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Também
a marcha territorial desta motivou esses hiatos largos e dissociadores.
Zonas inteiras conheceram o desenvolvimento, por vezes rápido, para
depois caírem e serem progressivamente abandonadas pelos seus
moradores. Por isso é que, nas cartas brasileiras, nos roteiros e
mapas, a palavra "tapera" é tão frequente. Aos viajantes do nosso
interior, mesmo em zonas em que existe relativo progresso, se deparam,
com frequência, as "taperas".
Ora são casebres e choupanas, isoladas e perdidas, abandonadas por seus moradores e entregues ao tempo. Ora são pequenos núcleos de povoamento, que chegaram a atingir nível de progresso interessante, quando tudo anunciava se tornariam vilas, com o passar dos tempos, - e que entram a declinar, a tal ponto que os povoadores abandonam as suas casas, vão procurar ganhar a vida em outros lugares, e aquele conjunto fica ao sabor do tempo, tornando-se uma tapera. Muitas vezes, os próprios caminhos que levavam a tais lugares se tornam meras picadas, que o mato cobre e que dificilmente o viajante encontra e distingue. Tendo o núcleo gerado caminhos, o declínio apaga os roteiros que levam às "taperas". Nas viagens pelo interior brasileiro, em zonas distantes, o encontro com as taperas é relativamente frequente. Há zonas em que elas surgem amiúde, indicando a antiga passagem de progresso e de vida, e o abandono posterior, por motivos os mais variados. As "taperas" isoladas encontram-se em todos os recantos brasileiros, mesmo em zonas ricas. A transformação de casas e vilas em "tapera" serviu já de motivo a muitas páginas literárias, que as caracterizam. DARCI AZAMBUJA, no seu livro de pontos No Galpão, assim descreve a transformação: "A propriedade tocou a um parente longe, que arrendou o campo e não se importa com a casa. Hoje, quem passa na estrada, vê que ela se vai arruinando aos poucos, fechada, sem abrigar mais ninguém. O banco de pau desapareceu, a latada de madressilva caiu, caíram as cercas de sarrafo, no telhado há um grande rombo. As chuvas e os ventos derrubaram o teto primeiro, depois uma parede, e as portas, as janelas ... E lentamente a casa irá se tornando "tapera" - que é uma saudade perdida no campo ... ALCIDES MAYA assim a pintou: "O tempo, irônico, depois de dispersar aos acasos da sorte a raça modesta que lutou e sofreu sob esse teto humilde, deixou erguidos no anonimato da morte, sem sombra de tradições, os teus muros solitários, que ora parecem rir para o caminho, pelas janelas e pelas portas escancaradas, um riso escarninho, doloroso do vazio que és sob o firmamento radiante, ora ameaçam soturnamente, enoitecidos e torvos, o horizonte remoto". Se assim foram pintadas as "taperas" sulinas, de modo não muito diferente pintaram as goianas e as mineiras HUGO DE CARVALHO RAMOS e AFONSO ARINOS. TEODORO SAMPAIO explicou a origem do vocábulo como expressando aldeia extinta, em linguagem típica. Eram os núcleos desertados pelo indígena, em busca de melhores paragens ou tocados pelo avanço do homem branco. Hoje, assinalam, pontilhando o interior brasileiro, ora como casas isoladas, ora como fazendas e engenhos abandonados, ora como antigos núcleos de povoamento, a inexorável marcha da riqueza e a sucessão de tristeza e abandono que a acompanha". |
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