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Um pouco da História: Brasil Holandês |
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Retrato de Maurício de Nassau de Theodor Matham |
No século XVII,
por três vezes, os holandeses procuram firmar presença no Brasil. Duas
tentativas na Bahia, em 1624 e 1638, e uma em Pernambuco, em 1630.
Estes lugares foram os marcos principais de reiterados planos de
ocupação de trechos territoriais da então colônia luso-espanhola no
Novo Mundo. A ideia desta iniciativa histórica nasceu nas reuniões do Conselho dos XIX, grupo de executivos que comandava a Companhia das Índias Ocidentais (WIC), e consolidou-se, nos Países Baixos, como uma resposta ao progressivo estrangulamento que vinham sofrendo no comércio internacional - desde que Portugal fora incorporado à Coroa de Castela, em 1580 - até atingir níveis insuportáveis no período que vai de 1609 a 1621, em que vigorou o Tratado de Paz com a Espanha. Desde então, cidades como Lisboa, Porto e Viana tiveram suas portas de entrada fechadas às embarcações neerlandesas voltadas para o comércio de produtos exóticos, as especiarias, e também a madeira, o tabaco e o açúcar. Impedidas de se abastecerem junto aos fornecedores portugueses, as Províncias Unidas dos Países Baixos lançaram-se na busca do contato direto com as fontes produtoras da América, como parte de uma estratégia de salvação econômica que permitisse o estabelecimento de uma "cabeça de ponte" nas terras que couberam às coroas ibéricas pelo Tratado das Tordesilhas. Estas tentativas prolongaram-se por pouco mais de um quarto de século e delas participaram milhares de homens que, em centenas de barcos, cruzaram o Atlântico e se fixaram em terras brasileiras. Com eles vieram também inúmeras manifestações da cultura material característica da região hoje ocupada pela Alemanha e Holanda. A riqueza da capitania de Pernambuco na primeira metade do século XVII, bem conhecida em todos ao portos do Velho Mundo, havia despertado a atenção dos Países Baixos que, em guerra com a Espanha, sob cuja coroa estava Portugal e suas colônias, necessitava de todo o açúcar produzido no Brasil para suas refinarias (26 só em Amsterdam). Com o insucesso da invasão da Bahia, onde permaneceu por um ano, mas com o valioso apoio de Isabel da Inglaterra e Henrique IV da França, rancorosos inimigos da Espanha, os Estados Gerais, reunidos em Haia sob a liderança da Holanda, voltaram o seu interesse para Pernambuco. Para tanto utilizaram-se da Companhia das Índias Ocidentais, formada pela fusão de pequenas associações, em 1621, cujo capital elevara-se, na época, a 7 milhões de florins. A produção de 121 engenhos de açúcar, despertara a sede de riqueza dos diretores da Companhia. Esta mandou armar uma formidável esquadra sob o comando do almirante Hendrick Cornelizoon Lonck que, com 65 embarcações e 7.280 homens, apresentou-se nas costas de Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630, iniciando assim a história do Brasil Holandês |
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Senhores da terra,
os holandeses escolheram o povoado do Recife como sede dos seus
domínios no Brasil, por ter nesta praça a segurança de que não
dispunham em Olinda. Na noite de 25 de novembro de 1631, resolveram os
chefes holandeses pôr fogo na sede da capitania de Pernambuco. A
dominação holandesa prolongou-se por 24 anos, passando o Recife de
simples porto de Olinda a capital da nova ordem.
