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Os
abastados acrecentavam “pedaços de chão”
sobre os quais os filhos pudessem construir, ou “um adjutório
para fabricar casa e sítio para si”. Gregório de
Matos, poeta baiano do século XVII, acrescentava ao dote umas
“regras de bem viver” destinadas aos noivos, que deveriam ser
respeitadas sobretudo pelas mulheres. Não cabia à
esposa abrir a boca para falar antes do marido, nem jamais aparecer à
janela da casa, mostrando-se “mulher de poupa”, remendando as
roupas do marido, esperando-o para jantar comportadamente sentada
numa almofada, sabendo “coser, assar e fazer-lhe bocadinhos
caseiros”. Sem negligenciar aspectos físicos da relação,
recomendava: “quando vier de fora, vá-se a ele, e faça
por se unir pele com pele”. Os santos casamenteiros Os
interesses de procriação
abafaram não só os preconceitos morais como os
escrúpulos católicos de ortodoxia; e ao serviço
vamos encontrar o cristianismo que, em Portugal, tantas vezes tomou
característicos quase pagãos de culto fálico. Os
grandes santos nacionais tornaram-se aqueles a quem a imaginação
do povo achou de atribuir milagrosa intervenção em
aproximar os sexos, em fecundar as mulheres, em proteger a
maternidade: Santo Antônio, São João, São
Gonçalo do Amarante, São Pedro, o Menino Deus, Nossa
Senhora do Ó, da Boa Hora, da Conceição, do Bom
Sucesso, do Bom Parto. Nem os santos guerreiros como São
Jorge, nem os protetores das populações contra a peste
como São Sebastião ou contra a fome como Santo Onofre –
santos cuja popularidade corresponde a experiência
dolorosamente portuguesas – elevaram-se nunca à importância
ou ao prestígio dos outros patronos do amor humano e da
fecundidade agrícola. Importância e prestígio que
se comunicaram ao Brasil, onde os problemas do povoamento tão
angustiosos em Portugal, prolongaram-se através das
dificuldades da colonização com tão fracos
recursos de gente. “Dai-me
um noivo, São João,
dai-me um noivo, As
sortes que se fazem na noite ou na
madrugada de São João, festejado a foguetes, busca-pés
e vivas, visam no Brasil, como em Portugal, a união dos sexos,
o casamento, o amor que se deseja e não se encontrou ainda.
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“Casai-me, casai-me, São Gonçalinho, Que hei de rezar-vos, Amigo, santinho”. |
Exceção só
das moças: “São
Gonçalo do
Amarante,
Casamenteiro das velhas, Por que não casais as moças? Que mal vos fizeram elas? |
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Gente estéril,
maninha,
impotente, é a São Gonçalo que se agarra nas
suas últimas esperanças.
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