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O Casamento na História do Brasil

Casamento entre os indígenas (meados do século XVI):

Padre Anchieta notou que os indígenas tinham para si como “parentesco verdadeiro” o que vinha “pela parte dos pais que são os agentes”; e que as mães não são mais que sacos [...] em que se criam as crianças”; por isso usavam “das filhas das irmãs sem pejo ad copulam”. Acrescentando que a estas os padres casavam com seus tios, irmãos das mães, se as partes são contentes, pelo poder que teem de dispensar com eles...,” O que mostra ter a moral sexual dos indígenas afetado logo aos princípios da colonização à moral católica e às próprias leis da igreja relativas a impedimentos de sangue para o matrimônio.

Casamento mestiço:

No século XVI a transigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha servir a poderosas razões de Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses.

Neste amor foi só o físico; dele resultaram filhos que os pais cristãos pouco se importaram de educar ou de criar à moda européia ou à sombra da Igreja. Meninos que cresceram à toa, pelo mato; alguns tão ruivos e de pele tão clara, que, descobrindo-os mais tarde a eles e a seus filhos entre o gentio, os colonos dos fins do século XVI facilmente os identificaram como descendentes de normandos e bretões. Desses franceses escreveria em 1587 Gabriel Soares no seu Roteiro Geral que muitos “se amancebaram na terra, onde morreram, sem se quererem tornar para França, e viveram como gentios com muitas mulheres, dos quaes, e dos que vinham todos os annos à Bahia e ao rio Segeripe em náos da França, se inçou a terra de mamelucos, nasceram, viveram, e morreram como gentios; dos quaes há hoje muitos seus descendentes, que são louros, alvos e sardos, e havidos por índios Tupinambás, e são mais barbaros que eles”.

Só a partir do meado do século XVI que pode considerar-se formada, diz Basílio de Magalhães, “a primeira geração de mamelucos”; os mestiços de portugueses com indígenas, com definido valor demogênico e social. Os formados pelos primeiros coitos não oferecem senão o interesse de terem servido de calço ou de forro para a grande sociedade híbrida que ia constituir-se.

A mulher gentia temos que considerá-la não só a base física da família brasileira, aquela em que se apoiou, robustecendo-se e multiplicando-se, a energia de reduzido número de povoadores europeus, mas valioso elemento de cultura, pelo menos material na formação brasileira.

Zacarias Wagner observaria no século XVII que entre as filhas de caboclas iam buscar esposas legítimas muitos portugueses, mesmo dos mais ricos, e até “alguns neerlandeses, abrasados de paixão”. Já não seria então, como no primeiro século, essa união de europeus com mulheres indígenas, ou filhas de indígenas, por escassez de mulher branca ou brancarana (mulata clara), mas por decidida preferência sexual. Capistrano de abreu sugere que a preferência da mulher gentia pelo europeu teria sido por motivo mais social que sexual: “da parte das indígenas a mestiçagem se explica pela ambição de terem filhos pertencentes à raça superior, pois segundo as idéias entre eles correntes só valia o parentesco pelo lado paterno”.

Histórias de casamento, de namoros, ou outras. Menos românticas, mas igualmente sedutoras, eram as mucamas que contavam às sinhazinhas nos doces vagares dos dias de calor, a menina sentada à mourisca, na esteira de pipiri, cosendo ou fazendo renda; ou então deitada na rede, os cabelos soltos, a negra catando-lhe piolho, dando-lhe cafuné; ou enxotando-lhe as moscas do rosto com um abano. Suprira-se assim para uma aristocracia quase analfabeta a falta de leitura. Modinhas e canções, era ainda com as mucamas que as meninas aprendiam a cantar – essas modinhas coloniais tão impregnadas do erotismo das casas-grandes e das senzalas; do erotismo dos ioiôs nos derreios pelas mulatinhas de cangote cheiroso ou pelas priminhas brancas; voluptuosas modinhas de que Elói Pontes recolheu uma tão expressiva do amor entre brancos e mulatas:

“Meu branquinho feiticeiro,
Doce ioiô meu irmão,
Adoro teu cativeiro,
Branquinho do coração,

Pois tu chamas de irmãzinha
A tua pobre negrinha
Que estremece de prazer,
E vais pescar à tardinha
Mandi, piau e corvina
Para a negrinha comer”.