Seis anos depois, o Conselho dos XIX da Companhia das Índias Ocidentais convidou para ocupar a função de governador-geral um jovem coronel do exército da União, conde João Maurício de Nassau-Siegen. Alemão, nascido em Dillenburgo a 17 de agosto de 1604, João Maurício era filho primogênito do conde João VII e de sua segunda esposa, Margarida von Helstein-Soderborg, membro da família real da Dinamarca. |
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Frota de Maurício de Nassau |
Quando
o conde João Maurício de Nassau aportou em Pernambuco, na qualidade de
governador do Brasil Holandês, em 23 de janeiro de 1637, trazia em sua
comitiva não um exército, à moda dos colonizadores de então, mas uma
verdadeira missão artística e científica que ainda hoje desperta as
atenções dos estudiosos daquele período. Com 33 anos de idade, o novo governador faz-se acompanhar do latinista e poeta Franciscus Plante, do médico e naturalista Willem Piso, do astrônomo e naturalista George Marcgrave, dos pintores Frans Post e Albert Eckhout, do médico Willem van Milaenen, dentre outros. Durante o seu governo pôde ainda contar com os serviços de nomes de relevo, como o humanista Gaspar Schmalkalden, do pintor Zacharias Wagener e do arquiteto Pieter Post, que se integraram em datas posteriores. Chegando ao Brasil, o conde de Nassau procurou, de imediato, estabelecer a segurança da colônia. Reunindo um exército, com ele partiu em direção ao sul de Pernambuco, conseguindo as vitórias do Comandatuba e Porto Calvo, o que obrigou o comandante das tropas luso-brasileiras, conde de Bagnuolo, cruzar o rio São Francisco e retirar-se na Bahia. Suspendendo a marcha, o conde de Nassau firmou na margem esquerda do rio São Francisco o limite sul da conquista, fundando a vila de Penedo e o forte Maurício. Para consolidar a conquista, pôde o conde de Nassau, em consonância com os Altos e Secretos Conselheiros, dedicar-se à tarefa do restabelecimento econômico da colônia, procurando, de início, restaurar a indústria açucareira que, com o consequente abandono dos engenhos pelos proprietários luso-brasileiros, com a fuga dos escravos e os estragos da guerra, estava em ruínas. |
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Durante a administração de
Maurício de Nassau, um surto de progresso tomou conta do Brasil
Holandês, cujas fronteiras foram estabelecidas do Maranhão à foz do São
Francisco. O Recife passou por inúmeros melhoramentos e testemunhou
vários pioneirismos, como a instalação do primeiro observatório
astronômico das Américas. Uma nova cidade foi construída na ilha de
Antônio Vaz, onde os franciscanos haviam estabelecido, em 1606, o
convento de Santo Antônio. A nova urbe, projetada por Pieter Post, um
dos principais representantes, ao lado de Jacob van Campen, do
classicismo arquitetônico nos Países Baixos, recebeu a denominação de
Cidade Maurícia, em 17 de dezembro de 1639, a Maurits Stadt dos
holandeses, cujos mapas, aspectos e panorama aparecem na obra de Gaspar
Barleus, publicada em Amsterdam e em outras produções artísticas da
época.
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Engenho com Capela, 1667 de Frans Post |
Aos melhoramentos
urbanísticos, inclusive a construção dos palácios de Friburgo
(conhecido popularmente como Palácio das Torres) e a casa da Boa Vista,
de um horto zoobotânico, de um segundo observatório astronômico,
situado no Palácio de Friburgo, de canais e viveiros, a construção do
templo dos calvinistas franceses, a instalação de duas pontes em
grandes dimensões - a primeira ligando o Recife à Maurícia e a outra
ligando esta última ao continente -, vieram juntar-se os trabalhos dos
artistas que faziam parte da comitiva. Intensa produção de uma arquitetura não religiosa, de pinturas e desenhos documentando a paisagem, urbana e rural, retratos, figuras humanas e de animais, naturezas-mortas, serviram para documentar e divulgar esta parte do Brasil em todo o mundo. Estudos sobre a flora, a fauna, a medicina e os naturais da terra, bem como observações astronômicas e um detalhado levantamento cartográfico da região, atestam a importância da presença de Maurício de Nassau à frente desta missão de artistas e cientistas. Era o Brasil Holandês, à época do governo do conde de Nassau, uma democracia racial ascendente formada não só de holandeses mas de franceses, flamengos, italianos, belgas, alemães e uma infinidade de judeus, oriundos da Península Ibérica e do norte da Europa, que para aqui vieram e deixaram descendentes. Ainda sob o seu mecenato foram elaborados preciosos conjuntos de mapas do Brasil Holandês e de regiões da África. Os primeiros, formados pelo conjunto de George Marcgrave, reaparecem, em 1659 e 1667, constituindo um grande painel-mural com ilustrações de Frans Post. |
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Historia Naturalis Brasiliae, 1648 |
