Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja
Modus
O Nascimento
A infancia
-Aprendizado
-Brincadeiras
Jogos e Brinquedos
O Jovem
O Casamento
O Habitar
Direção do lar
O Adulto
O Idoso
A Morte
Sabedoria Popular
Crendice



Aprendizado
Jesuítas

Bem cedo os culumins aprendiam a dançar e a cantar. O padre Cardim descreve várias danças só de meninos. Algumas os missionários da Companhia de Jesus adotaram no seu sistema de educação e catequese. A mais comum talvez fosse a Sairé descrita pelo padre Daniel.

Na casa secreta dos homens processava -se uma verdadeira educação moral e técnica do menino: o seu preparo para as responsabilidades e privilégios de homem. Aí se iniciava ele nos mistérios mais sutis da técnica de construção, da caça, da pesca, da guerra, do canto, da música; em tudo que de magia e de religião tocasse ao leigo aprender.

Indígena

Aí ao contato dos mais velhos, ele se impregnava das tradições da tribo. Era um processo rápido mas intenso de educação, a doutrinação e o ensino agindo sobre verdes noviços em estado de extrema sensitividade, conseguida a poder de jejuns, vigílias e privações. De modo que não havendo castigo corporal nem disciplina de pai e mãe entre os indígenas do Brasil – de que tanto se espantaram os primeiros cronistas – havia, entretanto, essa severa disciplina, a cargo principalmente dos velhos. Conta o padre João Daniel de outro missionário, seu conhecido, que mandando um dia, logo ao amanhecer, indagar de uns gritos de menino que tinha ouvido de noite, soube que era “F, que toda a noite esteve dando pancadas e tratos a seu sobrinho para o fazer valente, animoso e reforçado”.

Jesuítas

Gabriel Soares escreve dos Tupinambás no seu Roteiro: “não dão os Tupinambás aos seus filhos nenhum castigo nem os doutrinam, nem os reprehendem por cousa que façam”. Eram entretanto, espancados e até flagelados os meninos – e às vezes os grandes e flagelavam uns aos outros – com os fins pedagógicos e de profilaxia de espirítos maus. Como já possuíssem o complexo da flagelação, fácil lhes foi adaptarem-se ao da penitência, introduzido pelos missionários, e no qual desde os primeiros tempos se notabilizaram: Cardim registra o gosto com que os nativos cumpriam as penitências católicas.

Os colégios dos jesuítas nos primeiros dois séculos, depois os seminários e colégios de padres, foram os grandes focos de irradiação de cultura no Brasil colonial. Aqueles estenderam tentáculos até os matos e sertões. Descobriram os primeiros missionários que andavam nus e à toa pelos matos meninos quase brancos, descendentes de normandos e portugueses. E procuraram recolher aos seus colégios esses joões-felpudos. Foi uma heterogênea população infantil a que se reuniu nos colégios dos padres, nos séculos XVI e XVII: filhos de caboclos arrancados aos país; filhos de normandos encontrados no mato; filhos de portugueses; mamelucos; meninos órfãos vindo de Lisboa. Meninos louros, sardentos, pardos, morenos, cor de canela.

Em princípios do século XIX, os meninos, desde os nove ou dez anos, obrigados a se comportarem como gente grande: o cabelo bem penteado; o colarinho duro; calça comprida; roupa preta; botinas pretas; o andar grave; os gestos sisudos; um ar tristonho de quem acompanha enterro.
Meninos-diabos eles só eram até os dez anos. Daí em diante tornavam-se rapazes. Seu trajo, o de homens feitos. Seus vícios, os de homens. Sua preocupação, sifilizarem-se o mais breve possível.
Quando visitou o Brasil em princípios do século XIX surpreendeu-se o dr, Rendu, médico francês, da precocidade dos meninos. A qual lhe pareceu sobretudo grotesca.
Foi quase um Brasil sem meninos, o dos nossos avós e bisavós. Aos sete anos já muito menino dizia de cor os nomes das capitais da Europa; os dos “três inimigos da alma”; somava, diminuía, multiplicava, dividia; declinava em latim; recita em francês. Tirado o retrato de primeira comunhão, de sobrecasaca preta e botinas pretas ou borzeguins – todo esse luto a contrastar com o amarelo desmaiado do rosto anêmico – estava a criança-rapaz.
Luccok que esteve no Brasil no mesmo período, observou a falta de alegria nos meninos e de vivacidade nos rapazes. A educação da criança pareceu-lhe reduzir-se a esta função melancólica: destruir nos pequenos toda a responsabilidade. Em casa até os cinco anos, notou que os meninos de família andavam nus do mesmo modo que os moleques; mais tarde é que vinham as roupas pesadas e solenes distinguir os filhos-família dos mulecotes da senzala. Roupas de homem.

