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Medicina Rústica

A medicina popular constituiu-se no Brasil com os fundamentos essenciais indígenas, africanos (sudaneses e bantos) e portugueses. A percentagem, na regra da proporção é de 1 para 2 para 5.

Indígenas: Psicoterapia medular, radical, positiva. Sopro e sucção para eliminação do motivo determinador da enfermidade.
Stradelli (Vocabulário Nheengatu, 595) ensina sobre o Peiuuá, o sopro: “O sopro entra em todas as cerimônias e atos do pajé. É soprando sobre a parte doente, acompanhando-se ou não com maracá e com massagens mais ou menos prolongadas, que curam muitas moléstias, fazendo sair do corpo do doente as cousas mais disparatadas, que pretendem ter sido introduzidas por pajés inimigos. É sobretudo sobre a mão fechada numa certa e determinada direção, e abrindo-a lentamente sem desviá-la que mandam aos ausentes, por um simples ato do seu querer a infelicidade, a doença, a morte...”
Sucção, foi um processo terapêutico clássico para extrair venenos e “humores” malignos.

Africanos: Trouxeram banhos, gorduras animais para fricções, jejum dietético, reminiscência do Ramadã, ungüentos aquecidos, maior volume de remédios ingeríveis, cataplasmas, vomitórios, purgatórios, defumação médica, banhos quentes, outra herança moura, vulnerários, ataduras com ervas esmagadas para úlceras, tônicos, suadouros, sarjaduras e emolientes prévios, afrodisíacos, vermífugos. O negro trazia reminiscências dos grandes impérios sudaneses e bantos, do Senegal e Tanganica, movimentação de povos pelo impulso dos soberanos conquistadores, ampliando as áreas do conhecimento da medicina tradicional. Contacto mouro e árabe, e por esse intermédio, da Índia, da China, de toda a orla do Mediterrâneo, de Marrocos à Ásia Menor, roteiro de caravanas e estrada de penetração guerreira. Conhecia metais, gado, as feiras, hierarquias, possuindo a vocação associativa, explicação para a sobrevivência dos candomblés e defesa das permanentes psicológicas. Quem vulgariza as plantas populares, arruda, alecrim, manjericão, é o escravo negro. O indígena não conseguiu impor a jurema, viva apenas nos catimbós e candomblés-de-caboco, sem a expansão das demais, fixadas por Debret. Entre um indígena-ancião e o negro-velho, o interesse do povo ambienta o segundo, numa irresistível atração misteriosa, julgando-o guardião de fórmulas miríficas e fiel intérprete da sabedoria africana, oculta e defendida da curiosidade dos brancos.

Portugueses: Foram influência decisiva, imediata, integral, herdeiros da milenar farmacopéia da Europa e consuetudinarismo da assistência dos povos que lhe haviam ocupado o território. De médico e louco, todos nós temos um pouco, é refrão português. Era a ciência das aldeias, das vilas, dos cadernos de observação familiar, os volumes de Buchanan e Chernoviz, as velhas curandeiras, as “entendidas”, de atuação infalível e renome profundo.
A tendência normal é recorrer à medicação primária e rústica quando desfalece o crédito à ciência oficial. Antigamente o doutor-formado estava distante das matas e sertões. O “branco”, ou sinhá-dona da casa-grande, assumia o direito de formular e dirigir, talqualmente fizera em Portugal, distribuindo, meizinhas para empacho, entalo, catarro-amalinado, tosse-de-cachorro, pereba reimosa. Derramou-se pelo Brasil o dilúvio dos chás, da purga com seus cuidados, meia-branca, cabeça amarrada que fora imposição em Roma Imperial, comida-de-dieta, sobroço ao vento-encanado, sol no pescoço, luar nos olhos, horas abertas, quebrar o resguardo da parturiente ou purgado, aplicação d’água quente, ventosas, a incrível flebotomia, a stercoterapia soberana, enfim a sabença, parcialmente ensinada pelos graves Capelos Amarelos da Sorbonne, Salerno, Montpellier.