Em nenhuma das modinhas antigas se sente melhor o visgo de promiscuidade nas relações de sinhôs-moços das casas-grandes com mulatinhas das senzalas. Relações com alguma coisa de incestuoso no erotismo às vezes doentio, É mesmo possível que, em alguns casos, se amassem o filho branco e a filha mulata do mesmo pai.
Walsh, nas suas viagens pelo Brasil, surpreendeu uma família brasileira francamente incestuosa: irmão amigado com irmã. E na Mantiqueira viu uma dança em que os membros de certa família mestiça revelavam hábitos lamentavelmente incestuosos, que escandalizaram o padre inglês.
(R. Walsh, Notices of Brazil, II, pág. 164, Londres, 1830)

As festas de casamento:

O casamento era dos fatos mais espaventosos em nossa vida patriarcal. Festa de durar seis, sete dias, simulando-se às vezes a captura da noiva pelo noivo. Preparava-se com esmero a “cama dos noivos” - fronhas, colchas, lençõis, tudo bordado a caprincho, em geral por mãos de freiras; e exposto no dia do casamento aos olhos dos convidados. Matavam-se bois, porcos, perus. Faziam-se bolos, doces, pudins de todas as qualidades. Os convivas eram em tal número que nos engenhos era preciso levantar barracões para acomodá-los. Danças européias na casa-grande. Samba africano no terreiro. Negros alforriados em sinal de regozijo. Outros dados à noiva de presente ou de dote: “tantos pretos”, “tantos muleques”, uma “cabrinha”.


Casamento consanguíneo:

Os casamentos, tão frequentes no Brasil desde o primeiro século da colonização, de tio com sobrinha; de primo com prima, era evidentemente impedir a dispersão dos bens e conservar a limpeza do sangue de origem nobre ou ilustre. Tudo indica ter sido este o intuito de Jerônimo de Albuquerque, o patriarca da família pernambucana, ao casar seus dois primeiros filhos varões, havidos de dona Maria do Espírito Santo Arcoverde – a princesinha índia – com duas irmãs de sua mulher legítima, dona Filipa de Melo, filha de dom Cristóvão de Melo. A mulher que lhe recomendara para esposa a rainha dona Catarina, horrorizada com a vida mulçumana de polígamo do cunhado de Duarte Coelho. Não foram uniões consanguíneas: mas de indivíduos que, casando-se, apertavam os laços de solidariedade de família em torno do pattriarca. Era esse o fim dos casamentos de tios com sobrinhas.
Mas quem ao referir-se à frequência dos casamentos consanguíneos no Brasil levanta a voz, indignado, contra a Igreja e os padres, é o capitão Richard Burton: “Licenças para cometer incesto”, chama-se ele às dispensas da Igreja. Mas confessa não ter reparado casos em que se revelassem “os resultados terríveis” do horroroso pecado

Casamento precoce para a mulher:

Do padre Anchieta, que foi, como todo jesuíta no século XVI, um grande casamenteiro, aproximou-se um certo Álvaro Neto com uma filha nesta tristíssima situação: quinze anos e ainda solteira. “Fazia-lhe grandes queixas Álvaro Neto, morador da vila de São Paulo”, diz-nos o padre Simão de Vasconcelos na sua Vida do venerável padre Ioseph de Anchieta da Companhia de Iesus, “que tinha huma filha já de quinze anos & nam tinha remedio para casalla”. Outra moça aparece na crônica jesuítica na mesma situação da filha de Álvaro Neto: Filipa da Mata. Esta fora noiva de Joseph Adorno: mas teria talvez quinze anos a desgraçada Filipa, já solteirona dolorosa: num instante consolou-a e aos seus pais o grande missionário. Não só profetizou-lhe casamento para muito breve com um rapaz de Lisboa como uma vida ideal depois de casada: “tantos filhos que nam saberá quaes sam as camisas de uns & outros”.
Foi geral, no Brasil, o costume de as mulheres casarem cedo. Aos doze, treze, quatorze anos. Com filha solteira de quinze anos dentro de casa já começavam os pais a se inquietar e a fazer promessas a Santo Antonio ou São João. Antes dos vinte anos, estava a moça solteirona.
Idade em que já eram sinhá-donas; senhoras casadas. Algumas até mães. Na missa vestidas de preto, cheias de saias de baixo e com um véu ou mantilha por cima do rosto; só deixando de fora os olhos – os grandes olhos tristonhos. Dentro de casa, na intimidade do marido e das mucamas, mulheres relassas. Cabeção picadode renda. Chinelos em meias. Os peitos às vezes de fora. Maria Graham quase não reconheu no teatro as senhoras que vira de manhã dentro de casa – tamanha a disparidade entre o trajo caseiro e o de cerimônia. (Maria Graham, Journal).

Nossos avós e bisavós patriarcais, quase sempre grandes procriadores, às vezes terríveis sátiros de patuá de Nossa Senhora sobre o peito cabeludo, machos insaciáveis colhendo casamento com meninas todo um estranho sabor sensual, raramente tiveram a felicidade de se fazerem acompanhar da mesma esposa até a velhice. Eram elas que, apesar de mais moças, iam morrendo; e eles casando com irmãs mais novas ou primas da primeira mulher. Quase uns barbas-azuis. São numerosos os casos de antigos senhores de engenho, capitães-mores, barões e viscondes do tempo do Império, casados três, quatro vezes; e pais de numerosa prole. Fatos que são indicados quase como glórias nos seus testamentos e os vários matrimônios, nos túmulos e catacumbas dos velhos cemitérios e das capelas do engenho. Pois essa multiplicação de gente se fazia à custa do sacrifício das mulheres, verdadeiras mártires em que o esforço de gerar, consumindo primeiro a mocidade, logo consumia a vida.

O provocante verdor de meninas-moças eram apreciado pelos maridos de trinta, quarenta, às vezes de cinquenta, sessenta e até setenta. No meado do século XIX ainda eram comuns os casamentos de velhos de setenta com mocinhas de quinze anos.
Ainda hoje, nas velhas zonas rurais, o folclore guarda reminiscência dos casamentos precoces para a mulher; e a idéia de que a virgindade só tem gosto quando colhida verde.

Diz-se no interior de Pernambuco:

“Meu São João, casai-me cedo,
Enquanto sou rapariga,
Que o milho rachado tarde
Não dá palha nem espiga”.

Noutros pontos do Brasil a quadra varia:

“Minha mãe, nos casa logo
Quando somos raparigas:
O milho plantado tarde
Nunca dá boas espigas”.


Casamento Coletivo:

Graças ao Livro de razão do senhor Antonio Pinheiro Pinto, proprietário da fazenda Brejo do Campo Seco, na Bahia, sabemos que eram comuns as festas para casamentos e batizados coletivos de escravos. A tradição recomendava que se chamasse o sacerdote à fazenda ou engenho e que num só dia se realizassem simultaneamente ambas as cerimônias, às quais seguia-se uma “função”: festa com farta distribuição de rapadura e aguardente aos escravos, que se entregavam aos alegres batuques, atabaques e repeniques de viola. A festa de casamento devia ser importante para os escravos, pois no mesmo engenho a escrava Aninha Cabra contraiu uma dívida com seu senhor de 8$640 réis, quantia despendida com o casamento de sua filha.

Fontes : Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.
História da Vida Privada no Brasil 1 : cotidiano e vida privada na América Portuguesa / organizada por Laura de Mello e Sousa. - São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
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