Em dezembro de 1640, após 60 anos de dominação espanhola, Portugal recuperou sua independência, sagrando-se D. João IV de Bragança, seu novo rei. Em função do contexto geral da política europeia, isto certamente traria mudanças nas relações luso-flamengas. Foi realmente o que ocorreu, com a assinatura, em junho de 1641, de um tratado de amizade e paz entre Portugal e Holanda. Estabelecia este documento que as disputas coloniais entre ambos os países sofreriam uma trégua de dez anos sem ataques de parte a parte. Tal
dispositivo, entretanto, não foi observado por Nassau: deixando de lado
a trégua, atacou Angola - tomando São Paulo de Loanda - e a ilha de São
Tomé (também na África) em 1641; anexou, no mesmo ano, o Maranhão,
aumentando grandemente o território brasileiro controlado pelos batavos. |
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Planta do Porto de Pernambuco em 1639 de Johannes
Vingboons |
1645 -
Inicia-se o movimento chamado Insurreição Pernambucana. O primeiro foco rebelde apareceu no Maranhão, mas logo depois alastrava-se para Pernambuco - que acabou sendo o principal centro da insurreição - onde a revolta possuía, nas figuras de André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira (este último um dos mais ricos latifundiários da região) os seus principais líderes. A eles logo se juntaram outros elementos importantes, como o negro Henrique Dias e o indígena Filipe Camarão. Depois de algumas vitórias iniciais, a guerra caiu num impasse, que se estendeu por vários anos: os holandeses dominavam o mar e reabasteciam sem empecilhos os seus companheiros sitiados, mas não conseguiam afastar os insurgentes de suas posições Em 19 de abril de 1648 travou-se a primeira batalha dos Guararapes, na qual os rebeldes, ainda que inferiorizados em número, conseguiram infligir pesada derrota aos flamengos. Dez meses depois, no mesmo local travava-se segunda batalha, resultando em outra vitória para os brasileiros. Isto convenceu os holandeses de que seria impossível levantar o cerco da cidade, mas não modificou, de forma nenhuma, a situação: continuavam os batavos sem poder sair de Recife e os brasileiros sem poder aí entrar. Um fato decisivo veio, entretanto, transformar o contexto da luta. Trata-se de um fato externo, a chamada "guerra de navegação", que eclodiu em 1652 entre a Holanda e a Inglaterra. O "Lord Protector" da República inglesa, Oliver Cromwell, entrara na guerra com as Províncias Unidas, numa clara disputa pela hegemonia marítima e comercial na Europa. Isto não só obrigou a Holanda a desviar amplos recursos para enfrentar os ingleses, como determinou, inclusive, uma ajuda inglesa aos revoltosos pernambucanos, traduzida em armas, munições e dinheiro. |
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Por outro lado, o
governo português sentiu-se estimulado a aumentar a ajuda aos que
tentavam expulsar os invasores, enviando, em 1653, uma frota de guerra,
comandada por Pedro Jaques de Magalhães, com este objetivo.
Enfraquecidos pelas derrotas diante dos ingleses, cercados por terra e por mar, não restou aos batavos senão capitular. Em 26 de janeiro de 1654 era assinada a rendição. O reconhecimento oficial da perda de sua soberania no Brasil foi feito pela Holanda apenas em 1661, através da Paz de Haia. A relação diplomática e comercial entre a Holanda e o Brasil, interrompida desde 1654 - data da capitulação holandesa no Recife -, só voltaria a se restabelecer em 1825, com a abertura do primeiro Consulado holandês, no Rio de Janeiro. No final do século, começam a chegar os primeiros imigrantes, mas somente em 1911 funda-se a primeira colônia agrícola holandesa no Brasil, localizada no município paranaense de Carambeí. A imigração se intensifica após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos agricultores e criadores de gado deixam a Holanda e vêm em busca de um futuro promissor nas cooperativas agrícolas de São Paulo e paraná. Hoje, há perto de cinquenta empresas holandesas operando no Brasil. Situadas em sua maioria no estado de São Paulo, elas concentram a atuação nos setores químico e farmacêutico, petroquímico, da eletroeletrônica e da engenharia, da agropecuária e na indústria alimentícia, além de transporte, embalagens e do comércio varejista. |
Fontes : Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale- Petrópolis: Editora Vozes, 1999
Tachos e panela: historiografia da alimentação brasileira / Claudia Lima. - 2ª edição - Recife: Ed. da Autora, 1999
Projeto Caixa Populi: Etnias / Wladimir Catanzaro - São Paulo: Caixa Econômica Federal, 1999.
Presença holandesa no Brasil / Ulysses Pernambucano de Mello, O Brasil Nassoviano / Leonardo Dantas Silva e Holandeses no Brasil / Anton Berden in libreto da exposição "O Brasil e os Holandeses" de 04 de outubro a 12 de novembro de 1999 em São Paulo
Brasil História: texto e consulta - 1 Colônia / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão, - 3ª ed. - São Paulo: editora Brasiliense, 1979
Fotos de Bert Verhoeff / Cafi / Daniel Berinson / Pedro Oswaldo Cruz
Gif animado da Animation factory
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