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Com
o recrudescimento
das lutas entre esses grupos Akwên e os civilizados, o governo tomou
providências enérgicas para confinar no Carretão aqueles que ainda
lá permaneciam. Nos
anos
seguintes, foram compelidos a se fixar ali
grupos de indígenas Kayapó e Karajá vencidos em guerra. Esses
indígenas não se davam uns com os outros e menos ainda com os
sertanejos. Os Kayapó Setentrional Kayapó Setentrional é a designação de uma tribo de língua Jê dividida em grandes hordas que cobriam um extenso território entre os rios Araguaia e Tapajós, ao longo das fronteiras da floresta Amazônica com os campos do planalto Central. A extraordinária mobilidade e a mais ativa belicosidade fazem dos Kaiapó os indígenas mais temidos e mais odiados do Brasil. Somente os Xavantes chegaram a disputar-lhes essa legenda de ferocidade. Tribos distantes mais de mil quilômetros de suas aldeias, como os Tapirapé e os Karajá, viviam sobressaltados nas grandes estiagens de cada ano, temendo os ataques Kaiapó que costumavam ocorrer nessa ocasião. Nos anos seguintes, as relações com civilizados se restringiram mais ainda, em virtude do fracasso da companhia de navegação e do colapso em que entrou a economia da região. |
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Essa situação
perdurou até 1897, quando um
outro missionário, frei Gil de Vilanova, que já tentara
aproximar-se da tribo homônima do sul, criou uma missão para os
Kayapó do rio Pau D'Arco, abaixo da Vila Santa Maria, então já
muito decadente.
Os Kaiapó estiveram entre dois fogos: de um lado as ondas de criadores de gado e os garimpeiros que avançavam pelos campos do Araguaia, e do lado oposto, as levas de seringueiros e castanheiros que ainda invadem seu território subindo pelo rio Xingu. No último quartel do século XIX uma horda Kayapó que vivia no rio Pau D'Arco, afluente do Araguaia, entrou em relações pacíficas com a povoação de Santa Maria do Araguaia. Era uma vila de pequenos criadores de gado, nucleada em torno de uma igreja construída em 1860 por um capuchinho que, temendo os ataques dos Kayapó, edificou uma igreja-fortaleza, dotada de torreão e seteiras, que tanto servisse ao culto como de abrigo à população em caso de necessidade. Ao tempo da confraternização com aqueles indígenas, Santa Maria vivia seus melhores dias: era sede de uma guarnização militar e porto de escala de uma companhia oficial de navegação a vapor. Para os Kayapó, estes primeiros contatos não trouxeram grandes mudanças, apenas representaram uma oportunidade de obter pacificamente as ferramentas que antes tinham de conseguir pela guerra. |
Kayapó
- Foto de
Rosa Gauditano
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Frei Gil com seus
companheiros dominicanos repetiu junto aos Kayapó os mesmos
processos utilizados por seus antecessores no Brasil central. Atraiu
para junto deles a população sertaneja dispersas pelas barrancas do
rio Araguaia e do Tocantins, onde estiolava corroída pelas doenças
endêmicas, pelo alcoolismo e por conflitos intermináveis. Com esta
gente constituiu o arraial que cinco anos depois de
fundado
contava cerca de duas mil pessoas. Com a ajuda destes sertanejos, os
missionários edificaram a primeira igreja tosca, o casarão para o
convento e o barracão da escola para as crianças Kayapó e
sertanejas. Depois, cerca de quinhentos Kayapó foram trazidos de
seus campos para junto da missão e localizados dois quilômetros
adiante do arraial. Era a aldeia, onde o indígena
adulto
viveria sob a vigilância e o amparo dos missionários.
Assim nasceu Conceição do Araguaia, misto de missão de catequese e povoação sertaneja, representadas respectivamente pela aldeia e o arraial, ambas sob a autoridade temporal e espiritual dos dominicanos. O arraial cresceu e hoje é a cidade Conceição do Araguaia. Dos mil e quinhentos kayapó do fim do século XIX resta, talvez, uma dezena. São peões na fazendas dos dominicanos que, em meados do século XX, ocupam os campos onde caçavam seus antepassados, intérpretes das turmas dedicadas à atração de bandos kayapó, que permanecem ainda hostis, e empregadas domésticas em Belém e no Rio de Janeiro. Os Kayapó Meridonais Os
Kayapó Meridionais tiveram
também
seus entusiasmo pelos cristãos, experientaram conviver pacificamente
com eles e chegaram até a concentrar-se em grandes grupos nos
estabelecimentos militares criados para civilizá-los. Como outras
tribos Jê, porém, acabaram fugindo para seus campos, onde
retornaram aos costumes tribais e reiniciaram as hostilidades contra
o invasor. Os Gorotíre |
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Outros grupos Kayapó Sententrionais continuaram hostis. Os Gorotíre procuram estabelecer relações pacíficas tanto com a gente dos campos, quanto com os seringueiros que penetraram seu território, subindo o Xingu. Mas sempre foram recebidos à bala ou com tentivas de escravização. Acabaram localizando-se na orla da floresta para estarem ao abrigo dos ataques, que tanto vinham dos criadores como dos coletores de drogas da mata. E dali partem, nos meses de estiagem, os temidos grupos que atacam sertanejos e indígenas do Xingu e Araguaia.
