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À hora determinada,
foi iniciado
o conclave, cabendo por sorte, ao canário, começar a
luta.
Dito e feito: pulando para um galho mais alto, seu corpinho amarelo vibrou de entusiasmo. Saudou, primeiro, com trinados fortes, o raiar da aurora, e depois, suavizando o canto, relembrou, com saudade, o ninho onde havia nascido, os prados e as fontes onde brincara tanto; falou, com os olhinhos brilhantes, naquela que roubara seu coração, em uma manhã de março, e terminou reafirmando sua imensa fé no porvir, entre vários chilreados, gorjeios e pipilos. Quando terminou, uma imensa ovação encheu os ares e todos, entusiasmados, já aclamando o canário como vencedor do certame, gritavam, impacientes: - O sapo... Agora o sapo! Queremos ouvir o sapo! Este pulando do barro onde estava, coaxou três vezes, voltando desajeitadamente de onde viera. Houve um silêncio apalermado, durante alguns segundos. Depois, uma imensa vaia estrondou pelos ares, e os próprios membros do júri demonstravam abertamente seu desagravo, taxando a atuação do sapo de absurda, ofensiva e até nojenta! Não havia necessidade de reunião de jurados para decisão – pois esta era patente, e por certo já estava tomada. Mas, para respeitar a praxe, de que todos eram amantes, os sábios componentes da douta banca julgadora se recolheram, em conciliábulo atrás de uma grande perobeira, depositando seu voto secreto no oco podre de uma árvore. A coruja, convidada para fazer a apuração, ajeitando os óculos, leu, depois de alguma excitação: - Venceu o sapo – nove votos contra dois... Houve um oh! Desapontado entre a assistência, e todos se recolheram a suas tocas, envergonhados de sua condição de bichos, ante tamanha injustiça. O sapo, depois de dois pulos de contentamento, correu a recolher as apostas que fizera. Os nove passarinhos, membros do júri, surpresos, desapareceram discretamente. Um pouco além, cabisbaixas, tartaruga e a rã caminhavam, lado a lado. Na primeira encruzilhada separaram-se sem palavras, tomando, cada um seu rumo. Havia em seus olhares um quê de pesar ou de desconfiança: É que haviam, ambas, votado no canário amarelo... |
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