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É
natural que o falar português no Brasil se... abrasileirasse.
Empregado como língua materna, oficial, por cerca de 145
milhões de falantes (1990) distribuídos pela amplidão
continental, requereu e aceitou diferenciações.
Desenvolveu, no todo, flexão e musicalidade próprias,
sem que isso impedisse a Antônio Cândido verificar que,
“trasladada ao sul da América, não perdeu o caráter
grave, nem a têmpera máscula, nem o tom de funda
melancolia que lhe imprimiu a esforçada e trágica
aventura de nossos avós; e ainda adquiriu preciosos elementos
de encantadora suavidade, de frouxa, dolente e maviosa ternura”.
Eça de Queiroz, embora generalizando, sentiu-se impressionado
a ponto de exclamar: “No Brasil fala-se português com
açúcar”.
Na imensidão territorial com sua variação climática, consolidaram-se diversidades no falar. José Marques da Cruz (Português Prático – Gramática, Edições Melhoramento, 22ª edição, São Paulo, 1952) cita: “A causa é o clima. Quando quente, produz a acentuação das vogais, como: mínimo, mênino e ménino, a introdução de vogais onde não há, como: adevogado, abissolutamente, pineumático, adequerir, indiguina, etc., e a queda dos rr finais: passeá, doutô, etc. ... (...) nas zonas temperadas (...) produz a pronúncia mais rápida e até a eliminação de certas vogais, no meio dos vocábulos. (...) À medida que nos aproximamos da zona tórrida, a pronuncia vai-se tornando langorosa. No sul, a pronúncia é m'nino; em São Paulo, minino; no Brasil central, mênino; pelo norte, ménino”. As diferenças não chegam a configurar dialeto. Porém, sempre houve os que pretenderam reconhecer e mesmo delimitar uma língua brasileira destacada da portuguesa. José de Alencar terá sido um dos animadores mais credenciados desse projeto, talvez com o insinuado incentivo de Pedro II. Mas os gramáticos brasileiros permanecem irredutíveis. Joaquim Nabuco, ao tempo da fundação da Academia Brasileira de Letras (1897), deitou tranquilizante na efervescência dos que reclamavam a imediata proclamação da existência da língua brasileira. Afirmou: “A língua há de ficar perpetuamente pró-indiviso entre nós; literatura, essa tem de seguir lentamente a evolução diversa dos dois países”. Perpetuamente, não; aceitam-se alguns séculos, ainda, de unidade. Ademais
das singularidades, os entusiasta nativistas apontam para a
incorporação, ao falar português no Brasil, de
milhares de palavras, contributo ameríndio e africano e fora
do entendimento de outros povos lusófonos. A contribuição de falares negros começara via Portugal com os bordejamentos e as conquistas de praias africanas pelas frotas descobridoras. Mas o fluxo de escravos, que só terminaria pelos fins do século XIX, é que ingurgitou essa doação esparsa por vários setores da vida nacional. Estas, entre centenas de palavras: corcunda, bunda, cafundó, camundongo, curinga, dengue, fubá, farofa, quiabo, quilombo, mulango, bamba, cafuné, banguela, mambembe, abará, acarajé, vatapá, xinxim, acaçá. E os verbos expressivos como: xingar, fungar, sungar. O enriquecimento do português não se restringiu a esses dois volumosos aportes. Somou-se àqueles trazidos pelas correntes migratórias pós-libertação dos escravos negros (1889). Incorporou só para exemplificar: dos alemães: níquel, gás, zinco; dos espanhóis: bolero, castanhola, sendo que os bascos trouxeram, de sua língua: cachorro, modorra e outras palavras terminadas em “arro”, “arra”, “orro”; dos franceses: paletó, boné, matinê; dos eslavos: mazurca, estepe; dos gregos: telefone, telepatia; dos japoneses: quimono, tatame; dos italianos: gazeta, soneto, carnaval; dos turcos: divã, sultão; dos ingleses: futebol, clube, bonde. Todas palavras depressa amoldadas ao padrão nacional, muitas mal e mal deixando perceber a origem. Assim,
pois, ao findar o século XX, o português observa no
Brasil requisitos sociolinguísticos de uma língua em
uso, em evolução, incontrastada. É língua
materna, nacional, oficial e de cultura.
Texto
Complementar
Que um povo, uma tribo conheça a língua de um grupo de pessoas de língua diferente, relacione-se com ele, à medida que alguns de ambas as comunidades linguísticas aprendam as línguas estrangeiras e sirvam de intérpretes; que um povo com determinados instrumentos, armas, utensílios também adote as palavras correspondentes; que um povo seja vencido, sua terra ocupada e que ele adote a língua do conquistador; que línguas se misturem: tudo isto ocorre há tempos imemoráveis. Toda língua que conhecemos sofre influência de outras línguas. Influências estrangeiras podem modificar também a tipologia, a gramática, sintaxe de uma língua. As palavras estrangeiras entram em uma língua de diferentes modos. Um povo aprende com o outro uma coisa, um conceito, uma instituição, e o adota, juntamente com a denominação na língua estrangeira. A palavra adotada pode acabar por se assimilar de tal modo à nova pátria linguística (na forma, na pronúncia, na escrita) que passa a não ser mais sentida como estrangeira, sendo reconhecida como tal no máximo pelos linguistas. Quando substituímos, por exemplo, uma palavra, que já existe em português, por uma em inglês, com o mesmo significado, pode ser identificado como “modismo” ou ignorância, ou ainda atestar um complexo de inferioridade.* Influência estrangeira no alemão, por exemplo: Inúmeras
palavras de origem latina foram adotadas e adaptadas pelas tribos
germânicas: a palavra como Schule
(do latim schola),
Probe
(do médio latim proba),
Tisch (do latim discus,
“disco”, “prato”). Essas palavras
alemanizadas, que tanto na pronúncia quanto na gramática
seguem as regras correspondentes da língua alemã, são
chamadas de empréstimos.
Quando a adaptação da palavra não ocorreu (ou se
deu apenas parcialmente), fala-se de estrangeirismos.
Exemplos simples são: Philosophie
(grego), Operation
(latim), Sergeant
(francês), Spaghetti
(italiano), jeans
(inglês). Dialetos: Ainda hoje, na era dos meios de comunicação de massa, a área linguística alemã parece, àquele que ouve os dialetos, um tapete colorido, uma figura multifacetada, dificilmente captável pela vista, de amplos grupos dialetais e de características linguísticas locais que diferem, por assim dizer, de vilarejo para vilarejo. Historicamente, os dialetos atuais derivam dos dialetos dos grupos populacionais germânicos da época da migração dos povos e suas respectivas expressões idiomáticas. O
alemão é a língua oficial e corrente, além
da Alemanha, na Áustria, nos cantões de língua
alemã da Suiça e no Liechtenstein. |
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