Nenhuma tribo em nosso tempo
chegou a
polarizar tanto ódio dos sertanejos como estes Gorotíre, e, na
cidade fundada por frei Gil para catequizá-los, se acoita o maior
número de chacinadores de indígenas Kayapó. |
Grupo
Górotire,
inimigo dos Kayapó, em 1937
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Ali viveram e ali morreram os
Kayapó Meridionais, tribo da mesma família Jê e de cultura
aparentada, mas diversa da sua homônima do norte, os kayapó
Setentrionais. Primeiro enfrentaram os bandeirantes paulistas que
desbravavam seu território na prea de escravos e na busca de minas
de ouro e diamantes. Como escravos, esses indígenas nunca foram
muito apreciados. Eram tidos como gente rude, que não prestava ao
trabalho agrícola.
Para os bandeirantes, os Kayapó representavam um obstáculo que devia ser eliminado; primeiro, para limpar o caminho que conduzia a tribos de “gente de mais qualidade”, depois, para desimpedir a rota que levava às minas de Goiás e, finalmente, para explorar o rico território aurífero e diamantífero por eles ocupado. Os Guaikurú (Kadiwéu)
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Já
antes dos primeiros contatos com os
brancos, os grupos Guaikurú manifestavam tendência para o domínio
de outras tribos de caçadores e coletores e sobre os lavradores
Guaná. Estas tendências iriam crescer nos séculos seguintes,
graças à adoção do cavalo e seu uso na caça e na guerra.
Introduzido pelos espanhóis na primeira metade do século XVI, o
cavalo multiplicara-se nos campos do baixo Paraguai. Os Guaikurú
aprenderam a servir-se deles como montaria para cobrir maiores
distâncias, ampliando seu território de caça e coleta. Assim, os
Mbayá-Guaikurú estenderam suas correrias a uma área ampla como a
que vai de perto de Cuiabá, em Mato Grosso, às proximidades de
Assunção, no Paraguai, e das aldeias Chiriguano nas encostas
andinas, no Chaco, até as tribos Guaraní, das matas que margeam o
Paraná. Em toda esta região atacavam e saqueavam não somente
grupos indígenas mas também povoados espanhóis e portugueses,
fazendo cativos em todos eles. Constituiam o principal obstáculo ao
colonizadores no centro da América do Sul. Expedições militares,
bem aparelhadas, armadas por portugueses e espanhóis jamais tiveram
êxito completo contra esses indígenas cavaleiros.
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Ataque da cavalaria Guaikuru -
Litografia de Jean Baptiste Debret. início do século XIX
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Foi tentada também a catequese
pelos
jesuítas espanhóis, que depois de várias tentativas conseguiram
estabelecer entre eles uma missão, que duraria até sua expulsão,
sem contudo ser capaz de dominá-los totalmente.
Com a descoberta do ouro em Mato Grosso e o afluxo de paulistas, abriu-se nova frente de lutas para os Mbayá. Só em fins do século XVIII se chegou a um acordo, celebrado num tratado solene pelo qual os Mbayá-Guaikurú reconheciam a suserania dos reis portugueses, mas tinham assegurado a posse de um extenso território e a aliança portuguesa para suas guerras. No curso da Guerra do Paraguai lutaram ao lado das tropas brasileiras, mas sempre independentes, como uma força à parte, movida por motivações próprias e exercendo a guerra a seu modo. Até a metade do século XIX ainda eram suficientemente fortes para impor respeito. Aos pouco foi diminuindo seu poder guerreiro, com a perda dos antigos vassalos e a diminuição crescente de sua população, em virtude das doenças transmitidas pelos civilizados e do estancamento de suas principais fontes de crescimento: a prea de crianças e o aliciamento de adultos de outras tribos. No comércio com os brasileiros, principalmente de aguardente, perderam a maior parte de seus rebanhos, ficando reduzidos à miséria. Assim, com os anos de convivência pacífica, passaram de aliados senhoriais a simples indígenas dominados, de nogociantes de cavalos a meros peões de fazendas. O século XX os encontraria reduzidos a meio milhar de indígenas dominados pelo alcoolismo, divididos em grupos espalhados pelas fazendas de criação que aos poucos invadiam seu território. Somente uma divisão da tribo, os Kadiwéu, que permaneceu unida, entre o Paraguai e a serra da Bodoquena, conservava relativa independência. Mas suas terras também começavam a ser invadidas por criadores de gado. Um português estabeleceu-se entre os Kadiwéu e, montando um alambique para fabricação de aguardente, obteve consentimento para fundar uma fazenda de criação. A princípio manteve boas relações com os indígenas; em troca de serviço, fornecia-lhes aguardente, sal, panos, munição e ferramentas. Mas à medida que apertavam as exigências do fazendeiro, começaram a estourar conflitos; por fim, a tribo dividiu-se em grupos, um hostil ao invasor, outro favorável, formado pelos indígenas já demasiadamente viciados para se livrarem dos fornecedores de cachaça. Seguiram-se choques armados em que os indígenas levaram vantagem e o fazendeiro teve de apelar para tropas oficiais. Conseguiu soldados para atacar e incendiar os acampamentos Kadiwéu que dizia estarem dentro de suas terras. O governo interveio, fazendo demarcar terras para os Kadiwéu, estabelecendo fronteiras nítidas que eles, desde de então, vem procurando defender contra a crescente pressão dos criadores de gado. |
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