ondas de criadores de gado e os garimpeiros que avançavam pelos campos do Araguaia, e do lado oposto, as levas de seringueiros e castanheiros que ainda invadem seu território subindo pelo rio Xingu.
No último quartel do século XIX uma horda Kayapó que vivia no rio Pau D'Arco, afluente do Araguaia, entrou em relações pacíficas com a povoação de Santa Maria do Araguaia. Era uma vila de pequenos criadores de gado, nucleada em torno de uma igreja construída em 1860 por um capuchinho que, temendo os ataques dos Kayapó, edificou uma igreja-fortaleza, dotada de torreão e seteiras, que tanto servisse ao culto como de abrigo à população em caso de necessidade. Ao tempo da confraternização com aqueles indígenas, Santa Maria vivia seus melhores dias: era sede de uma guarnização militar e porto de escala de uma companhia oficial de navegação a vapor. Para os Kayapó, estes primeiros contatos não trouxeram grandes mudanças, apenas representaram uma oportunidade de obter pacificamente as ferramentas que antes tinham de conseguir pela guerra.
Kaiapó
Kayapó - Foto de Rosa Gauditano
Frei Gil com seus companheiros dominicanos repetiu junto aos Kayapó os mesmos processos utilizados por seus antecessores no Brasil central. Atraiu para junto deles a população sertaneja dispersas pelas barrancas do rio Araguaia e do Tocantins, onde estiolava corroída pelas doenças endêmicas, pelo alcoolismo e por conflitos intermináveis. Com esta gente constituiu o arraial que cinco anos depois de fundado contava cerca de duas mil pessoas. Com a ajuda destes sertanejos, os missionários edificaram a primeira igreja tosca, o casarão para o convento e o barracão da escola para as crianças Kayapó e sertanejas. Depois, cerca de quinhentos Kayapó foram trazidos de seus campos para junto da missão e localizados dois quilômetros adiante do arraial. Era a aldeia, onde o indígena adulto viveria sob a vigilância e o amparo dos missionários.
Assim nasceu Conceição do Araguaia, misto de missão de catequese e povoação sertaneja, representadas respectivamente pela aldeia e o arraial, ambas sob a autoridade temporal e espiritual dos dominicanos. O arraial cresceu e hoje é a cidade Conceição do Araguaia. Dos mil e quinhentos kayapó do fim do século XIX resta, talvez, uma dezena. São peões na fazendas dos dominicanos que, em meados do século XX, ocupam os campos onde caçavam seus antepassados, intérpretes das turmas dedicadas à atração de bandos kayapó, que permanecem ainda hostis, e empregadas domésticas em Belém e no Rio de Janeiro.

Os Kayapó Meridonais

Os Kayapó Meridionais tiveram também seus entusiasmo pelos cristãos, experientaram conviver pacificamente com eles e chegaram até a concentrar-se em grandes grupos nos estabelecimentos militares criados para civilizá-los. Como outras tribos Jê, porém, acabaram fugindo para seus campos, onde retornaram aos costumes tribais e reiniciaram as hostilidades contra o invasor.
Quando a decadência das explorações auríferas permitiu aos Kayapó restabelecer suas forças, surgiu uma nova invasão: a dos criadores de gado que penetravam na Caiapônia, vindos de Minas e de São Paulo. Era a mesma onda que tivera início, séculos antes, junto à costa, no nordeste e que viera avançando ao longo do rio São Francisco, para alcançar, já no fim do século XIX, o território dos Kayapó do Sul. Os bandeirantes, feita a razia (saque, invasão de território), arrebanhavam os prisioneiros, os acorrentavam em magotes e regressavam. Os garimpeiros nunca se fixavam num lugar e pouco se afastavam da barranca dos rios; depois de esgravatá-los arduamente, iam adiante. Os criadores vinham para apoderar-se da terra e nela se fixarem definitivamente. Contra eles nada puderam os Kayapó: gente e gado surgiram em todas as direções, alcançando-os aonde quer que se refugiassem.
O século XX encontra os Kayapó Meridionais empenhados nesta luta de sobrevivência como povo. Desiludidos de conviver pacificamente com os brancos, pelas trágicas experiências recordadas por toda a tradição tribal, só lhes restava lutar.
Nunca encontraram quem lealmente se dispusesse a propor-lhes a paz, assegurando a oportunidade de viverem independentes.
Hoje toda a Caiapônia é deserta de indígenas e só recorda seus antigos habitantes no nome dos acidentes geográficos: “serra dos Caiapós”, “rios Caiapó-Grande e Caiapozinho”. Os kayapó Meridionais desapareceram sem deixar vstígios, além destes nomes.

Os Gorotíre

Outros grupos Kayapó Sententrionais continuaram hostis. Os Gorotíre procuram estabelecer relações pacíficas tanto com a gente dos campos, quanto com os seringueiros que penetraram seu território, subindo o Xingu. Mas sempre foram recebidos à bala ou com tentivas de escravização. Acabaram localizando-se na orla da floresta para estarem ao abrigo dos ataques, que tanto vinham dos criadores como dos coletores de drogas da mata. E dali partem, nos meses de estiagem, os temidos grupos que atacam sertanejos e indígenas do Xingu e Araguaia.


Nenhuma tribo em nosso tempo chegou a polarizar tanto ódio dos sertanejos como estes Gorotíre, e, na cidade fundada por frei Gil para catequizá-los, se acoita o maior número de chacinadores de indígenas Kayapó.
Caipônia é todo o território hoje compreendido pelo sul de Goiás, sudeste de Mato Grosso, Triângulo Mineiro e noroeste de São Paulo.

