Mito Nacional
O Saci-Pererê
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Mula-Sem-Cabeça |
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É a
forma que toma a concubina do sacerdote.
Na noite de
quinta para a sexta-feira, transformar-se-a
num forte animal, de identificação controvertida na tradição
oral,
e galopa, assombrando quem encontra. Lança chispas de fogo pelas
narinas e pela boca. Suas patas são como calçadas de ferro.
A violência do galope e a estridência do relincho são
ouvidas longamente. Vezes soluça como uma criatura humana. O encanto
desaparecerá, quando alguém tiver a coragem de arrancar-lhe
da cabeça o freio de ferro que leva. Dizem-na sem cabeça,
mas os relinchos são inevitáveis.
Quando o
freio for retirado, reaparecerá
despida, chorando arrependida, e não retomará a forma encantada,
enquanto o descobridor residir na mesma freguesia.
A tradição
comum é que
este castigo acompanha a manceba do padre, durante o trato amoroso ou
punição
depois de morta.
A mula corre
sete freguesias em cada noite,
e o processo para seu encantamento é idêntico ao do lobisomem,
assim como, em certos Estados do brasil, para quebrar-lhe o
encanto
bastará fazer-lhe sangue, mesmo que seja com a ponta de um alfinete.
Para evitar o bruxedo, deverá o amásio amaldiçoar
a companheira, sete vezes, antes de celebrar a missa. Manuel Ambrósio
cita o número de vezes indispensável, muitíssimo maior
(Brasil Interior, 53). Chamam-na também
“Burrinha-de-Padre”
ou simplesmente “Burrinha”. A frase comum é anda correndo uma
burrinha. E todos os sertanejos sabem do que se trata.
No México a
dizem Malora, e
se espalha pelo continente até a Argentina, sob os nomes de Mula
Anima, Alma Mula, Mula sin Cabeza, Mujer Mula, Mala Mula, etc. E sempre
com o elemento moral: “... todas estas versiones coinciden en un punto:
hablan de una mujer casada, que desde hace más de diez años,
mantiene realciones amorosas ilícitas, con a cura, la que en castigo
de su falta, a determinadas horas de la noche, se convierte en Mula
Anima”.
(Rafael Cano, Del Tiempo de Ñaupa, 145, Buenos
Aires, 1930).
Num dos mais populares livros
de exemplos
na Idade Média, o
Scala
Celi, de
Johannes Gobi Junior, há
o episódio em que a hóstia desaparece das mãos do
celebrante, porque a concubina assiste à missa (Studies in the
Scala Celi,
de Minnie Luella Carter, dissertação para
o doutorado de Filosofia na Universidade de Chicago, 1928).
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Gustavo
Barroso supõe que a origem
do mito provenha do uso privativo das mulas como animais de condução
dos prelados, com registros no documentário do séc. XII:
...mulam
corporis mei... meo soprino, meam mulam, in qua ego ambulo (Sertão
e o Mundo, 186). A mula era o animal das viagens regulares,
ficando
o cavalo encaparado para as batalhas. Alexandre Herculano faz a Rainha
Leonor Teles dizer ao rei: “O teu donzel d’armas, Rei Fernando, segue
com
os outros pajens caminho de Santarém, montado no teu cavalo de batalha.
Aqui só tens a mula do teu corpo para seguires jornada”. (Arrhas
por Foro D’Espanha, 96, Geografia dos Mitos Brasileiros).
Ver Cavalo-Sem-Cabeça,
Região Centro-Oeste.
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