Santo Antônio casamenteiro
Seria
difícil averiguar o motivo
porque o povo brasileiro, assim como o português, inclui nas
virtudes do Santo que se festeja a 13 de junho, a de milagroso
casamenteiro. Haverá alguém quem diga que descobrir um
noivo arisco é atribuição do advogado das cousas
perdidas. E Santo Antônio é, também, como se sabe
o advogado das coisas inincontráveis.
Em Minas Gerais, corre de boca em boca
uma lenda que, certamente, tem contribuído muito para que se
alastre entre os montanheses a crença nos méritos do
Santo de Lisboa, ou de Pádua, como provincial casamenteiro.
Conta-se que uma jovem muito linda, mas
cansada de esperar por um noivo que não chegava, já
desesperançosa de encontrar marido, se apegou com Santo
Antônio. Foi ao santeiro da cidade, adquiriu uma imagem daquele
pio varão que no século chamou-se Fernando de Bulhão,
fê-la benzer, colocou-a no oratório e ali lhe levava,
todos os dias, o seu fervoroso responso, as flores que colhia no
jardim e o vintenzinho de promessa.
Mas, passaram-se semanas, meses,
anos... e nada.
O noivo não aparecia, nem se
falava na redondeza que algum mancebo ou mesmo, à falta de
outro, algum velhote ricaço se tivesse por ela inclinado.
Certa vez, depois de consultar o espelho e ter descoberto prenúncios
de pés de galinha, se pôs a lamentar da ingratidão
do Santo, chegando mesmo a ser repreendida pela progenitora. E,
desapontada pelo poder miraculoso do taumaturgo, toma a imagem e, no
auge do desespero, atira-a pela janela a fora.
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Passava
na rua, naquele momento, um
jovem cavaleiro que a recebe, em cheio, sobre a cabeça.
Apanha-a, intacta, e sobe a escada do sobrado, de uma de cujas
janelas partira a imagem. Vem recebê-lo, por notável
coincidência, a formosa e geniosa donzela. Apaixona-se por ela
o cavaleiro e, tempos após, acabam casando, naturalmente por
milagre do Santo.
Depois
dessa estória, o santeiro
da cidade não mais teve mãos a medir...
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