Górotire
Grupo Górotire, inimigo dos Kayapó, em 1937
Ali viveram e ali morreram os Kayapó Meridionais, tribo da mesma família Jê e de cultura aparentada, mas diversa da sua homônima do norte, os kayapó Setentrionais. Primeiro enfrentaram os bandeirantes paulistas que desbravavam seu território na prea de escravos e na busca de minas de ouro e diamantes. Como escravos, esses indígenas nunca foram muito apreciados. Eram tidos como gente rude, que não prestava ao trabalho agrícola.
Para os bandeirantes, os Kayapó representavam um obstáculo que devia ser eliminado; primeiro, para limpar o caminho que conduzia a tribos de “gente de mais qualidade”, depois, para desimpedir a rota que levava às minas de Goiás e, finalmente, para explorar o rico território aurífero e diamantífero por eles ocupado.

Os Guaikurú (Kadiwéu)
Já antes dos primeiros contatos com os brancos, os grupos Guaikurú manifestavam tendência para o domínio de outras tribos de caçadores e coletores e sobre os lavradores Guaná. Estas tendências iriam crescer nos séculos seguintes, graças à adoção do cavalo e seu uso na caça e na guerra. Introduzido pelos espanhóis na primeira metade do século XVI, o cavalo multiplicara-se nos campos do baixo Paraguai. Os Guaikurú aprenderam a servir-se deles como montaria para cobrir maiores distâncias, ampliando seu território de caça e coleta. Assim, os Mbayá-Guaikurú estenderam suas correrias a uma área ampla como a que vai de perto de Cuiabá, em Mato Grosso, às proximidades de Assunção, no Paraguai, e das aldeias Chiriguano nas encostas andinas, no Chaco, até as tribos Guaraní, das matas que margeam o Paraná. Em toda esta região atacavam e saqueavam não somente grupos indígenas mas também povoados espanhóis e portugueses, fazendo cativos em todos eles. Constituiam o principal obstáculo ao colonizadores no centro da América do Sul. Expedições militares, bem aparelhadas, armadas por portugueses e espanhóis jamais tiveram êxito completo contra esses indígenas cavaleiros.
Guaikuru
Ataque da cavalaria Guaikuru - Litografia de Jean Baptiste Debret. início do século XIX
Foi tentada também a catequese pelos jesuítas espanhóis, que depois de várias tentativas conseguiram estabelecer entre eles uma missão, que duraria até sua expulsão, sem contudo ser capaz de dominá-los totalmente.
Com a descoberta do ouro em Mato Grosso e o afluxo de paulistas, abriu-se nova frente de lutas para os Mbayá. Só em fins do século XVIII se chegou a um acordo, celebrado num tratado solene pelo qual os Mbayá-Guaikurú reconheciam a suserania dos reis portugueses, mas tinham assegurado a posse de um extenso território e a aliança portuguesa para suas guerras.
No curso da Guerra do Paraguai lutaram ao lado das tropas brasileiras, mas sempre independentes, como uma força à parte, movida por motivações próprias e exercendo a guerra a seu modo. Até a metade do século XIX ainda eram suficientemente fortes para impor respeito.
Aos pouco foi diminuindo seu poder guerreiro, com a perda dos antigos vassalos e a diminuição crescente de sua população, em virtude das doenças transmitidas pelos civilizados e do estancamento de suas principais fontes de crescimento: a prea de crianças e o aliciamento de adultos de outras tribos. No comércio com os brasileiros, principalmente de aguardente, perderam a maior parte de seus rebanhos, ficando reduzidos à miséria. Assim, com os anos de convivência pacífica, passaram de aliados senhoriais a simples indígenas dominados, de nogociantes de cavalos a meros peões de fazendas.
O século XX os encontraria reduzidos a meio milhar de indígenas dominados pelo alcoolismo, divididos em grupos espalhados pelas fazendas de criação que aos poucos invadiam seu território. Somente uma divisão da tribo, os Kadiwéu, que permaneceu unida, entre o Paraguai e a serra da Bodoquena, conservava relativa independência. Mas suas terras também começavam a ser invadidas por criadores de gado.
Um português estabeleceu-se entre os Kadiwéu e, montando um alambique para fabricação de aguardente, obteve consentimento para fundar uma fazenda de criação. A princípio manteve boas relações com os indígenas; em troca de serviço, fornecia-lhes aguardente, sal, panos, munição e ferramentas. Mas à medida que apertavam as exigências do fazendeiro, começaram a estourar conflitos; por fim, a tribo dividiu-se em grupos, um hostil ao invasor, outro favorável, formado pelos indígenas já demasiadamente viciados para se livrarem dos fornecedores de cachaça.
Seguiram-se choques armados em que os indígenas levaram vantagem e o fazendeiro teve de apelar para tropas oficiais. Conseguiu soldados para atacar e incendiar os acampamentos Kadiwéu que dizia estarem dentro de suas terras. O governo interveio, fazendo demarcar terras para os Kadiwéu, estabelecendo fronteiras nítidas que eles, desde de então, vem procurando defender contra a crescente pressão dos criadores de gado.
(Outros povos do Brasil Central e do Xingu serão tratados em Brasil Indígena)

Fontes : Os ìndios e a Civilização / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Círculo do Livro, s. data
Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo : FTD, 2000
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 21, 1986


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