Uma
escura manhã, quando já
não faltava muito para o inverno, a terra despertou e viu-se
recoberta por uma geada branca, como a neve. Sob esse manto prateado,
tudo parecia imóvel e sem vida; mas bem no fundo, no meio da
entrelaçada erva rasteira, uma colônia de formigas
estava muito ocupada. Indo e vindo pelas sinuosas avenidas de seu
reino minúsculo, elas traziam os seus grãos de milho
para arejá-los em montinhos e com isso conservá-los
para o sustento durante os dias frios e cruéis que estavam por
vir.
Enquanto as formigas trabalhavam, uma
cigarra, que por acaso sobrevivera ao verão e que agora estava
quase morta de frio e fome, aproximou-se delas. Tiritando, e com
grande humildade, implorou por um pouco de milho para salvar a vida.
As formigas continuaram com suas
tarefas, mas uma delas, mais abrupta do que as companheiras, virou-se
para a cigarra:
- O que foi que você fez durante o
verão? Perguntou, em tom nada amistoso.
A cigarra tiritou ainda mais. Se
tivesse um casaco, tê-lo-ia apertado à volta do corpo.
- Ah, minha senhora – sussurrou, ainda
mais humildemente -, passei um verão muito alegre e agradável,
cantando e dançando! Não me achava preguiçosa,
mas nem por um instante pensei no inverno.
A voz da cigarra sumiu num queixume,
enquanto as pernas longas e congeladas do bichinho cediam um pouco
mais.
- Se é assim – retrucou a
formiga, rindo e arrumando o celeiro -, tudo o que posso dizer é
isto: já que cantou o verão inteiro, agora cante o
inverno inteiro também!
(versão
atribuída a
Esopo, outra é atribuída a La Fontaine)
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Quem cedo madruga, Deus ajuda!
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