Aboio:
Canto sem palavras, marcado exclusivamente em vogais,
entoado pelos
vaqueiros quando conduzem o gado. Dentro desses limites tradicionais, o
aboio é de livre improvisação, e são apontados
os que se salientam como bons no aboio. O canto
finaliza sempre
por uma frase de incitamento à boiada: ei
boi, boi surubim, ei lá.
O canto dos vaqueiros, apaziguando o rebanho, levado para as pastagens
ou para o curral, é de efeito maravilhoso, mas sabidamente popular
em todas as regiões de pastorícia do mundo.
José de Alencar evocava-o: “O aboiar dos nossos vaqueiros, ária
tocante e maviosa com que eles, ao pôr-do-sol, tangem o gado para
o curral, são os nossos ranz sertanejos... Quem
tirasse por
solfa esses improvisos musicais, soltos à brisa vespertina, houvera
composto o mais sublime dos hinos à saudade”.
No sertão do Brasil o aboio é sempre solo, canto individual,
entoado livremente. Jamais cantam versos, tangendo o gado. O aboio não
é divertimento. É coisa séria, velhíssima,
respeitada. Abóia-se no mato, para orientar a quem procura. Abóia-se
sentado no mourão da porteira, vendo o gado entrar. Abóia-se
guiando o boiadão nas estradas, tarde ou manhã.
Serve para o gado solto do campo e também para o gado curraleiro.
Aboio cantado, aboio em versos:
J. de Figueiredo Filho (O Folclore no cariri,
Fortaleza, 1962)
dedica o cap. V ao aboio em versos, poemas de assunto pastoril, mesmo
improvisados.
Serão de relativa modernidade porque o aboio nordestino, secular,
típico, legítimo, não tinha letra, constando unicamente
de uma monodia, apoiada numa vogal, espécie de jubilatione
do canto gregoriano, destinada a tanger o gado.
Essa modalidade, de origem moura, berbere, da África setentrional
veio para o Brasil, possivelmente, da ilha da Madeira, dos escravos
mouros
aí existentes.
Em Portugal existe esse aboio cantado, versos
descritivos, líricos
ou satíricos.
Registrou Gonçalo Sampaio (Cancioneiro Minhoto,
XXII,
Porto, 1940): “Nas vessadas de maior importância, quer dizer nas
lavradas dos campos mais extensos, é de antiqüíssimo
costume minhoto incitar o gado cantando. Chama-se a isto aboiar... Por
via de regra não tem letra que vá além das exclamações
ei,
boi! ei lá, boizinho! Todavia numa ou
noutra localidade
adaptam-lhe excepcionalmente dísticos, em que se pedem cigarros,
vinho ou petiscos para o homem do arado”.
Serenga:
Canto que os remeiros “Irmãos da Canoa”, por ocasião
da festa do Divino Espírito Santo (Tietê, São Paulo),
fazem quando remam para o “Encontro” festivo das duas
bandeiras e
irmãos do rio abaixo e do rio acima.
O canto é sem palavras e dá-nos a impressão melódica
do cantochão. Possivelmente o canto ajude a ritmar as remadas. Estas,
em cada barco, são também ritmadas pelo bater de pé
do proeiro, mas a Serenga não deixa de ter uma função
facilitadora e sincrônica do esforço despendido no remar.
(Alceu Maynard Araújo, informação especial, 9-XI-1951,
São Paulo).
Canto das Plantações de Arroz