Remédios da Medicina Popular

01.
Quiabo (sementes) – Torra-se e mistura-se no café. É remédio para tosse.
02.
Pindaíba (sementes) – Para dores uterinas (dô de muié), dor de barriga ou “dor de corda”.
03.
Coentro (sementes) – Para gripe, constipação e resfriado.
04.
Dente de Jacaré – Encastoado, usa-se no pescoço para evitar “dentada de cobra” e “mau olhado”. De jacaré fêmea para homem e de jacaré macho para mulher, se não, não faz efeito.
05.
Erva doce (sementes) – Usam-se como chá, infusão. Usado para dor de barriga.
06.
Flor de sabugo (Sabugueiro) – Usam-se as flores para fazer chá e também na cachaça. Serve para gripe.
07.
Sabugueiro (sementes) – Misturado com viola e sene, faz-se chá contra a gripe e tosse.
08.
Flor de sabugueiro – Pisada e posta no vinho branco, é “bom para avivar a voz”.
09.
Cravo do reino (sementes) – Masca-se o cravo para curar dor de barriga e dores.
10.
Gira-sol (sementes) – Torra-se e faz café. Serve para “ar do tempo”. Serve para epilepsia, quando se tem ataque pela primeira vez.
11.
Cabacinho (raiz) – Põe-se na cachaça ¾ de uma raiz. Serve para reumatismo.
12.
Baunilha (fava) – Torra-se e faz chá. Serve para quem sofre do coração e febre.
13.
Viola – Para apressar a dentição das crianças, faz-se colar.
14.
Casco de cágado da campina – Torra-se e faz chá. Usado para “falta de ar”, e asma.
15.
Croá (sementes) – Faz-se chá. Usado para dor de “mulé”, para “mulher que tem bicha”.
16.
Sene – Faz-se chá. Serve para regra de mulher que está “faltando”.
17.
Tipi – Faz-se chá. Usado para reumatismo nas juntas.
18.
Mostarda – Faz-se chá. Usado para “ar do tempo” e como purgante.
19.
Pau-brasil – Faz-se chá ou toma-se com cachaça. Usado para quando “faltam os tempos” (as regras menstruais).
20.
Cipó d’alho – Usa-se no banho para “descarregar o espírito mau do corpo” da pessoa que “sofre do espírito”.
21.
Sabão de Alcatrão – Para coceiras e tirar fedor do sovaco.
22.
Couro de teiú – Defumador usado para “ar do tempo”.
23.
Alcaçuz (cipó “do céu”, raiz) – Faz-se chá. Usado para tosse.
24.
Manacá (raiz) – Usado como chá, garrafada ou na cachaça. Serve para reumatismo, esquentamento, blenorragia.
25.
 Caroço de pinha (ata ou ariticum) – Pisa e tira-se o sumo da água e pões-se na cabeça. Usado para tirar piolhos.
Dizem que se passar debaixo de um pé de pinha, caem os piolhos.
26.
Alecrim de tabuleiro (galhos e folhas) – Usado para febres, bronquites, defumador de casa e das pessoas, “mau olhado”.
27.
Pedra hume – Usa-se no banho, para “arrochar as carnes”, apertar mais a vagina para as relações sexuais.
28.
Anil (pedra) – Para clarear a roupa e também para curar rabugem de cachorro. (Dá-se no pirão).
29.
Alfazema – Faz-se chá. Serve para desinfetar quando a criança nasce e também é usado para dores de barriga pós-parto. Usado para a mulher que quebra resguardo, menstruação, falta de regras, dor de dente. Para curar dor de dente mistura-se com fumo de cigarro ou coloca-se no cachimbo.
30.
Pixilinga (consertado-misturado) – Purgante “consertado” com óleo de rícino e noz moscada.
31.
Gergelim (sementes) – Pisa-se, soca-se bem, tira-se o leite, põe-se no vinho branco e toma-se. A semente pisada, depois de tirado aquele leite que foi para o vinho, coloca-se ou esfrega-se sobre o lugar inchado. É remédio para inchação.
32.
Estrela do mar – Torra-se no fogo, mói-se e põe aquele pó n’água morna e bebe-se. Serve para curar tosse brava e puxado de peito. É bom também para “desmante-lo de mulher”.
33.
Bata de purga – Faz-se chá, garrafada no vinho branco, e cozimento para banho. Usado como refrescante das urinas e refresco para sífilis.
34.
Linhaça (sementes) – Pisa-se e faz-se chá. Serve para curar quem está com a “obra empitada”,  prisão de ventre “dores caseiras”.
35.
35. Defumador preto – Queima-se sobre a brasa. Serve para evitar mal, inveja em casa e desinfeta tudo.
36.
Banha de jacaré – Usado para curar ferida, para esfregar sobre a barriga quando a mulher está com “dor de mulé” (cólica uterina), dor de dente e até dentada de cobra.
37.
Endo – Torra-se e faz-se chá. Usado para congestão.
38.
Azeite dendê – Usado para “mal do monte” um vermelhão que dá na pessoa. Passa-se em cima das perebas.
39.
Pimenta da costa – Pisa-se e faz-se chá. Usado para dor de mulher.
40.
Eucaliptos – Faz-se chá das folhas. Usado para febre.
41.
Velandinho (folha) – Cozinhar, beber e lavar. Usado para soltar o catarro do peito, inchação.
42.
Marmeleiro branco – Faz-se chá. Usado para o sangue, feridas e afinar o sangue.
43.
Goma de bonina – Usada no vinho branco para reumatismo.
44.
Folha de louro – Usada para inchação.
45.
Goma de batata – Põe-se no vinho branco. Usada para calor e sífilis.
46.
Goma de macaxeira branca – Põe-se no vinho branco. Usado para calor e sífilis.
47.
Tintura de eucalipto – Cheirar para dor de cabeça.
48.
Enxofre – Usado para curar coceira e sarna.
49.
Pena de macuco – Torra-se e bebe-se. Usado para curar o ar concentrado e também como defumador contra insetos.
50.
Fedegoso (da planta somente se usam a raiz e a semente). Semente: torra-se, mói-se e depois prepara-se como café. Serve para puxado (asma), e anemia, dor de cabeça. Raiz: põe-se n’água e ferve-se. Toma-se como chá. Para dor de cabeça, resfriado e gripe.


Fontes : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
Alceu Maynard de Araújo, Escorço do Folclore de uma Comunidade, in Revista do Arquivo Municipal CLXVII, 166-168, São Paulo, 1962


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