|
|||||||||||||||||
Mito Nacional O Saci-Pererê Mitos Gerais Mitos Regiões
|
|
O Caipora pequeno e popular é
o velho
Curupira, sem a influência platina que Couto de Magalhães aceitou, e
possivelmente
representa o Caapora inicial, o selvagem apenas, agigantado pelo medo
que
espalhava no mistério da floresta. O próprio Couto de Magalhães,
querendo escrever em nheengatu gigante morador do mato,
grafou Caapora-assu.
Se o Caapora fosse um gigante, dispensaria o sufixo açu,
aumentativo.
Por todo o nordeste do Brasil duas imagens verbais pintam o duende: fumar como o Caipora e assobiar como o Caipora. Dizem, nessa região, comumente o Caipora fazendo-o sempre uma indiazinha, amiga do contato humano, mas ciumenta e feroz quando traída. Quem a encontra fica infeliz nos negócios e tudo quanto empreender. Do Maranhão para o sul o Caipora é o tapuia escuro e rápido. No Ceará, além do tipo comum, aparece com a cabeleira hirta, olhos de brasa, cavalgando o porco, caititu, e agitando um galho de japecanga (Smilax). Engana os caçadores que não lhe trazem fumo e cachaça, surra impiedosamente os cachorros. Em Pernambuco (Barbosa Rodrigues) apresenta-se com um pé só, e este mesmo redondo, como o pé-de-garrafa, e o segue o cachorro Papa-Mel. Na Bahia é uma cabocla quase negra ou um negro velho, e também um negrinho em que só se vê uma banda (Silva Campos), lembrando os Ma-Tébélés africanos (Blaise Cendrars) ou os Nisnas clássicos, evocados por Gustave Flaubert na Tentação de Santo Antão. Em Sergipe, quando não o satisfazem, mata o viajante a cócegas. No Extremo Sul reaparece o homem agigantado. No Rio Grande do Sul (J. Simões Lopes Neto, Lendas do Sul, 89, Pelotas, 1913). No Paraná é também um gigante peludo. Em Minas Gerais e Bahia, ao longo do rio São Francisco, é um “caboclinho encantado, habitando as selvas”, com o rosto redondo, um olho no meio na testa (Manuel Ambrósio). Por onde emigra, o nordestino vai semeando suas figuras e crenças. O Caipora, ou a Caipora, popularizadíssimo em sertão, agreste e praia, vai alargando a área geográfica do domínio. |
|
||
No Chile há o Anchimallén,
anão guia e protetor dos animais, ligando-se aos mitos ígneos,
porque se pode transformar em fogo-fátuo. O Anchimallén
entra em acordo com caçadores, mas exige sangue humano nos contratos.
Dá igualmente infelicidade e anuncia a morte. Há várias
semelhanças com o Yastay argentino, guiando as
manadas de
guanacos e vicunhas, defendendo-as da dizimação ou deixando-as
matar se o caçador lhe oferece coca e farinha de chaclión
(farinha de milho). O mesmo sucede nas regiões da erva-mate com
a Coamanha, mãe-da-erva, apaixonando-se, auxiliando, enriquecendo
o namorado, mas perseguindo e vingando bestialmente seu amor abandonado.
O Caipora, com o contato do focinho do porco, da vara de ferrão, do galho de japecanga ou da ordem verbal imperativa, ressuscita os animais mortos sem sua permissão, apavorando os caçadores. Não conheço nem creio que exista ligação do mito do Caipora com o Batatão, o Boitatá ígneo. Bibliografia: Couto de Magalhães, O Selvagem, 137; Gonçalves Dias, Brasil e Oceânia, 105; Beaurepaire Rohan, Dicionário de Vocábulos Brasileiros; Barbosa Rodrigues, Poranduba Amazonense, no estudo do “Kurupira”; Manuel Ambrósio, Brasil Interior, 71; Cornélio Pires, Conversas ao Pé do Fogo, 154; Luís da Câmara Cascudo, Geografia dos Mitos Brasileiros, com registro de depoimento de caçadores contemporâneos. Donald Pierson, Brancos e Pretos na Bahia, 324-325, São Paulo, 1945, encontrou a versão que “o caipora pode ser afastado mastigando-se alho”, e registra um episódio que é variante do Mapinguari, em Silva Campos, LXXVI: “O Caipora existe mesmo. Assim como um soco no braço da gente deixa sinal vermelho, o Caipora também deixa sinais. Conheço um imigrante português, homem honrado e digno de fé, que foi avisado para não caçar às sextas-feiras. Ele riu-se do aviso e foi ao mato procurar jacus: achou um e atirou. O jacu voou para ele com as garras estendidas e arranhou-o cruelmente. Ele atirou outra vez. O jacu voltou e arrancou-lhe os olhos. Então ele ouviu uma voz dizer: “Você sabe que não deve caçar nas sextas-feiras”. Era o Caipora. O homem voltou cambaleando para casa e caiu sem sentidos na porta. Conheci bem esse homem”. Essa interdição da caça nas sextas-feiras, como na estória do Mapinguari do rio Purus, referente aos domingos, identifica a influência católica da catequese. Ver Curupira, Região Norte e Ossonhe, Região Nordeste. |
|
Deixe seu comentário: | Deixe seu comentário: | |
Correio eletrônico | ||
Livro de visitas |