De uma escola de meninos que o observador inglês conheceu no Rio ficou-lhe a impressão tristonha. Viu os pequenos dando lição em salas acanhadas e sem ar. Todos lendo alto e ao mesmo tempo. Conheceu também o Seminário São José. Viu bandos de colegiais no recreio; todos de batina encarnada. Alguns tonsurados. A maior parte crianças. 

Aprender
Não viu neles nenhuma elasticidade de inteligência, nenhuma curiosidade de espírito nem mesmo boas maneiras. Poucos asseados. Quanto ao ensino, parece que exclusivamente eclesiástico. Os professores pouco versados em ciência. Entretanto, por essa mesma época, o ilustre bispo Azeredo Coutinho imprimia no Seminário de Olinda feição bem diversa da que Luccok observara no Seminário São José, no Rio.

Até meados do século XIX, quando vieram as primeiras estradas de ferro, o costume nos engenhos foi de fazerem os meninos os estudos em casa, com o capelão ou com mestre particular. As casas-grandes tiveram quase sempre sala de aula, e muitas até cafua para o menino vadio que não soubesse a lição. Muitas vezes aos meninos se reuniam crias e muleques, todos aprendendo juntos a ler e a escrever; a contar e rezar. Noutros engenhos cresceram em igual ignorância meninos e muleques.

Registros de Alceu Maynard Araújo na comunidade de Piaçabuçu, na região Nordeste do Brasil, por volta de 1950:

Na família se desenrolam em miniatura quase todas as atividades desenvolvidas pelos membros da sociedade, sendo portanto uma escola de preparação para a vida social. A preparação para a vida começa a ser dada pelos pais e coadjuvada pelos demais membros da família: irmãos mais velhos, tios, avós.As primeiras palavras, são ensinadas pela mãe, que também os inicia no saborear dos primeiros manjares, após o período do aleitamento. É a mãe que os ensina a rezar: “Balbina ensina seus filhos a rezar, isto fazendo quando se levantam e deitam. Nestas orações – Padre Nosso, Ave Maria, Anjo do Senhor – diz a eles que peçam saúde aos pais, avós, irmãos e pelo vovô Quincas, falecido há pouco. Inicia, portanto, a criança nos caminhos da religião tradicional.

Em casa vai a criança aprendendo os hábitos alimentares, as normas de comportamento.
Nos lares pobres, as crianças, desde cedo, acompanham seus pais até as lagoas de arroz. Quando tal não se dá, ficam em casa em companhia de irmãos mais velhos que freqüentam a escola (grupo) ou sob os cuidados de seus avós. Mas o lugar onde mais ficam é a rua. Esta é a escola sem paredes e onde não há o perigo de atropelos de automóveis ou outros veículos, é a escola do céu aberto onde as crianças aprendem muito do que virão a ser.
Este é um fato concreto: Bibi, de três anos e meio, filhinha do Dr. Lobo, sabe que a mãe vai lhe dar um irmãozinho. Pensa, conforme lhe ensinam os pais, que o nenê virá no bico de um pássaro grande.

Provérbios

O uso de provérbios é bastante disseminado e as repetição deles pelos país é uma forma de ensino. Miguel, ensinado seu filho, a fazer qualquer coisa que recomendara, em tom enfático disse para o menino: “Quem não sabe rezar, xinga a Deus”. Chegou o mais velho chorando, brigara na rua. O pai só disse ao filho desobediente, que se ausentara da frente da sua casa: “Cobra que muito caminha leva pau”.
Caíram as manivas de mandioca no chão. O velho Pedro Castro pediu para seu neto colocá-las no samburá. O menino fez uma verdadeira sujeira na sala. Contrariado, Pedro Castro disse: “Serviço de menino é pouco e quem pede é loco”.
A criança também aprende nos grupos de brinquedo.


Fonte : Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.
Casa-Grande & Senzala em quadrinhos / Gilberto Freyre; desenhos de Ivan Wasth Rodrigues; quadrinização de Estevão Pino, - 3ª reimp. - Rio de Janeiro: Ed. Brasil-América, 1985
Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Gif animado da Animationfactory


Volta ao Topo
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter